Vale a pena começar essa reflexão pela conhecida passagem bíblica da mulher virtuosa: “Quem encontrará mulher de valor? Vale muito mais do que pérolas. Nela confia seu marido, e a ele não faltam riquezas. Traz-lhe felicidade, não a desgraça, todos os dias de sua vida. (…) Estende a mão ao pobre, e ajuda o indigente. (…) Está vestida de força e dignidade, e sorri diante o futuro. Abre a boca com sabedoria e sua língua ensina com bondade.” Será que se pode pensar que ainda é possível encontrar mulheres virtuosas como essa citada pela Palavra ou será que quando Jesus voltar “ainda encontrará fé sobre a Terra?”
Podemos perceber claramente na sociedade atual quão deturpada está a nossa visão diante do valor da mulher, por isso mesmo eu quis começar mostrando a mulher ideal do ponto de vista bíblico que em nada se compara ao sucesso pelo empoderamento pregado aos quatro cantos nesse tempo. De fato, Kierkegaard bem falou: “Odeio toda essa conversa sobre a emancipação da mulher. Deus não permita que isso se dê. (…) Nem o mais vil dos sedutores pensaria numa doutrina mais perigosa para a mulher, pois, depois de fazê-la crer nisso [no que é apregoado pelas feministas], ela estará completamente em suas mãos, à mercê das vontades dele, e não será para ele nada além de objeto de suas fantasias, isso quando, como mulher, ela poderia ser tudo para ele.” E até Nietzsche falava que essa emancipação seria a perda de toda feminilidade que ainda existe nas mulheres.
Tendo em vista que a maior causa de toda deturpação da missão da mulher foi o desejo de “igualdade” fazendo com que se tornassem cada vez mais “masculinizadas” em busca do “seu espaço”, o que fazer para retornar ao estado que Deus sonhou para o homem e a mulher e que a cultura judaico-cristã disseminou por séculos a fio? De fato, o homem e a mulher são iguais em dignidade de filhos de Deus e imagem e semelhança do Criador; mas também é real que eles são diferentes física, biológica, estruturalmente, assim como diante da sua missão na sociedade e no mundo. Desçamos no entendimento do papel da mulher partindo de princípios como o serviço, a delicadeza, a maternidade, a receptividade e o amor.
Tenho certeza que todos as virtudes citadas acima e que são identificadas como eminentemente femininas podem gerar um certa “repulsa” se você cresceu com ideias feministas de progresso da mulher a todo custo, mas gostaria de lembrar que os nossos escritos citam que “O verdadeiro progresso é interior” e as virtudes são seu fruto mais proeminente!
Diante do mundo atual, o serviço é visto como algo degradante, como se as melhores pessoas fossem aquelas que têm algum merecimento em serem servidas. “O serviço é visto como antidemocrático e humilhante; e a humildade é uma virtude que já não tem lugar no mundo secularizado”, como diz Alice Von Hildebrand. A autora também reflete que essa maneira de pensar deixa de levar em conta o que o próprio Cristo nos falou, “Não vim para ser servido, mas para servir.” A virtude da humildade que o serviço supõe é uma das mais belas encontradas em Nosso Senhor e na Virgem Maria, em quem nós devemos nos inspirar para adquirir, já que o “manso e humilde de coração” é o único que pode nos dar essa graça, pela intercessão daquela que é a “serva do Senhor”. Se Jesus e Maria foram os primeiros a se colocarem a serviço, porque ainda rejeitamos tanto viver esse dom?
Um dos grandes privilégios que o Criador deu às mulheres foi o dom da maternidade, a graça de carregar duas almas em seus corpos durante a gestação.
Mas, há de notar que isso só foi possível diante da virtude feminina da receptividade! Há muitos que preferem morrer a ter uma dívida com outrem, a aceitar receber algo; e é muito próprio dos homens não quererem aceitar ajuda em momentos difíceis. Sobre isso, Kierkegaard fala da “humilhação de tornar-se um nada nas mãos daquele que oferece ajuda, para quem todas as coisas são possíveis.”
Para a mulher, é próprio ser esse receptáculo, desde a sua natureza biológica, já que é ela quem recebe a semente que será fecundada e pode dar ao seu marido, depois de 9 meses, o fruto dessa receptividade, que é um ser humano com alma imortal e feita à imagem e semelhança de Deus. Esse é o maior fruto da receptividade feminina que também pode ser visto na simplicidade do dia-a-dia, ao aceitar o consolo, o cuidado, o carinho e a proteção daquele que foi colocado ao seu lado, mas também dos amigos e irmãos que lhes são dados. Quão belo é perceber a docilidade da mulher que se deixa ser cuidada e não se corrompe diante do pensamento atual da autossuficiência. Ela tem sempre em mente que o depender é próprio da natureza humana, sendo ele de Deus e da sua Graça ou do outro que lhe oferece ajuda.
A maternidade é dada a todas as mulheres; como diz Gertrud Von Le Fort em seu livro A mulher eterna. “Ser mãe, ter o sentido maternal, significa voltar-se especialmente para os mais necessitados, debruçar-se amável e caridosamente sobre cada coisa pequena e fraca sobre a face da terra.”
Assim como as mães biológicas em tudo buscam suprir as necessidades de seus frágeis bebês, é próprio da mulher a piedade que induz ao amor! Nossa Senhora, na passagem das Bodas de Caná, busca também suprir as necessidades dos noivos diante da falta do vinho, e lhes oferece o melhor dos vinhos que só Seu Filho pode prover. A missão e o chamado da mulher contemporânea poderiam ser simplificados na capacidade de amar e de fomentar no homem esse chamado, humanizando-o; já que todo o gênero humano, em sua dignidade, é capaz de amar e foi criado precisamente para isso.
Desejo concluir essa reflexão com uma frase que eu considero célebre do livro O privilégio de ser mulher, já citado diversas vezes nesse excerto: “Um dia, todas as realizações humanas serão reduzidas a um monte de cinzas. Por outro lado, todas as crianças nascidas de mulher viverão eternamente, pois a elas foi concedida uma alma imortal, feita à imagem e semelhança de Deus.”