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O sacerdote Aldo Trento é, desde 1989, um dos missionáriosmais conhecidos da Fraternidade de São Carlos Borromeu do Paraguai. Ele tem 62anos e é responsável por uma clínica para doentes terminais em Assunção.
Em 2 de junho de 2008, o presidente da República Italiana,Giorgio Napolitano, havia lhe conferido o título de Cavaleiro da Ordem daEstrela da Solidariedade. No dia 11 de fevereiro de 2009, o sacerdote devolveuo reconhecimento a Napolitano, por não ter assinado o decreto que teria detidoo protocolo médico para Eluana Englaro.
“Como posso eu, cidadão italiano, receber semelhante honraquando o senhor, com sua intervenção, permite a morte de Eluana, em nome daRepública Italiana?”, pergunta.
“Tenho mais de um caso como o de Eluana Englaro – relataAldo Trento. Penso no pequeno Victor, um menino em coma, que aperta os punhos;a única coisa que fazemos é dar-lhe de comer com a sonda. Diante destassituações, como posso reagir frente ao caso de Eluana?”
“Ontem me trouxeram uma menina nua, uma prostituta, em coma,deixada na porta de um hospital; ela se chama Patrícia, tem 19 anos; nós alavamos e limpamos. E ontem ela começou a mexer os olhos”, afirma.
“Celeste tem 11 anos, sofre de leucemia gravíssima, não haviasido tratada nunca; trouxeram-na para mim a fim de que fosse internada. HojeCeleste caminha. E sorri.”
“Levei ao cemitério mais de 600 destes enfermos. Como sepode aceitar semelhante operação, como a que se fez com Eluana?”
“Cristina é uma menina abandonada em um lixo, é cega, surda,treme quando a beijo, vive com uma sonda, como Eluana. Não reage, só treme, maspouco a pouco recupera as faculdades”, acrescenta.
“Sou padrinho de dezenas destes enfermos. Não me importa suapele putrefata. O senhor teria que ver com que humildade meus médicos tratamdeles.”
Aldo Trento diz experimentar uma “dor imensa” pela históriade Eluana Englaro: “É como se me dissessem: agora levaremos embora seus filhosenfermos”.
Para o missionário, “o homem não pode se reduzir à questãoquímica”.
“Como pode o presidente da República oferecer-me uma estrelaà solidariedade no mundo? Assim que recebi a estrela, eu a levei à embaixadaitaliana no Paraguai”.
“Aqui o racionalismo cai, deixando espaço ao niilismo –comenta. Dizem-nos que uma mulher ainda viva já estaria praticamente morta. Masentão é absurdo também o cemitério e o culto à imortalidade que animam a nossacivilização.”