Desde o inicio dessa pandemia, o nome “corona”, que significa “coroa”, chamava minha atenção. De imediato me lembrei da passagem do Apocalipse de São João no qual aparece no céu um sinal, uma Mulher vestida de sol e na cabeça uma Coroa de doze estrelas (Ap 12, 1). Esta mulher, que está grávida e em dores de parto para dar à luz um Filho, em meio à perseguição do “Dragão”, símbolo do demônio e do mal que assola a humanidade, é a Igreja que faz nascer novos filhos na fé em meio às dores e aos sofrimentos de cada tempo.
Não tem como não relacionar essa passagem bíblica também com a figura da Virgem Maria, que é a coroa da nova criação de Deus. Aquela que, por meio da sua intercessão e maternidade, gera novos filhos para a vida no Céu. Antes mesmo de desencadear a pandemia, o Espírito Santo já me inspirava a recitação do Santo Rosário todos os dias em favor, sobretudo, daqueles que neste tempo vivem na escravidão do pecado.
Nesse sentido, Nossa Senhora sempre se antecipa diante de acontecimentos difíceis da história da humanidade. Observamos isso no início do século passado em Fátima (Portugal), quando apareceu para os três pastorezinhos pedindo que intercedessem e fizessem penitência pela conversão dos pecadores. Não é por acaso que muitos males foram vencidos naquele período em que tantas guerras e sofrimentos aconteceram na humanidade.
Nossa Senhora e o Espírito Santo
A recitação do Santo Rosário, que é uma “coroa” oferecida à Nossa Senhora por meio da contemplação do rosto de Cristo, tornou-se uma arma poderosa contra as forças do mal. Não é por acaso também que a Igreja e a Comunidade, prevendo os desafios e as batalhas que viveríamos, nos incentivou à devoção à Virgem Maria e à invocação de São Miguel Arcanjo.
Outro sinal que Deus nos deu através da sua Palavra foi a figura do Espírito Santo como “Defensor”. Diante de um inimigo “invisível”, como é o “vírus corona”, faz necessário sermos resguardados por um “Outro Defensor” (Jo 16,7), enviado por Jesus e pelo Pai para nos proteger desse terrível mal. Precisávamos daquele que é “Senhor e dá a Vida”, segundo a profissão de fé do Credo Niceno-constantinopolitano. Na verdade, mais que do que uma doença que mata o corpo, o Espírito Santo veio para nos preservar do vírus do pecado.
Verdadeira devoção ao Espírito Santo
Não me recordo por que comecei a ler a história de uma Beata que viveu no seculo XIX chamada Ellena Guerra, que percebendo o afastamento das pessoas de uma verdadeira devoção ao Espirito Santo, sente a inspiração de escrever algumas cartas ao Papa Leão XIII, pedindo a ele que exortasse os cristãos da época a um retorno à vida no Espirito Santo.
Atendendo a inspiração da Beata, o Papa Leão XIII incentivou a devoção ao Espírito Santo por meio de alguns escritos, como a Encíclica dedicada ao Espirito Santo de 1897 “Divinum Illu Munus” e outros documentos que incentivavam os fiéis a uma devoção mais viva ao Espírito Santo, incluindo uma oração composta pela Santa que pedia os dons do Espírito Santo, denominada “Conona dello Spirito Santo” (coroa do Espirito).
O Papa Leão XIII consagrou o século XX ao Espírito Santo e desde então surgiu uma verdadeira “Renovação da Igreja” com Concílio Ecumênico Vaticano II e o surgimento da Renovação Carismática Católica. Sinto que este também é um tempo de derramamento de graças do Espírito Santo sobre a face da Terra. Uma coincidência deste tempo é que, por meio da Liturgia da Igreja, a Festa de Pentecostes aconteceu no Domingo dia 31 de Maio, mesmo dia em que normalmente se celebra a Festa da Coroação de Nossa Senhora.
Verdadeiras testemunhas de Cristo
Coincidências ou sinais. Vejo que Deus está agindo na história da humanidade por meio do seu Espírito. Vejo que Deus está preparando uma nova geração de cristãos, batizados, consagrados pelo Espírito e enviados pelo mundo para testemunhar a Verdade do Evangelho em meio às perseguições e aos desafios do presente tempo.
O Defensor, assim como nos primeiros tempos da Igreja, prepara um povo novo por meio desta quarentena, que nos faz lembrar os quarenta dias que os discípulos estiveram no cenáculo à espera da promessa (At 1,5). Essa espera que muitos de nós vivemos foi o meio que Deus providenciou para nos preparar, como família em nossas casas, para vivermos um novo Pentecostes de Amor. O mundo precisa crer em Deus, precisa acreditar no amor.
Somos chamados neste tempo a professar uma fé mais viva, a testemunhar a Verdade do amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. Assim por meio da Virgem Maria e do Espírito Santo, somos chamados a testemunhar o Amor de Deus no mundo. Inflamados do Amor Esponsal, nos tornamos verdadeiras testemunhas de Cristo por meio de uma vida santa e de uma criativa evangelização por meio dos dons e carismas do Espírito ao ponto da nossa vida torna-se uma martyria (coroa) até o fim.
Padre Paulo Henrique
Comunidade de Vida