À primeiravista, pode parecer que as razões contrárias ao aborto provocado sejamexclusivamente da alçada da religião. Uma reflexão mais acurada, porém,demonstrará que elas têm raízes na própria ciência. É indispensável analisar osargumentos científicos. O primeiro passo é a descoberta do verdadeirosignificado do zigoto. Segundo os ilustres embriologistas Moore e Persaud, ozigoto e o embrião inicial são organismos humanos vivos, nos quais já estãofixadas todas as bases do indivíduo adulto. Sendo assim, não é possívelinterromper qualquer ponto do contínuo — zigoto, feto, criança, adulto, velho —sem causar danos irreversíveis ao bem maior, que é a própria vida.
Reconhecemoso grande valor da Teoria Neodarwiniana. Mas ela é insuficiente para explicar aevolução como um todo, porque tem no acaso um dos seus pilares. Acreditamos quea Teoria do Planejamento Inteligente, que não tem por base o acaso, dispõe deargumentos científicos bem mais sólidos para explicar a evolução dos seresvivos.
Descobertas recentes da neurocientista Candace Pert demonstram que a memóriaestá presente não somente no cérebro, mas em todo o corpo, através da ação dosneuropeptídeos, que fazem a interconexão entre os sistemas nervoso, endócrino eimunológico. Outras pesquisas já detectaram a presença, no zigoto, de registros( imprints ) mnemônicos próprios, que evidenciam a riqueza da personalidadehumana, manifestando-se muito cedo, na embriogênese. O conjunto destestrabalhos demonstra a competência do embrião: capacidade para autogerir-sementalmente, adequar-se a situações novas; selecionar situações e aproveitarexperiências.
Se unirmos a Teoria do Planejamento Inteligente a essas descobertas,concluiremos que a vida do embrião não pertence à mãe, ao pai, ao juiz, àequipe médica, ao Estado, mas exclusivamente a ele mesmo. Há, pois, fortesrazões científicas para ser contra o aborto, mesmo do anencéfalo. Aprendemos,com a genética, que a diversidade é nossa maior riqueza coletiva. E o feto,mesmo portador de grave deficiência, faz parte dessa diversidade e deve serpreservado e respeitado.
A mulher que gera um feto deficiente precisa de apoio psicológico, direito quena prática não lhe é assegurado. Sem ajuda para trabalhar seu sentimento deculpa, ela pode exacerbá-lo pela incitação à violência contra o feto. Seriaimportante inclinar seu coração à compaixão e à misericórdia, mostrando-lhe oreal significado da vida.
por Marlene Nobre, médica