Quantos rostos há por trás deste nome: Acamp’s! Rostos de homens e mulheres; rostos de jovens; rostos de jovens há mais tempo (o primeiro Acamp’s aconteceu há trinta anos!); rostos com barba; rostos sem barba; rosto com piercings e até com tatuagens; rostos morenos; rostos brancos; rostos de irmãos que até hoje estão entre nós, pois, após a sua experiência, descobriram o seu lugar na Igreja e consagraram a sua vida a Deus como Comunidade de Vida ou Comunidade de Aliança; rostos de irmãos que não estão mais entre nós (lembramos do Ronaldo, do Reinaldi, da Talita, e de tantos outros que hoje estão no céu e que gastaram as suas vidas por amor aos jovens); rostos do Brasil inteiro: rostos cearenses, cariocas, brasilienses, paraibanos, paranaenses, potiguares, e muitos outros; rostos de jovens do mundo inteiro: rostos uruguaios, paraguaios, chilenos, peruanos, bolivianos e equatorianos; rostos húngaros, franceses, italianos e alemães; rostos argelinos, tunisianos, cabo-verdianos e moçambicanos.
Sim, definitivamente, muitos e muitos variados são os rostos que existem por trás do nome Acamp’s. No entanto, todos estes rostos têm algo em comum: são rostos de pessoas que foram transformados pela experiência com o amor de Deus. São rostos que irradiam alegria; rostos em cujos olhos brilha a esperança; rostos que foram lavados pelas lágrimas; rostos que, sem mérito algum da sua parte, foram profundamente transformados pelo amor de Deus.
Lugar que transforma a tristeza em alegria
Um jovem pergunta “o que é o Acamp’s?”, e recebe a resposta mais espontânea possível: “um acampamento”. Em seguida, o jovem, ainda sem entender, pergunta: “e o que é feito no acampamento?” A resposta mais óbvia é: “acampar”. Pode parecer sem sentido (e até um tanto grosso) dar uma resposta daquela, no entanto, ela esconde o que de fato acontece no Acamp’s.
Efetivamente, no Acamp’s, nós acampamos. Numa experiência radical, deixamos tudo (o conforto da nossa casa; os cuidados dos nossos pais; as preocupações da faculdade; a freneticidade das redes sociais) para durante cinco ou seis dias dormir em tendas, acordar cedo, fazer longas filas para almoçar, torcer pela nossa família na hora do lazer e fazer muitos amigos.
Parece loucura gastar as suas férias fazendo essas coisas (e de fato, o é!), porém quem já participou do Acamp’s sabe que quando se volta em casa se sente saudade daquilo que no primeiro dia nos fez pensar “meu Deus, onde eu vim parar?” Este fenômeno só pode ter uma explicação (além de ser loucura mesmo): isto acontece porque não acampamos sozinhos. Jesus acampa conosco! A alegria de conhecer Jesus e o seu amor transforma tudo! Transforma a tristeza em alegria, a mágoa em perdão, a morte em vida, o isolamento em amizade, as diferenças em comunhão!
Moysés Azevedo conta como foi o primeiro Acamp’s:
“Eu me lembro do nosso primeiro Acamp’s. um caos! Foi um caos! Foi maravilhoso… mas foi um caos. Eu me lembro que, na primeira noite, eu não tinha nem coragem de me levantar, porque o dia anterior tinha sido caótico. (…) [Antes do Acamp’s] eu tinha ido a São Paulo, e conversando com um padre, eu disse: “nós vamos fazer um acampamento de jovens numa fazenda”. O padre disse: “você é louco? Vai colocar um monte de rapazes e moças trancados numa fazenda? Como é que você vai fazer? Você é louco!” E aí, na chegada, foi um caos. Eu passei a noite sonhando que eu era louco mesmo. Eu me lembro de que, quando me levantei, estava tudo já montado, e o Senhor disse uma coisa no meu coração: É. Vocês montaram as tendas de todos, mas não montaram a Minha. Montem primeiro a Minha. Montem primeiro a Minha”. No outro Acamp’s, fizemos a tenda do Senhor com o Santíssimo Sacramento, porque Ele queria acampar no meio de nós”
A “tenda” tem sentido bíblico e espiritual
Como dissemos, no Acamp’s, nós acampamos, no entanto, a tenda onde dormimos ou a tenda onde acontecem os momentos centrais do evento, não são a principal “tenda” do Acamp’s. O fato de “acamparmos” ou “ficarmos em tendas” não é a toa: a “tenda” tem um amplo sentido bíblico e espiritual.
A “tenda” é sempre compreendida na linguagem bíblica como o lugar do encontro com Deus. O vocábulo hebraico para “tenda” é ohel (אֹהֶל) e aparece trezentas e quarenta e cinco vezes no Antigo Testamento, sendo a maioria pertencente ao Pentateuco. Isto porque o povo de Israel era nômade, logo, habitavam em tendas. Deste modo podemos ver o termo ohel empregado em situações cotidianas (cf. Gn 25,27; 31,33; Ex 18,7).
No entanto, já no Gênesis, a “tenda” começa a adquirir um valor Sagrado, quando o Senhor aparece a Abraão enquanto ele estava “sentado na entrada da tenda”(Gn 18,1). Este episódio é conhecido como a aparição de Mambré (cf. Gn 18,1-16) e, nele, Deus se manifesta na forma de três anjos. O Senhor perguntou a Abraão onde estava a sua mulher e ele respondeu: “na tenda”(Gn 18,9), e imediatamente depois, o Senhor anuncia que a sua mulher terá um filho (cf. gn 18,10), mesmo na velhice.
Já no livro do Êxodo, a “Tenda” adquire o seu valor pleno enquanto lugar de encontro com Deus, porque ela é o lugar onde Deus se encontra com Moisés e fala. O Senhor pede a Moisés:
“Faze-me um santuário para que eu possa habitar no meio deles” (Ex 25,8) e mais tarde diz a Sagrada Escritura: “quando Moisés se dirigia para a Tenda, todo o povo se levantava, cada um permanecia de pé, na entrada da sua tenda, e seguia Moisés com o olhar, até que entrasse na Tenda. E acontecia que, quando Moisés entrava na tenda, baixava a coluna de nuvem, parava à entrada da Tenda, e Ele falava com Moisés. O Senhor, então, falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo”(Ex 33,8-9.11).
A Arca da Aliança é colocada na Tenda. “Inicialmente a Tenda é o santuário itinerante do deserto; imitando a moradia dos nômades, ela devia contar a Arca, aparecendo assim como a morada de Deus.”
Depois que o povo de Deus se estabelece em Jerusalém (este deixa de ser nômade), a tenda continua sendo lugar da presença de Deus e, consequentemente, lugar de encontro com o Divino. No livro de Josué a Tenda é mencionada como o ponto de congregação de Israel (cf. Js 18,1; 19,51). Já o livro de Samuel conta que, quando a Arca da Aliança foi recuperada pelo exército de Davi (cf. 2Sm 1,1-12) e levada de volta para Jerusalém, “a Arca do Senhor foi levada e depositada no seu lugar, no meio de tenda que Davi tinha feito armar para recebê-la, e Davi ofereceu holocaustos na presença do Senhor, bem como sacrifícios de comunhão” (2Sm 6,17).
O lugar onde Cristo quer “acampar”
Já no Novo Testamento, a “tenda” adquire um valor todo particular. Já haviam passado séculos que o povo de Israel não era nômade e do exílio na Babilônia, pelo que a moradia em tendas não era comum.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio habitar no meio dos homens. A Encarnação do Verbo é, juntamente com o mistério pascal, o evento mais importante da nossa fé. O Cristo precisou se encarnar antes de morrer e Ressuscitar, não apenas no sentido cronológico, mas no sentido teológico: Jesus se encarnou para morrer por nós.
O prólogo do Evangelho de João descreve bem este fato importantíssimo e sublime: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). O vocábulo grego que o evangelista emprega é esquenosen (ἐσκήνωσεν), conjugação do verbo skénoó (σκηνόω), que significa literalmente “acampar”, “armar a tenda”. Isto nos é dado pela raiz do verbo que é skené (σκηνή) que significa “tenda”.
No Acamp’s, Deus vem habitar entre nós! Ele deseja “acampar” no meio de nós! Por isso, a tenda onde dormimos ou a tenda onde acontecem os momentos centrais do evento, não são a principal tenda. A tenda mais importante do Acamp’s é aquela onde Deus vem “acampar”.
E qual é essa tenda? Alguns podem estar pensando: “a capela” e isso estaria correto! No entanto, não é só a capela, pois, embora a presença real e viva de Cristo eucarístico esteja na capela, Ele não se limita a permanecer na capela. O lugar onde Cristo quer “acampar” é no coração de cada jovem que participa do Acamp’s! A vida de cada jovem que vai para o acampamento é o lugar do encontro com Cristo e é nele que Jesus “monta a sua tenda”, ou seja, onde Ele “habita”.
Deus prefere as obras que não passam
O Salmo 87 (86) diz: “o Senhor ama as portas de Sião mais do que as casas de Jacó”(vv.1-2). Ora, Sião é o monte onde foi construído o Templo em Jerusalém e as suas portas representam a edificação da Cidade ao redor do Sagrado, de modo que as portas de Sião representam a Cidade Santa de Jerusalém. As casas de Jacó remetem ao tempo de Jacó, em que os israelitas ainda eram nômades; os nômades moram em tendas, logo, as casas de Jacó são as tendas.
As tendas, naturalmente, guardam um certo caráter de transitoriedade, ou seja, elas passam. Com efeito, elas são confeccionadas para ser desmontadas. Dizer que o Senhor ama as portas de Sião mais do que as casas de Jacó quer dizer que Deus prefere as obras que não passam, como os edifícios e construções, acima daquelas que passam, como as tendas. Isto se refere à obra de eternidade que Ele realiza em nós.
Certamente, no Acamp’s ficamos em tendas, e Deus vem “acampar” em nós. No entanto, Ele não deseja que o Acamp’s dure apenas cinco ou seis dias, mas para toda a vida! Para toda a eternidade! Por isso, o acampamento é “porta de salvação”, ou seja, entrada na eternidade!
Com efeito, responder à pergunta “o que é feito no acampamento?” com a palavra “acampar”, pode parecer sem sentido (e até um tanto grosso), no entanto, ela esconde o que de fato acontece no Acamp’s: armamos as nossas tendas; Jesus também arma a sua; nós temos um encontro com Ele; Ele arma a sua tenda em nós e faz em nós a sua morada, para sempre!
Serviço
Acamps On
Quando: 16 a 18 de julho de 2021
Onde: YouTube Comunidade Católica Shalom
Inscrições: Site do Acamps On
Instagram oficial: @juventudesh_