Hoje enviamos e-mail, mensagens em aplicativos, telefonamos, mas, há pouco mais de um século e meio, a forma de comunicação mais fácil à distância eram as cartas. Esse foi um instrumento valioso que Santa Teresinha do Menino Jesus utilizou e, graças aos pesquisadores, o acervo foi coletado, catalogado e, hoje, colocado à nossa disposição.
Trata-se de um rico material, cuja leitura deixa transparecer ainda mais a limpidez do ensinamento da pequena freira feita doutora pela Igreja, tamanha a sabedoria contida na ciência da Pequena Via, arte para além da teoria, encarnada na vida da filha dos Martin.
A edição das Obras Completas da Santa, publicada em 2016, traz 266 missivas, entre bilhetes, dedicatórias e textos preciosos sobre a espiritualidade e a vida da carmelita, padroeira das Missões. “As cartas de Santa Teresinha são a expressão mais viva que de sua alma se possa ter. Ao escrever para seus correspondentes, Teresa perde toda e qualquer coibição, torna-se livre e fala tal como ela era; fala sem rodeios, sem preocupações de ser lida”, escreve o organizador das Obras Completas, edição 2016, da Paulus Editora.
É justamente esta liberdade de escrita que torna a leitura muito agradável. Nas cartas, Teresinha prega sua doutrina, expõe sua vida e todo o seu pensamento espiritual, de forma simples e direta. “Nos manuscritos autobiográficos, nossa santa, enquanto vai narrando a sua própria história, deixa escapar a apresentação da sua ‘pequena doutrina’; nas Cartas, ao contrário, o foco principal é exatamente a sua ‘pequena doutrina’, pois Teresinha revela como vive sua espiritualidade no concreto das vicissitudes de sua vida”, observa-se em outro trecho da apresentação de suas Cartas.
Deste modo, quem já leu História de uma Alma seria muito enriquecido com a leitura de suas Cartas. Vale também o contrário, pois os textos se complementam. As missivas trazem o sofrimento como um dos temas principais. A Santa explica em detalhes a razão do valor do sofrimento, uma preciosidade aplicável na vida comum de qualquer pessoa, em qualquer tempo.
Teresinha explica em suas cartas que o martírio é a expressão máxima do sofrimento e existem várias formas de vivê-lo. São nestes textos que ela explica o que é o “martírio do coração”, haja vista ela não poder gozar do “martírio de sangue”. Este martírio consiste na vivência das “contrariedades, desilusões, dissabores, cansaço, insensibilidade espiritual, o convívio comunitário, enfim, a cruz de cada dia ou, se quiser usar a expressão Teresiana, são as ‘picadas de alfinete'”, escreve.