“Jesus propôs-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu.O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: ‘Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?’.Disse-lhes ele: ‘Foi um inimigo que fez isto!’. Replicaram-lhe: ‘Queres que vamos e o arranquemos?’. ‘Não’ – disse ele –; arrancando o joio, arriscais tirar também o trigo.”(Mt 13, 24-29)
Muitas vezes, ao refletirmos sobre a potencialidade que possuímos para o mal temos o desejo de arrancá-la pela raiz, pois isso parece em um primeiro plano a melhor solução. Contudo, esquecemos de ponderar os riscos dessa atitude, já que remover o joio a qualquer custo nos fará gastar muito tempo trabalhando nele e isso trará um grande risco de esquecer da boa semente plantada, que caminha para dar bons frutos e necessita mais da nossa atenção.
Certa vez escutando uma homilia de um sacerdote amigo, fui persuadido por suas palavras quando meditando esse trecho do evangelho, ele dizia que nossa maior preocupação deve ser “Alimentar o trigo” e não remover o joio. Explicou a frase ao comentar acerca da beleza que é o trigo quando cresce, envelhece e dá fruto, morrendo. Ao contrário, o joio, por sua vez, não precisa de cultivo, nem de atenção, pois ele é como a erva daninha que por si só permanece sempre verdejante. Logo, o que medirá a diferença será exatamente como cultivamos o nosso trigo.
Cultivar e apreciar as coisas boas
Na sociedade globalizada em que vivemos hoje, encontramos muitas coisas que nos levam a uma autorreferencialidade e a uma centralização no nosso “eu”; a um narcisismo que pode acabar afogando nos em nós mesmos. Isso é real e perigoso, daí, porque precisamos olhar para dentro de nós, tendo Jesus como o centro para apreciar as maravilhas que Ele faz em nós a cada instante e desejar sim avançar rumo à santidade. Porém, se ao invés de olharmos para o nosso interior, fixarmos nos simplesmente em nosso ser “vil” e pequeno, como ele é, ficaremos como que presos em uma sala de espelhos e para onde olharmos, somente veremos a pior versão de nós mesmos.
Precisamos aprender a cultivar e apreciar as coisas boas que já trazemos conosco e usá-las em vista do outro. É para isso que cultivamos o trigo, para melhor amar a Deus e aos irmãos, caso contrário faremos crescer um ego super presunçoso e arrogante que deseja ver a melhor versão de si simplesmente por orgulho e vaidade. A única forma de sairmos dessa sala espelhada é fechar os olhos um pouco para si e deixar-se guiar pela voz do Espírito que nos fará ouvir a daqueles que clamam por serem amados, já que são as nossas relações com Deus e com os irmãos, o melhor lugar para aprendermos a cuidar do nosso trigo.
O que fará diferença no caminho de santidade ?
Em nosso interior trazemos vícios e virtudes, pecados e dons, mas o que realmente fará a diferença em nosso caminho de santidade é como estamos nos relacionando com tudo isso, ou seja, se permanecemos em uma vida ímpia (voltada para nós mesmos), centralizada em nossos males, ou se estamos cultivando as boas sementes que o Senhor plantou em nós? É isso, meus irmãos, que fará o joio na nossa alma deixar de ser visto, porque saibam, ele sempre estará lá, mas, contando sempre com a graça de Deus, teremos força advinda da relação com ele, para sufocar essa erva ruim. Faço minhas as palavras deste meu amigo e vos convido a “Alimentarmos o trigo”, com a beleza dos frutos que a nossa doação de vida pode gerar.
André Filipe
