Neste ano a Campanha da Fraternidade nos coloca diante da Amazônia, com sua vastidão e complexidade. Olhar a Amazônia sob o prisma da fraternidade se constitui em convite que logo nos desafia a perceber os múltiplos laços de interesses comuns que a realidade amazônica nos apresenta.
Como todos os anos, o tema da Campanha, desde o seu lançamento, vem ungido pelo acerto da escolha, e pela preciosa oportunidade de grandes consensos que ele cria a nível nacional. A Campanha da Fraternidade se tornou laboratório de causas comuns da sociedade brasileira.
Desta vez, o tema assume também uma clara dimensão mundial, pela coincidência com as apreensões diante das mudanças climáticas, que revelam sua indiscutível gravidade, e apontam para a urgência de sintonizar melhor com a natureza, se queremos assumir as responsabilidades que nos cabem com a vida em nosso planeta.
Pela primeira vez a Campanha assume um tema localizado geograficamente. Mas isto não significa que seus objetivos se limitam a uma região determinada, mesmo com a grande extensão que ela apresenta. A Amazônia merece, sim, toda a nossa atenção, pela importância que ela possui, no contexto brasileiro e mundial. Mas ela aponta para problemas que ultrapassam suas fronteiras geográficas.
Na verdade, a Campanha da Fraternidade, assumindo a Amazônia como tema, colocou sua realidade na moldura de um grande espelho. Olhando para ele, podemos compreender melhor a complexa realidade amazônica. Ela exerce um fascínio que atrai e encanta, pelo prodígio de vida que possui, e pela misteriosa harmonia que consegue realizar em meio a situações que escapam à compreensão de quem a olha superficialmente.
Mas olhando para este grande espelho do mundo, na moldura de suas fronteiras, acabamos nos reconhecendo melhor, e percebendo os desafios cotidianos que se colocam em todas as regiões, de respeito com a natureza, de conhecimento de suas leis, de cuidado com sua dinâmica, de responsabilidade na interação com ela.
Assim, a Campanha da Fraternidade nos convida a assumir melhor a Amazônica, com a riqueza que ela representa para o Brasil e para o mundo. Mas nos convida também a rever nossa relação com o ambiente em que nos encontramos, nos reeducando para respeitar suas características, percebendo melhor sua sintonia , que se constitui em contexto vital que possibilita a manutenção de suas potencialidades junto com o seu crescimento harmonioso.
É assim que nos damos conta que a Amazônia se constitui, antes de mais nada, num grande sistema de vida, num bioma rico em potencialidades, que precisa ser melhor conhecido, e manejado com mais responsabilidade.
Quando olhamos nosso planeta como berço de vida, é claro que nossa atenção se volta, prioritariamente, para a vida humana, ápice de todo processo vital nele existente. Também ao olhar para a Amazônia, a Campanha da Fraternidade centra suas atenções nos povos amazônicos, sobretudo os ancestrais, detentores de longa experiência de como conviver com a realidade amazônica.
Promovida pela Igreja, e proposta para toda a sociedade brasileira, esta Campanha sobre a Amazônia interpela a própria Igreja. Ela é chamada a assumir agora, com mais responsabilidade, sua presença na Amazônia, continuando a longa e benemérita ação de muitos missionários estrangeiros que até agora garantiram esta presença. Foi a presença da Igreja que, de certa maneira, desenhou as fronteiras da Amazônia brasileira. A continuidade desta presença é indispensável para a manutenção desta identidade.
Por sua vez, esta campanha alerta o país para as suas responsabilidades diante da Amazônia, ainda mais diante da inquietação internacional que ela suscita.
E como a Amazônia não é só brasileira, sua vasta realidade se torna excelente convite para a partilha de responsabilidades entre os países que partilham seu território.
Este o vasto leque de intenções desta providencial Campanha da Fraternidade.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Fonte: CNBB