Formação

Amor esponsal a Jesus Cristo

“O Espírito Santo começou a trabalhar em nossas almas e a levá-las ao cerne de nossa vocação: o amor esponsal a Nosso Senhor Jesus Cristo” (Estatutos CCSh)

comshalom

O amor esponsal a Jesus Cristo é o centro, a mola mestra da vocação Shalom em todas as suas expressões. Este amor, característico das almas a quem Jesus desposa, vive em nós com todas as suas exigências. Este é, sem dúvida, um presente especialíssimo do Espírito para uma comunidade que abriga casais, celibatários e sacerdotes. É uma “novidade do Espírito” que constantemente renova a Igreja com o poder do seu Amor: “Todos são chamados a possuir o amor esponsal, todos são almas esposas de Jesus. Todos devem buscar ser as virgens prudentes que esperam o momento das núpcias mantendo acesa a chama do amor em suas lâmpadas” ( Estatutos CCSh)

Ao dizermos “sim” à vocação Shalom, dizemos igualmente nosso “sim” ao amor incondicional a Jesus Cristo em sua paixão, morte e ressurreição e, como Ele e com Ele, nos dispomos a unir perfeitamente nossa vontade à vontade do Pai, seja como for, custe o que custar, pois “um coração inflamado por este amor tudo realiza, a tudo se dispõe”.

Estamos cientes de que tal amor é uma grande graça que caracteriza a graça maior do nosso chamado de pertencer fiel e sem medidas a Jesus Cristo para consumirmos nossa vida em total doação de amor a Ele e ao seu Reino, servindo aos nossos irmãos e à Igreja.

A graça deste amor de primazia a Jesus Cristo jorra, realiza-se e amadurece na vida de oração, onde a contemplação nos leva a uma união cada vez mais profunda com nosso Esposo e nos faz transbordar seu Amor em unidade, fraternidade e serviço, pelo poder do Espírito Santo que ama em nós.

Somente uma vida de profunda intimidade com Deus nos levará ao verdadeiro arrependimento e nos lançará aos pés de Jesus como a pecadora arrependida, reconhecidos e gratos por sua misericórdia e por sua eleição de nossas almas. É também esta vida de intimidade que nos leva a estar aos seus pés como Maria de Betânia, à escuta da voz do Amado para cumprir incondicionalmente a sua vontade.

Imersos no amor da Trindade, encontraremos a graça do desapego de tudo e de todos para que, livres de todo embaraço, possamos amar a todos e a cada um com a caridade de Cristo.

“Nosso lugar é aos pés de Jesus”

Estar aos pés do Senhor. Amá-lo, ouvi-lo, deixar que o Espírito nos conforme a Ele de tal modo que possamos reconhecer sua voz em meio às nossas muitas vozes interiores e aos inúmeros apelos do mundo é um dos fundamentos do nosso chamado: “A oração pessoal é a ocasião onde o Senhor vem edificar esta obra de amor em nós. A contemplação do Amado é o jardim que o Espírito Santo encontra para semear e colher estas rosas de amor”.

Santa Teresa de Jesus de Ávila, um dos baluartes de nossa vocação, é para nós inspiração quanto ao caminho de oração e de vida espiritual. Com ela procuramos vivenciar o “Só Deus basta” que norteou sua vida de desapego para ser inteiramente de Deus. Dela procuramos aprender a oração, que é fonte do Amor Esponsal. Nossa oração, assim, é pessoal, diária, contemplativa, parada com Deus, aos moldes de Santa Teresa de Ávila”.

Aos pés de Jesus, no reconhecimento diário de que Ele escolheu os menores, os mais fracos, arrependemo-nos diariamente dos nossos pecados e mergulhamos na misericórdia de Deus, dada generosamente aos pecadores arrependidos. Nossa oração, então, enche-se de louvor, gratidão e adoração pela escolha misteriosa e gratuita de Deus para sermos almas esposas do seu Filho. Maravilha-se o nosso coração, como o de Teresa, do fato de que um Deus de tão grande Majestade se digne a vir até nós e dialogar conosco em um colóquio de amor que nos ultrapassa e transforma.

Durante pelo menos duas horas por dia estamos, diariamente, aos pés de Jesus, a sós com Ele. Dia após dia, Ele aí nos molda pacientemente conforme a sua vontade, na contemplação e estudo orante da Palavra, sempre para a sua glória.
Nossa oração é também caracterizada pelo louvor e abertura aos carismas, marca preciosa de nossas raízes na Renovação Carismática Católica e da Tradição milenar da Igreja. São Francisco, com sua simplicidade e extasiamento diante das maravilhas de Deus e da pessoa do próprio Deus, é o outro baluarte de nossa vocação. Dele aprendemos o louvor e a minoridade que nos leva a exclamar: “Meu Deus, quem sou eu e quem sois vós!” e o amor apaixonado e pronto a tudo que o levou a chorar e gritar pelos campos de Assis: “O amor não é amado!”

Seu grito ecoa em nossos corações quando estamos na presença do Senhor Ressuscitado que passou pela cruz e ressoa em todo o nosso ser que, tomado pelo zelo do Espírito que o inflamava, acolhe a graça da parresia e transborda a oração em apostolado e serviço.

Nosso primeiro chamado, assim, é para ser. Como ensina Santa Teresa de Jesus, no poema “Busca-te em mim”, a alma encontra-se em Deus, que se encontra nela e transforma-se segundo a vontade de Deus e a ação poderosa do seu Espírito. O ser, provado pelas exigências fraternas da vida comunitária e na prática das virtudes, deve, entretanto, eclodir no fazer, no apostolado por amor a Jesus, na evangelização através de novos meios e novos métodos, com novo fervor e ardor, como nos pede a Igreja, na formação de autênticos filhos e filhas de Deus que sirvam à Igreja como adultos na fé, com a estatura de Jesus Cristo (cf. Ef 4,13).

Na oração, o Espírito molda o nosso ser e Jesus ressuscitado nos envia, soprando sobre nós o seu Espírito (cf. Jo 20,22) e levando-nos a acolher amorosamente seu maior desejo: “Ide! Pregai o Evangelho! Fazei discípulos” (cf. Mc 16,15).

Adoração

É do coração de Jesus ressuscitado que passou pela cruz que jorra a verdadeira Paz (cf. Jo 20,19-20). Somos chamados a adorar este coração que se nos dá na Eucaristia as vinte e quatro horas do dia. Assim, revezamo-nos dia e noite diante do coração aberto de Jesus em adoração, reparação e intercessão.

Aos pés de Jesus na Eucaristia nos enchemos do seu Espírito e dele aprendemos o que é a verdadeira Paz que, em seu Nome, somos chamados a viver e ministrar a cada dia.

Sabemos que “não poderá jamais existir a verdadeira Paz nas almas dos homens e no mundo se esta Paz não estiver embasada em um amor incondicional a Jesus Cristo, pois aí nasce o Shalom de Deus” (Regras da Comunidade Shalom). Adorando Jesus Eucarístico, unimos ao seu o nosso pobre coração e o amamos. Nossa adoração, assim, consiste muito mais nesta troca silenciosa e apaixonada de amor do que em palavras.

Na adoração, a presença de Jesus ressuscitado imprime no mais profundo do nosso ser seu imenso e incondicional amor por cada um de nós e por todos os homens. É o momento de compreendermos os mistérios do amor de Deus, que não se traduzem em palavras, mas que, silenciosamente, vão-nos marcando como ferro em brasa e cauterizando em nós o que se opõe à perfeita caridade para com Deus e para com os homens. É neste amor incondicional de Deus por nós, aprendido aos pés da Eucaristia, que aprendemos a verdadeira Paz e o amor incondicional à humanidade inteira e a cada homem por amor ao nosso Esposo e união ao Príncipe da Paz: “… não podemos dar o que não possuímos, e a única maneira de possuir esta paz é deixar-se possuir por Jesus Cristo, Senhor nosso” (Regras da Comunidade Shalom).

Ainda uma vez o Amor Esponsal nos une a Jesus e nos impulsiona à ousadia dos santos. Novamente este amor nos sustenta, mais uma vez nos ensina e conduz. Sem o Amor Esponsal não há como estar em adoração e troca de amor na Eucaristia. Sem ele, igualmente, não teríamos como beber da Paz e ministrá-la aos homens.

Mergulhados neste amor, porém, através da oração e da adoração, a tudo nos dispomos e nossa vida espelhará, inevitavelmente, a Vida daquele que nos possui e quem somos chamados a adorar na Eucaristia e em todos os momentos de nossas vidas.

Ministros e discípulos da paz

“Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: “Paz a vós! Shalom!” Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado” (Jo 20,20-21). Esta é a passagem da Bíblia que fundamenta a nossa vocação. Aos poucos, percebemos que o Senhor tinha para nós um desígnio muito mais profundo e abrangente do que imaginávamos no início, quando colocamos o nome “Shalom” na Obra e vocação nascentes. Este desígnio está expresso na palavra “Shalom”, dita por Jesus ressuscitado aos discípulos reunidos.

Em hebraico, a palavra “Shalom” é mais do que uma saudação, é um desejo autêntico de que se realize no outro toda sorte de bens espirituais e físicos. Mais que isso: “Para o povo de Deus, que esperava ansiosamente a manifestação do Messias, a saudação “Shalom” era já como um anúncio da salvação (…) a felicidade perfeita, a salvação que o Messias viria dar, a plenitude da PAZ. A verdadeira paz não vem dos homens, mas de Deus.” (Regras da Comunidade Shalom).

Mais que uma palavra que se diz, a expressão “Shalom” é uma bênção (boa palavra) que se ministra a alguém. Aprender esta Paz na oração, na adoração e na Palavra e ministrá-la ao mundo, eis o nosso chamado.

Ao pronunciar a palavra “Shalom”, Jesus ressuscitado expressa, espelha e ministra a verdadeira paz: a salvação que sua ressurreição testifica. Expressa-a não mais como um judeu comum, mas como o Salvador, como aquele que venceu a morte, de quem o Pai dá testemunho através da ressurreição. É a primeira e única saudação de Paz do Ressuscitado registrada na Bíblia e Ele a expressa não somente com sua boca, mas com todo o seu ser ressuscitado que conserva as marcas da cruz. Sua pessoa é a própria Paz que o Pai enviou para a salvação de cada homem.

Em todo o sue ser Jesus espelha a verdadeira Paz. Aquela que não está isenta de sofrimentos, de renúncias, de mortificações, mas que encontra aí, nestas pequenas mortes por amor a Deus, o poder, a felicidade e a liberdade interior e definitiva da ressurreição.

Jesus ressuscitado, assim, expressa, espelha e também ministra a verdadeira Paz. Fá-lo, em primeiro lugar, com sua morte e ressurreição e fá-lo ao mostrar aos discípulos, enquanto fala, suas chagas gloriosas. Os discípulos, nesse momento, aprendem de Jesus a Paz que se esconde na cruz e na vitória sobre a morte. Aprendem que Jesus é a Paz, que somente Ele é o Shalom do Pai, a Paz definitiva pela qual os homens anseiam. Eis por que, após ministrar a paz aos discípulos, ensinando-a através de si mesmo e de sua Palavra, Jesus os envia a ministrá-la, insistindo, ainda uma vez, na saudação “Shalom!”: “Disse-lhes outra vez: ‘Paz a vós! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós’. Depois destas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo’.” (Jo 20,19-22) e concedeu-lhes o poder divino de reconciliar os homens com Deus, que é, afinal, a expressão última de sua missão salvífica, pois a salvação é a reconciliação eterna entre Deus e os homens. Aqueles que se trancavam por medo dos judeus tornaram-se, assim, discípulos e ministros da Paz.

A nossa missão

Esta é, também, a missão de cada um de nós na vocação: ser discípulos e ministros da Paz. Aos pés de Jesus aprendemos que Ele é a Paz que devemos não somente desejar, mas ensinar aos homens, levando-os a uma experiência pessoal com Jesus Vivo, pelo poder do Espírito Santo. Assim como Jesus ensinou aos seus discípulos a Paz através da experiência de sua ressurreição que não escondia as marcas gloriosas da Paixão, assim também aprendemos dele a Paz pela experiência de sua pessoa viva que age em nós. Assim como Jesus enviou os discípulos a ministrarem a reconciliação do mundo com Deus, também nos envia como arautos e ministros da Paz, da experiência com Jesus Ressuscitado, único capaz de realizar esta reconciliação e conduzir cada homem e todos os homens à verdadeira Paz: “A conversão é o caminho que conduz à paz; o mundo não encontrará a paz se não se voltar para Deus.” (Regras da Comunidade Shalom, citando palavras de Nossa Senhora em Medjugorje).

“O Senhor nos chama a sermos anunciadores da sua paz (Is 52), a vivermos e proclamarmos a sua Paz. A levarmos com a nossa vida, com a nossa palavra e com o nosso testemunho, o Shalom de Deus aos corações; a sermos instrumentos de reconciliação do mundo com Deus; a anunciarmos com todo o nosso coração, com todas as nossas forças a salvação de Jesus Cristo e o seu Evangelho (…). O mundo só encontrará a Paz se encontrar Jesus, e é este Jesus que nós devemos proclamar em todo o tempo e lugar. Para instaurar a paz nos corações e no mundo, o Senhor nos chama a anunciar Jesus Cristo e a formar autênticos filhos de Deus. Devemos levar a todos aqueles a quem o Senhor nos enviar o que Ele ordenou quando enviou os seus discípulos: “Paz a esta casa”, e ali, pelo poder de Jesus, estabelecer a paz, anunciando o Evangelho, o Reino de Deus que está próximo, curando os enfermos, derramando o Espírito Santo (cf. Lc 10,1-12), estabelecendo assim o Shalom de Deus. Devemos ser a voz do Cristo ressuscitado que faz da sua primeira palavra aos apóstolos um anúncio de paz (cf. Jo 20,19-21), pois, Vitorioso, Ressuscitado, cheio de autoridade e poder, Ele é a única paz para o coração do homem: “Cristo é a nossa paz (cf. Ef 2,14).” (Regras da Comunidade Shalom).

Assessoria Vocacional da Comunidade Shalom

Formação: Outubro/2004

Amor Esponsal: chama viva que inflama e purifica o coração capacitando-o a aderir incondicionalmente e com vigor a bem-aventurada vontade do Pai. Finalmente, foi escrito este que é um estudo sobre o Escrito Amor Esponsal, cerne da Vocação Shalom. Faz parte de uma série de estudos sobre os Escritos da Vocação.

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