Pode parecer ingenuidade do Concílio Vaticano II, mas os conciliares recomendaram à Igreja a abertura de um paciente diálogo com o mundo moderno. Tal procedimento foi levado a sério, por suas evidentes vantagens recíprocas. O pensamento embutido nessa atitude provém da convicção de que nem tudo no mundo está errado, e que a Igreja tem muito a colaborar com os tempos modernos. Os resultados foram, ora vantajosos, ora quase decepcionantes. E não ocorreu só de os tempos modernos aprenderem com a Igreja – como ocorreu com a Doutrina Social – mas também sucedeu o contrário: a Igreja aprendeu da modernidade. Assim, por exemplo, os direitos humanos, bem como a liberdade religiosa e o conceito de democracia, (na verdade princípios nascidos do evangelho), foram âmbitos em que a esposa de Cristo assimilou nova mentalidade. Foi uma atitude aberta e “progressista” que herdamos de São Paulo: “Examinem tudo e fiquem com o que é bom” (1 Tes 5, 21).
Mas persistem vários impasses. Há várias “teimosias” que não deixam ir para frente. Em alguns pontos formaram-se muralhas. Curiosamente – com tristeza o digo – são mais intransigências do lado da modernidade do que do lado da Igreja. Vou citar alguns exemplos:
* a ONU é fortemente contra a família monogâmica tradicional, e está sinalizando com punições contra legislações que não se enquadram;
* as leis civis se manifestam cada vez mais intolerantes com a defesa do nascituro (o lado mais fraco), olhando só os interesses dos adultos;
* o uso livre dos preservativos sexuais, que estimulam a libertinagem sexual, e destroem os valores da família, são irresponsavelmente apresentados como única solução real.
O bombardeio contra as posições da Igreja é permanente, não cabendo uma atitude humilde de escuta, para analisar os argumentos. Eles já conhecem as explicações, mas não as ouvem. “Eles são duros de ouvido e fecharam os olhos” ( Mt 13, 15). Ainda mais, ampliando ilegitimamente o Código Penal, classificam essas posições cristãs de “crimes hediondos” contra a humanidade. A idéia, embutida atrás dessa afirmação, é que o sexo é uma atividade humana incontrolável, incorrigível e irreprimível. Essa é que é uma idéia “hedionda”. Nós ainda queremos mostrar para o mundo moderno que a educação, seja na família seja na escola, acompanhada pela força da graça, pode mudar o ser humano num “novo homem, segundo Jesus Cristo” (Ef 4, 24).
Dom Aloísio Roque Oppermann, scj
Arcebispo de Uberaba, MG.
Fonte: CNBB