No final do ano passado, novembro de 2021, celebramos 15 anos de missão aqui na arquidiocese de Argel/Argélia, no norte da África, e também no final do ano passado o Senhor nos deu um novo arcebispo, Monsenhor Jean-Paul Vesco, que tomou posse no dia 11 de fevereiro, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.
Depois de muitos anos, pudemos contemplar a Catedral completamente cheia, pois esta celebração trouxe os fiéis espalhados em todo o país, os membros do corpo diplomático de diversos países, assim como autoridades e amigos muçulmanos. Os antigos membros desta pequena Igreja particular nos recordavam de que a última vez que viram a catedral cheia foi na ocasião da celebração de um Sínodo inter-diocesano com a participação dos fiéis das quatro dioceses presentes na Argélia.
É certo que este dia entrou na história desta pequena Igreja no norte da África.
Nesta ocasião, nós tivemos uma grande experiência de inculturação em uma Igreja local como membros de uma Comunidade nova (no contexto universal e local). Na verdade, desde outubro de 2018, somos responsáveis por todas as dimensões da Catedral, pois a assumi como administrador paroquial e logo em seguida como pároco. Para esta grande celebração arquidiocesana preparamos tudo ativamente, como anfitriões, da limpeza à decoração, do acolhimento à organização das diversas equipes constituídas. E como pároco da Catedral tive uma experiência única: fui eu que abri as portas da Igreja para acolher o novo arcebispo depois que ele bateu para entrar (parte do rito da posse canônica aqui), logo em seguida apresentei o crucifixo para ele beijá-lo e a água benta para ele se benzer. Ainda no rito de posse, fui eu que, em nome do clero local, pedi para ele acolher a nossa renovação de obediência.
Mesmo sendo estrangeiro nesta terra, não me senti estrangeiro nesta Igreja local (mesmo sabendo que não sou ligado a ela por incardinação). Pelo contrário me senti parte e muito honrado, como um missionário enviado aqui para esta Igreja local, por poder acolher o nosso arcebispo em nome de toda a arquidiocese, formada em sua grande maioria por membros vindos de diversos países e que se encontram aqui seja por causa da vida religiosa e missionária ou por causa dos estudos ou trabalho.
Um pouco de nossa história aqui no norte da África:
Os primeiros missionários da Comunidade Shalom chegaram em 2006, a convite do então arcebispo Monsenhor Teissier, para ajudar no cuidado pastoral de jovens estudantes subsaarianos, especialmente de língua portuguesa. Para nos possibilitar a inculturação no mundo árabe/muçulmano, e com base em nossa experiência missionária na Terra Santa, nos tornamos conhecido aqui como Comunidade “Salam” (paz em árabe). Com o passar do tempo, nós introduzimos em outros serviços desta Igreja tão particular, sobretudo no acolhimento de jovens universitários e de crianças de bairros pobres nas diversas bibliotecas mantidas pela Igreja na capital, bem como nas visitas aos prisioneiros.
Vale salientar que estamos inseridos em um país muçulmano onde o número de cristãos é inferior a 0,1% da população. Podemos dizer que somos “tolerados” como cristãos aqui, mas nossas ações são bem limitadas aos lugares de culto oficiais (igrejas e capelas). A evangelização explícita em público é considerada como crime de proselitismo na lei local.
Atualmente nos dedicamos em particular a Catedral, em todas as suas dimensões paroquiais e próprias a realidade local, e ao pastoreio dos jovens estudantes subsaarianos, que vêm à Argélia com bolsas de estudo de seus países de origem. Estes jovens encontram muitas vezes dificuldades de integração na sociedade argelina e algumas vezes sofrem com a discriminação racial. Para nós, este serviço de evangelização expressa a generosidade da Comunidade na difusão do Evangelho na vida destes jovens provenientes destes diferentes países africanos (Moçambique, Cabo Verde, Madagascar, Angola, Congo, etc.) sem ter um retorno imediato de crescimento quantitativo na nossa missão aqui na Argélia, pois estes jovens passam apenas um certo tempo conosco e depois retornam ao seu país de origem.
Em relação ao nosso serviço na Catedral do Sagrado Coração, em Argel, buscamos reavivá-la através de nossas atividades pastorais, em particular acolhendo vários visitantes (tivemos quase três mil visitantes no ano passado, sendo a maioria deles jovens argelinos e muçulmanos). Os missionários mantêm este lugar de culto cristão animando missas, grupos de oração, o acolhimento dos visitantes, pela produção de objetos religiosos e por todo o trabalho de limpeza e decoração da igreja, expressando a beleza litúrgica através de nosso Carisma.
Algumas fotos que ilustram nossa missão aqui
Argel, 25 de fevereiro de 2022.
Padre Jean Fernandes Costa
Responsável local da missão de Argel/Argélia