Ainda acredito nas almas nobres que não desaprenderam a linguagem da reciprocidade. Que exercem com coragem a dádiva da permanência. Que experimentam constantemente da satisfação que é se decidir pelo outro, com todos as decepções e a pesares inclusos.
Ainda acredito em amizade não sazonal; que não vai embora junto com a ocasião conveniente que a fizera nascer; nem se enruga com as feiúras de cada um.
Ainda acredito em pessoas que não se contentam com relacionamentos rasos e superficiais, só para preencherem as lacunas que se abrem no coração quando a carência faz birra, ou o silêncio dos dias entediantes com palavras que não dizem nada. Não. Ainda acredito nos sensíveis que não aceitam ausências vestidas de falta de tempo, quando na verdade, tudo o que realmente há é falta de interesse; falta de estar.
Gostoso mesmo é da gente poder entrar no coração do outro sem tirar os chinelos. É poder entrar e despir nossa alma das vestes que escondem nossas sombras sem medo de sermos julgados. É ter o cheiro da vida do outro em mim, e vice-versa. É ter alguém pra cuidar do nosso coração quando ele adoece… Gostoso mesmo, é ter amigos com quem se reinventar, quando a vida quer que a gente cresça.
Por Richard de Assis