Itapipoca – CE, novembro de 2021
Ao Amado,
Escrevo-te esta carta, por volta do meio dia, o tempo está um pouco nublado, mas o sol em meio às nuvens consegue disseminar seus raios ensolarados. Não estou a vê-lo, confesso. Porém, com a janela do meu quarto entreaberta é assim que o percebo. Começo assim esta carta, Amado, pois é assim que também me relaciono contigo. Talvez eu nunca tenha dito a oportunidade de ver-te face a face, mas entre as nuvens das minhas impurezas que transformam a minha vida em dias nublados. Mesmo assim, como o sol, eu sei que entre as nuvens Tu estás. É meu desejo encontrar-Te face a face, Tu bem o sabes, contudo compreendo que este encontro depende mais de mim, do que de ti.
Deste-me todas as coordenadas, já sei a longitude e a latitude de sua localização, mas Tu bem sabe que sou péssima em geografia. Perco tempo, horas, dias, meses, tentando calcular. É confesso, adoro calcular, me perco planejando como em ti chegar, até que olho para os desafios, e vejo que o caminho é exigente, então por muitas vezes desisto, paro a descansar.
Sabe Amado, às vezes penso que eu não te amo o suficiente, na verdade eu nem sei amar. Ouvi dizer que << o amor está sempre em movimento e põe-nos em movimento>>, mas porque eu me paraliso tanto? Eu digo que te amo, e me vejo incapaz de ir ao teu encontro.
Tem dias que na minha louca forma de pensar, eu deseje o que a vida fosse uma simples planilha de excel, onde tivesse erros teria uma #ERROR a me alertar, e junta a ela a fórmula correta de calcular. Sim, eu sei, que o amor é sem medidas, sem cálculos e fórmulas, mas tu conheces o meu jeito louco de amar. Amado, teu amor é tão profundo, imenso, incalculável, que insisto em fazer conjecturas. É loucura, sim eu sei, é muita loucura minha, contudo tu bem sabes que no mais íntimo de mim, tudo isso é no desejo de verdadeiramente te amar.
E meu amor por Ti é imperfeito, Tu escolheste sofrer para mais ainda me amar (se isso é possível), eu escolho amar sem sofrer. Tu aceitaste ser humilhado, criticado, julgado, condenado, tudo isto para não negar o teu amor por mim. Eu, pelo contrário, não aceito nem uma pequena correção por amor a ti. Quem eu penso que sou? Fico a me questionar: como é Amado, que eu desejo te amar, se tu fazes tudo por amor a mim, e eu nada quero por amor a ti.
Como podes permanecer a amar-me, mesmo sabendo nos mínimos detalhes de todas as minhas traições. Tu viste tudo, e ainda és capaz de perdoar-me, e permanecer a me amar, como se nada eu tivesse feito, eu sinceramente não entendo. Eu não sei ,Amado, amar assim. Quantas vezes eu Te esqueci, Te deixei, Te abandonei, inúmeras vezes Te troquei, e Tu como fiel cavalheiro permanecestes a me esperar, a me amar.
Ao iniciar esta carta, a intenção era te escrever sobre o amor, era então escrever-te com expressões de um coração por ti apaixonado, mas vês que eu não poderia escrever outra coisa senão, estas breves palavras, que revelam a imperfeição do meu amor por Ti.
Por fim, quero somente te agradecer, ó meu bem Amado, pelo Teu amor perfeito, que recolhe em ti o meu amor imperfeito. Obrigada por fazer do imperfeito, objeto do teu amor.
Com esperança,
Tua amada.
Jackeline Bastos