A grande incidência deadolescentes contaminados pelo vírus HIV motivou o Ministério da Saúde a partirpara a distribuição de preservativos diretamente nas escolas. Para facilitar oacesso estão sendo testadas máquinas que põem o produto à disposiçãoautomaticamente. Municípios dos Estados da Paraíba e de Santa Catarina foramescolhidos para testar e aprimorar o equipamento. O objetivo estratégico éambicioso: instalar as máquinas em todo o sistema público de ensino.Destinatários: jovens entre 13 e 19 anos. Surpreende a precocidade dopúblico-alvo inicial.
Máquina do bem ou do mal? Odebate está aberto. Com razão. O avanço da aids, não obstante as campanhasmilionárias em favor da camisinha, indica que algo não está funcionando. Esseaumento, sem dúvida preocupante, pode levar, mais uma vez, aos diagnósticossuperficiais e, por isso, míopes: focar a questão apenas nas campanhas em favordo chamado "sexo seguro". A camisinha será a panaceia para conter aepidemia. Continuaremos padecendo da síndrome do avestruz. Bateremos nosefeitos, mas fugiremos das verdadeiras causas: a hipersexualização da sociedade.
Na verdade, caro leitor, ascampanhas do governo não têm dado resposta adequada ao verdadeiro problema: ainfluência do gigantesco negócio do sexo, que, impunemente, acaba determinandocomportamentos e atitudes. A culpa não é só do mundo do entretenimento. É detodos nós – governantes, jornalistas, formadores de opinião e pais de família-, que, num exercício de anticidadania, aceitamos que o País seja definidomundo afora como o paraíso do sexo fácil, barato, descartável. O governo,assustado com o aumento da gravidez precoce e com o crescente descaso dosusuários do preservativo, investe agora na máquina de camisinha. Não vairesolver. Afinal, milhões de reais já foram gastos num inglório combate aosefeitos. E o resultado está gritando na força dos fatos e dos números: a aidscontinua sendo um problema de saúde pública.
Impõe-se buscar soluçõesinovadoras e eficazes. Sempre intuí a necessidade de um aprofundamento sério notema da formação da sexualidade. Em meu esforço de apuração, topei com umaexperiência surpreendente: o programa denominado Protege tu Corazón. A históriacomeça em 1993, na Colômbia. Tal como a grande maioria dos pais, Juan Franciscoe Maria Luisa Velez começaram a se preocupar com a educação sexual que seriaimplantada nas escolas de seus filhos. A orientação proposta contrariava tudo oque haviam imaginado transmitir a seus filhos a respeito do amor, dasexualidade, da família e da vida. Confundia-se sexualidade com sexo, amor comsexo e alicerçava-se seu conteúdo exclusivamente no que denominavam "sexoseguro". O que queriam dizer com sexo seguro? Algo parecido com o queacontece por aqui. Fomenta-se, por um lado, a cultura da hipersexualização e dapromiscuidade. Tenta-se, por outro, preservar os adolescentes de uma gravidezindesejada e da transmissão de DSTs com o uso dos preservativos. Ninguém, no entanto,se preocupa com as dramáticas consequências físicas, emocionais e afetivasprovocadas pelo oba-oba sexual.
Esse casal não se limitou alamentar, mas, com apoio de especialistas e, sobretudo, de outros pais defamília, elaborou um Programa de Educação da Sexualidade para ser aplicado nasescolas. O programa espalhou-se por 18 países na América Latina, do Norte,Europa e nas Filipinas. Tem um slogan simples e direto: "Caráter forte,sexualidade inteligente." Ou seja, entende que, em primeiro lugar, a sexualidadeé um componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar,de se comunicar com outros, de se expressar e de viver o amor humano.
A proposta do programa éajudar os adolescentes a fortalecer o seu caráter, de tal forma que a inteligênciae a vontade adquiram prioridade sobre os sentimentos. Os adolescentes sãonormalmente impulsivos, inseguros, não se conhecem bem, e são essas carênciasque os fazem tomar decisões equivocadas e correr riscos desnecessários,sobretudo ao iniciarem um relacionamento sexual muito precoce. O programaProtege tu Corazón já está no Brasil (www.protegetucorazon.com.br) e desenvolveum projeto piloto no Colégio Ranieri, em São Paulo.
A metodologia é interativa,moderna, com material audiovisual, dramatizações, discussões em grupo,exercícios escritos, etc. Com essa metodologia se pretende que o adolescenteseja levado a refletir sobre suas escolhas, sobre seus sonhos. Apresenta umacaracterística importante, que é fomentar o diálogo entre pais e filhos e,acima de tudo, o programa tem uma norma: "Propor, e não impor." Fazpensar e aposta na liberdade.
Os adolescentes,frequentemente bombardeados pela banalização do sexo, surpreendem-se aoperceber uma outra forma, positiva e responsável, de entender a sexualidade.Mas os principais protagonistas dessa mudança são os próprios pais. O programana escola é uma ajuda poderosa para os pais, mas não pretende nem substituí-losnem subestimá-los. Ele os apoia e oferece ferramentas concretas para facilitara comunicação entre pais e filhos. É uma parceria interessante e os resultadosme impressionaram.
A iniciação sexual precoce,o abuso sexual e a prostituição infantil são, de fato, o resultado da culturada promiscuidade que está aí. Ainda pouco se fala do Brasil no exterior. Equando se fala, infelizmente, o noticiário se reduz às ações do crimeorganizado, aos escândalos envolvendo políticos e governantes, às queimadas naAmazônia e à miséria da nossa periferia. Limitam nossa cultura e nossa arte aorebolado. É uma pena. O Brasil é, sem dúvida, muito mais que o país do gingadoe do carnaval.