A via da beleza como forma da Nova Evangelização – Continuação
Parte II
Me vêm à mente, com toda a sua força provocadora, as expressões que já no distante 1956, antes mesmo de qualquer ideia sobre um Concílio, von Balthasar escrevia: “o terrível fenômeno do ateísmo moderno poderia ser, dentre outras coisas, uma disposição da Providência, para voltar a humanidade, particularmente os cristãos, a um modo mais elevado de pensar Deus”. Um modo mais elevado para pensar e, inevitavelmente como sua primeira consequência, um modo mais coerente para apresentar Deus ao nosso contemporâneo. Esquecer esta sequência equivaleria a tornar a pergunta teológica abstrata e retórica, enquanto se estrutura como uma provocação para individuar as formas linguísticas coerentes com aqueles conceitos para expressar “Deus”. É uma tarefa árdua.
O nosso contemporâneo, de fato, está cada vez mais inserido numa cultura digital que enquanto lhe escancara o mundo, o aprisiona mais em si mesmo. Se por um lado supera as categorias espaço-temporais, até hoje considerados os pilares do conhecimento, por outro vive do imediatismo sem ser mais capaz de silêncio e de contemplação.
Como falar de Deus neste contexto? Não é uma interrogação retórica para quem crê, mas uma exigência inelutável que toca a própria sobrevivência do cristianismo. Contudo, uma vez rompida a via de transmissão da fé na forma tradicional conservada por séculos, inscrita de forma particular na família, em uma sociedade e cultura caracterizadas substancialmente pela cristandade, torna-se urgente pôr-se o problema.
Mas em quais termos? Não se resolve o problema olhando para outro lado para dedicar-se a outras problemáticas importantes, mas que não são essenciais para a questão de fundo: como pensar Deus de um modo mais elevado e com qual linguagem comunicá-Lo? Se o papel da religião toma o lugar de Deus, é sinal evidente de que na obra de evangelização dos nossos dias alguma coisa está errada. Deve-se procurar, ao menos da parte da teologia, retomar a direção certa para ter uma perspectiva coerente do caminho da Igreja.
Seria muito ingênuo, para o teólogo, parar na análise estatística da ausência de Deus na vida das jovens gerações sem descer em profundidade, para além daquilo que os números indicam, para tentar entender qual é a imagem de Deus que se colhe hoje. Por exemplo, eu estava hospedado com uma família, quando o pai e a mãe extremamente preocupados porque a filha adolescente tinha manifestado a sua intolerância em relação à religião e já começava a dar os primeiros sinais, segundo eles, de profissão de ateísmo. Me apresentaram a filha dizendo-lhe para falar comigo. A jovem não se intimidou e começou a dizer que não acreditava em Deus. Olhei para ela com muito carinho e lhe perguntei somente: “Em qual deus?” O discurso não continuou por causa da surpresa geral. A interrogação foi colocada, todavia, tinha a intenção da provocação para colher o núcleo da questão: de qual deus estamos falando? Qual imagem de Deus está sendo apresentada às novas gerações?
Se não se resolve este enigma, o caminho da evangelização permanecerá atolado na armadilha da nostalgia do passado ou na fantasia acrítica de uma razão anestesiada. Marginalizar as questões postas pela secularização e esconder sob o tapete, como se não existissem os números estatísticos cada vez mais incertos sobre as modalidades tradicionais de viver a fé, não é o caminho que se deve seguir.
É preciso afrontar a questão, não tanto pela seriedade do drama, quanto pelo respeito a quanto o Senhor confiou à sua Igreja e constitui a sua missão no mundo contemporâneo. É necessária a parresia com a qual sacudir o torpor teológico no qual caímos, para restituir dignidade a quantos fazem da evangelização a sua escolha de vida. Trazer de novo ao centro a questão de como comunicar Deus não é um capricho, mas um grito para encontrar sentido. Deus não se afastou do mundo nem dos homens.
✠ Rino Fisichella
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