Você já parou para pensar no que vem à sua mente quando você está diante de um pôr-do-sol daqueles maravilhosos, diante do mar, das ondas, das tempestades, das flores aparecendo na Primavera, da diversidade de plantas, de animais?
Qual foi a última vez que você parou para ver os ciclos perfeitos da natureza que trazem algumas frutas numa estação, outras frutas na outra estação… Frutas que tem bastante água no tempo do verão para hidratar mais… Frutas cheias de vitamina, frutas cítricas que chegam no inverno, para proteger das doenças…
Quando também se percebe aquilo que é capaz de sentir por uma pessoa, por um irmão, por uma irmã, por um pobre, por um filho, pelos nossos pais, pelos nossos avós, quando a gente contempla o conteúdo do criado, mesmo que não se consiga formular com palavras, quando se vê algo maior do que o mundo dentro do mundo, se vê beleza, se vê amor!
Sim, a beleza do mundo fala do Amor substancial que desceu ao mundo, que compôs o mundo na sua beleza. A Criação então fala desse outro, fala de um Deus. A Criação manifesta esse outro divino de cuja beleza se faz portadora. A Criação indica, aponta para esse Outro, a natureza aponta para Deus e revela a natureza de Deus. Revela a essência de Deus, que é o Amor.
A beleza do mundo é “sobremundo”, é “sobrenatura”. É mais que o mundo. O mundo criado leva a marca de Deus, a digital de Deus. E é interessante dar atenção à descrição que o livro de Gênesis faz da Criação: a Terra estava disforme, sem forma, vazia, as trevas cobriam o abismo, ou seja, um nada. As trevas, o nada e dentro, sobre e além do nada, o Tudo! O Ruah: O Espírito de Deus pairava sobre as águas.
Então o Pai rompe aquele silêncio do mundo, aquele silêncio primordial, o silêncio das trevas, e pronuncia a sua Verdade, age na sua Bondade e resplandece na sua Beleza. Então começa aquela melodia da Criação, a sinfonia da Verdade. Vai dizer o teólogo Hans Urs von Balthasar que a verdade é sinfônica, ela não é monótona, ela é rica, ela é vibrante, ela é uma sinfonia. A verdade é profunda. E, por isso mesmo, a verdade é bela! Ela vai além dos conceitos, ela é mais profunda do que os conceitos.
O autor inglês John R. R. Tolkien, famoso escritor da saga do Senhor dos Anéis, muito católico, tem uma obra chamada o Silmarillion, que alegoricamente, através de imagens de ficção, narra a Criação do mundo como uma sinfonia. Uma sinfonia composta por Deus. E que os anjos, os espíritos criados antes do mundo, cada um deles recebeu uma partitura específica para ir trabalhando na composição do mundo criado, por ordem de Deus. É uma imagem muito bela de um Deus belo que como um divino maestro e, ao mesmo tempo, como um divino mestre de obras, vai dando melodias aos anjos, partes de uma sinfonia, e esse grande canteiro de obras que é o mundo vai sendo criado com beleza, com harmonia.
Santo Irineu de Lyon, um dos antiquíssimos Padres da Igreja, do Século II, fala que o Filho e o Espírito Santo são como que as duas mãos do Pai, que trabalham em harmonia, segundo a Vontade do Pai. E é belo ver que na Criação existe a Palavra, que é o Filho, o Logos de Deus, e o Espírito Santo que paira sobre o nada. E pela Vontade do Pai, pela Palavra do Pai, ou seja, no Filho, o Espírito Santo desenha o mundo em beleza e em harmonia.
Isso é muito bonito, é muito profundo pensar na Criação dessa forma, como uma “liberação” de Deus para fora de Deus. E aqui vale a pena ressaltar que o Espírito Santo, Terceira Pessoa da Trindade, é, na verdade, a Pessoa que é toda Revelação das outras duas Pessoas Divinas. O Princípio e a Palavra, o Pai e o Filho. E a beleza do Espírito Santo é ser a beleza das outras duas Pessoas divinas. O Espírito é meio mudo sobre Ele mesmo. A beleza Dele é aquela de ser todo em função do Pai e do Filho. Ele é uma Pessoa transparente. É a Pessoa-Santidade.
A santidade é transparência, a santidade é beleza, a santidade é revelar o Outro que vive em mim e que se manifesta em mim, através de mim. Então, o Espírito Santo é a Pessoa que é toda para os outros. É uma Pessoa que é toda Revelação do Filho que, por sua vez, é todo Revelação do Pai, e o Pai, por sua vez, não faz nada no isolamento, mas faz tudo através do Filho no Espírito Santo. Então a beleza e a santidade têm sempre esse ritmo trinitário, de transparência e comunhão. Essa maneira comunitária de se expressar é uma característica importante da beleza.
Um teólogo russo chamado Serguei-Markov diz que é próprio do oceano divino derramar-se, transbordar para além de suas margens. É próprio do oceano divino ir para além de si mesmo, além das próprias bordas. É próprio da plenitude da vida divina se dilatar para além de si. Essa saída para além de si mesmo. E assim, essa vida divina transbordante cria o mundo, e não só cria, como irrompe no mundo, invade, de certa forma, entra no mundo, penetra no mundo. E a vida divina cobre o Cosmos com a sua própria beleza! Dando carne à sua santidade, revestindo de carne a sua Verdade, materializando a sua Bondade.
O mundo é uma materialização, uma manifestação finita da Bondade infinita de Deus! E esse é o princípio da Beleza. O mundo material esconde um princípio espiritual. O tempo esconde a eternidade, e aqui, não se trata de um panteísmo, de uma mistura do mundo com Deus, onde Deus e o mundo são uma coisa só. Não! Essa é uma heresia gravíssima. Não, o mundo não é Deus, o mundo não é divino! O mundo tem origem divina. E, no mundo, como em um sacramento, é possível ver, como dizemos em latim vestigium trinitatis, ou seja, os vestígios da Trindade. Vestígios de uma beleza que não vem deste mundo, que o mundo não poderia dar a si mesmo.
O mundo traz uma beleza dada a ele por um outro, por Deus. E, por isso, o mundo material é todo revelação do divino. No mundo, no corpo, na matéria, existe uma Revelação daquilo que transcende o mundo, o corpo e a matéria! E se podemos falar desse significado sacramental do Cosmos, do mundo material, como um grande sacramento da beleza de Deus, se podemos dizer que na matéria, na corporeidade do criado podemos ver a Revelação de algo invisível e mais profundo, imagine o que podemos falar daquela obra que Deus criou no sexto dia: homem e a mulher!
Se o Deus invisível e material se manifesta nessas obras visíveis da Criação feitas pelas suas próprias mãos, imagine a obra-prima da Criação! A única criatura que Deus quis por si mesma: a pessoa humana! Essa criatura que Deus quis chamar de filho, de filha! A única criatura que pode chamar a Deus de Pai, a humanidade! A única criatura na qual Ele refletiu seu próprio rosto, seu rosto pessoal, livre, amante, amado. Criando o homem e a mulher, Deus coloca no mundo uma semente de si mesmo! É como se Deus colocasse no mundo a si mesmo! O homem e a mulher são uma imagem de Deus mesmo. E é possível exclamar como o salmista no estupor dessa beleza: “Senhor, o que é o homem? O que é o homem para que você se lembre dele? De glória e de honra Tu o coroaste!” Ele nos coroou de glória, nos vocacionou à beleza.
A pessoa humana é como um anel de conjunção que liga os dois mundos! Um mundo terreno e o mundo celeste. O mundo passageiro e o mundo eterno! A pessoa humana é Céu e Terra, Terra e Céu ao mesmo tempo. É um cidadão e uma cidadã de dois mundos. Portanto, falar da beleza nesse nosso mundo não é simplesmente falar de arte, nem das belezas naturais do Cosmos, mas nosso objetivo escondido e principal aqui é fazer entender que o homem santo, a mulher santa, o homem divinizado, a mulher divinizada, o homem e a mulher deificados, que levam à plenitude a sua vocação ao amor, que levam à plenitude a vocação à santidade, eles fazem que a beleza do Céu se derrame sobre a Terra. Então, sendo cidadãos desses dois mundos, como que “embaixadores da beleza de Deus” neste mundo material, nós somos colocados por Deus aqui com o coração voltado para o alto.
A beleza é a revelação de um outro. Aquilo que é autenticamente belo não é o que tem a sua forma aparentemente atraente. Não! Mas é aquilo que tem a sua forma derivante de um conteúdo mais profundo! Um conteúdo divino. A beleza é uma forma que é portadora de um tesouro. A beleza é teófora, ou seja, que porta, que leva, que traz Deus, que contém Deus.
Pe. Cristiano Pinheiro, Mestre em Teologia Dogmática e missionário em Nova Iorque.
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