Dia desses, uma amiga de infância com quem eu não falava há algum tempo me escreveu no dia do aniversário dela. Isso mesmo, o aniversário era dela, mas recebi uma mensagem tão calorosa quanto um abraço.
Nestes tempos sombrios, ficamos humildes para dedicar nosso tempo ao que tem valor, ao que importa. Nestes tempos incertos, nós gritamos pelo outro: pela conexão humana, pelo pertencimento, por sermos vistos por quem nos enxerga. É a necessidade do encontro. De partilhar proximidades.
Pensar sobre a morte nos faz sentir a urgência de viver.
E não falo sobre conquistas humanas grandiosas, uma era de glória como tantos citariam. Tenho aqui comigo que a maior ambição é a de uma vida simples. Não é sobre o que tenho a ganhar, é sobre tudo que ainda quero perder. É sobre despir-me dos excessos, até que reste apenas simplicidade, a pequenez.
Só teria medo de partir sem ter tido a chance de ser. Mais amável. De acolher o outro, e o outro, e o outro.
Afinal, já deu tempo de bater tantas metas pessoais e profissionais, mas será que deu tempo de transcender a existência?
Quero encontrar valor e significância na simplicidade que é estar junto e contribuir, de alguma forma, mesmo que fisicamente distante. Das ações mais concretas, a uma palavra de conforto.
Em meio ao caos exterior, onde em mim tenho encontrado a caridade, a generosidade? Quantos sofrem, neste tempo, com a solidão, com o desespero e a desesperança. Uma vida com sentido não encerra em si, ela nos leva a fazer algo benéfico para além de nós mesmos e nos transforma numa versão própria melhor, maior.
É essa crença de que existe uma versão melhor de mim, esperando por mim, que me faz reagir com coragem apesar das atribulações. A esperança de crescer em virtudes que o bom Deus já vê em mim, na essência. É quem fui criada para ser, enfim.
Eu sei, e Ele sabe, que essa vida simples que almejo não tem nada de fácil, mas está cheia de sentido. Porque transcende.
Coragem, filhos do céu.
“De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo.” (II Corintios 4:8-18).