Por muito tempo fiquei a me perguntar até onde o bom humor poderia chegar quando o assunto é religião e Deus. Perguntava-me se o meu bom humor atrapalhava de alguma forma a minha intimidade com Deus, minha oração pessoal e minha vida comunitária. Durante muito tempo achei que a resposta era sim, que “não se brinca com as coisas de Deus”, que Cristo é justo, e justiça não combina com bom humor… Eu estava enganado. Quando pensava em justiça sempre me vinha à mente um tribunal, um júri, um réu, e que o bom humor de alguma forma nunca se encaixaria nesse cenário, como já disse, eu estava enganado. Não era o bom humor que não se encaixava, era o cenário que não estava compatível com o bom humor. Sim, Deus é verdade e justiça, mas acima disso, Deus é alegria, é a “Alegria que nunca acaba”. Cristo não é um carrasco que veio nos condenar, pelo contrário, ele veio nos libertar e essa liberdade é que nos torna cada vez mais felizes.
Cheguei certo dia no Centro de Evangelização, era uma noite de quinta e a casa estava cheia de jovens, estavam todos espalhados pela casa. Sentei na lanchonete com três irmãos e começamos a conversar, uma conversa comum, como na maioria das vezes com brincadeiras e risadas. Propositalmente comecei a brincar e rir mais alto, as risadas tomaram conta da casa, não pude deixar de notar que a medida que riamos mais alto, mais jovens vinham se aproximando de nós, a medida que íamos nos sentindo mais felizes, mais jovens se sentiam atraídos por essa felicidade, de modo que quando me dei conta, praticamente todos os jovens estavam sentados à nossa volta partilhando da mesma alegria.
É certo que Cristo se utiliza de metodologias diferentes para se relacionar com cada pessoa, pois ele sabe em que ponto cada pessoa é mais atraído ao seu chamado. Conversando com alguns irmãos outro dia, notei que antes de suas experiências pessoais com Deus, cada um foi se sentindo tocado/atraído por coisas diferentes, alguns pela música, outros por uma pregação, e outros ainda por um(a) paquera que frequentava a Comunidade. Mas de formas distintas, Deus havia nos reunido e nos introduzido ao caminho de e para a felicidade. Apesar de ter nos conquistado de formas diferentes, Ele nos apresentou a mesma felicidade e nos convidou a trilhar o mesmo caminho, o caminho de santidade, que embora duro e com muitas renúncias, um caminho alegre, simples e com um ganho incalculável para a eternidade.
Minha vida de oração pessoal e comunitária, minha intimidade com Deus melhorou depois que olhei para Cristo como meu amigo verdadeiro, aquele com quem posso rir e chorar quando for preciso, aquele quem posso partilhar minhas tristezas e minhas alegrias, aquele que vai rir quando eu contar algo engraçado, e que vai me aconselhar quando não souber o que fazer. É aquele amigo que também brinca comigo… Meu intimo com Deus é vivido nas pequenas coisas do dia a dia, quando perco as chaves de casa, por exemplo, e olho para cima e penso “tá bom Deus, pode devolvê-las porque estou atrasado” e quase que instantaneamente as acho, ou quando estou chateado com algo e bato com o dedo mindinho no centro da sala, como se ele quisesse me dizer “acorde que você está errado dessa vez “ e logo penso “tudo bem, Pai, eu estou errado”.
Cristo me conquistou com sua misericórdia e alegria, e essa alegria que devo viver e levar para meus amigos, a alegria que eles também precisam conhecer e viver, que é gratuita e que é a verdadeira.
Rafael Oliveira
Obra Shalom.
Arapiraca-Alagoas