É noite. Meu joelho reclama a correria do dia e minhas costas pedem descanso. Mas a cabeça esta inquieta. Sento no meu sofá azul marinho – deixo o celular de lado e olho ao redor do espaço de 4x10m que hoje chamo de “lar”. Aquele silêncio… uma solidão que perturba, que pede por mais presenças. Mas já não tive tantas ao longo do dia?
Olhar o celular não resolve, não quero ver a vida das pessoas, quero pessoas em minha vida. Reais, problemáticas, mas com ouvidos atentos pra me ouvir e com as quais possa partilhar. As dores, a alegria, o cotidiano. Quero a segurança de saber que não estou só…Quero o descanso que habita no encontro com o outro.
Mas, então, tenho que lidar com ela: a SOLIDÃO. Nesses tempos em que ela é um fato em minha vida, resolvi chamá-la de Irmã Solidão, parafraseando meu grande amigo Francisco de Assis. Se ele chamou até a morte de irmã, porque eu não posso ousar em chamar a solidão assim?
Nessa solidão e silêncio me deparei com as inúmeras vozes dentro de mim: medos, inseguranças, cansaço, o desânimo, tudo isso que parece tão negativo, mas que se resume na minha fragilidade. A solidão trouxe espaço pra eu ver e perceber inúmeras fraquezas, até pecados.
Mas, foi em meio a esse turbilhão de pensamentos que meu olhar se voltou pra um consolo certo: um Alguém que mesmo “calado” estava presente.
Resolvi, então, aproveitar a dupla escuridão que me encontrava dentro e ao meu redor para acender uma vela no meu oratório, mas também a esperança dentro do meu coração.
Eu ainda me sinto como uma criança que é atraída pelo fogo. E por meio de um fogo artificial preparo meus olhos e minha imaginação pro fogo do amor divino que tudo aquece e purifica.
O fogo da oração me trouxe a presença de Deus na penumbra de mim mesma. Purificou meus olhares sobre mim e sobre tudo que aconteceu no meu dia. Amenizou o frio que as ausências deixaram.
Bendita chama de verdade, paz e esperança que permanece acesa e abrasa tudo ao meu redor.
A solidão se tornou um lugar da habitação divina, da manifestação de Deus – que vai além dos barulhos, das agitações exteriores – e preenche um espaço que é só D’Ele.
Óh solidão bendita! Ó solidão que me faz habitar no silêncio e me aproxima de uma presença sempre presente, para que quando eu esteja com muitos ou com ninguém, reconheça que Ele sempre esta aqui.