São cinco da manhã, o sol ainda não ilumina a rua, tudo ainda é muito turvo. O alarme toca e ele está diferente. O que antes me permitia ativar a soneca, hoje me pede agilidade, esquecimento de si e um coração disposto a amar. O som do alarme que antes era uma música, agora é outro, posso ouvir no fundo um barulhinho. E por mais que a rua seja agitada, não tem como confundir… é ela! Sim, ela acordou e brinca com as nuvens que decoram o seu berço. Chegando perto, sempre sou recebida com um sorriso largo de quem quer dizer “Que bom que você chegou! Estou com saudades! Vamos ficar juntas mais um dia?” e ali todo cansaço dá lugar a uma paz incomparável. Imagino que é assim que Deus me acolhe todos os dias. Me espera, dá sinais e enfim, quando chego, Ele se alegra e me chama a uma vida inteira ao seu lado.
Esperamos que o sol apareça para então sairmos e vermos o movimento da rua e das plantas… Ah, ela ama as plantas e tem me ensinado a ver nelas a beleza da simplicidade e me faz lembrar sempre da passagem: “Observai os lírios do campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará muito mais por vós, homens fracos na fé?”. Sim, ela tão pequena, com um simples sorriso em direção as folhas que balançam de um lado para o outro, me ensina a confiar no cuidado de Deus.
O dia segue, é hora do banho! Correria. Pego a água, preparo a toalha, a fralda, uma roupinha confortável, banho com cuidado pra que ela relaxe. Tudo pronto! Lá estamos nós duas mais uma vez no quarto. Enquanto amamento, os seus olhos se fixam nos meus e sinto ela dizer “Confio em você!”. A mão, tão frágil, aperta a minha com toda a força que tem. Ela busca em mim o seu sustento e equilíbrio.
Entre os afazeres ao longo do dia que se vai e muitas vezes nem percebo, em meio as surpresas e preocupações que são próprias da maternidade lembro sempre dela que me ensina a ser mãe, que me ensina a amar sem medidas. Antes de entrar no quarto sempre passo em frente a um ícone de Nossa Senhora. É impossível não contemplá-lo e com o coração dizer a Maria “Me ensine a ser como você”. E assim os dias vão passando. Descobri uma nova forma de falar com Deus, a oração está em tudo!
E eu que achava que seria impossível rezar depois que ela chegasse tenho compreendido que, na verdade, hoje ela me ajuda a rezar com sinceridade e verdade.
As atividades presenciais estão voltando, seguindo as medidas de higienização. Nós duas permanecemos aqui, vendo o mundo voltar a movimentar-se. Deus cuida dos irmãos lhes fazendo retornar as células, vigílias, Missas presenciais e cuida de mim me fazendo permanecer aqui. É aqui que Ele me faz tocar no Sagrado. Ela é minha confidente, escuta todas as minhas orações, as que são feitas enquanto amamento, na hora do banho e em tantos outros momentos ao longo do dia, desde as mais simples às que são regadas por lágrimas. E eu que achava que seria impossível rezar depois que ela chegasse tenho compreendido que, na verdade, hoje ela me ajuda a rezar com sinceridade e verdade.

E nessa altura da história você deve estar se perguntando “Quem é ela que te faz ver o Sagrado em situações tão simples do dia a dia?” E eu lhe respondo: Ela é pequena, frágil, tem um olhar marcante, e depende de mim para tudo e por isso, tem me ensinado a depender mais e mais de Deus. Seu nome é Dulce e é doce como o amor de Deus por mim. Carrega o nome da primeira santa brasileira, Santa Dulce, o anjo bom do Brasil, intercessora dos pobres e olhar para ela tão frágil e com um sorriso largo nos faz desejar estar nos braços de Deus como criança nos braços do Pai, acreditando que Ele tem o melhor, Ele sabe o que é o melhor.
Por Luciele Hortencio
Que lindo testemunho querida ,Deus abençoe sempre sua vida.