https://youtu.be/yaj8ylQcwXU
Olhei com curiosidade para as três figuras que atravessavam o deserto com uns pacotes nas mãos. A julgar pela quantidade e boa qualidade das roupas que vestiam, se via de longe de onde poderiam vir. Enquanto um deles não tirava os olhos de alguma coisa que parecia estar no céu, os demais puxavam os camelos esbaforidos como que fugindo de alguém. Que visão peculiar.
Pareciam fugir e ao mesmo tempo, perseguir.
Eu não saberia dizer.
De alguma forma aquela visão instigou em mim a curiosidade sobre aquele ponto luminoso no céu.
Uma estrela, talvez?
O brilho me ofuscava um pouco, de forma, que eu não saberia distinguir o contorno que ela tinha.
Só parecia também me atrair.
Será se o mesmo estava acontecendo com eles? Era por aquilo que os três homens buscavam?
Resolvi seguir. Segui-los. Segui-la. Enfim.
Estaria eu também buscando ou fugindo de alguma coisa?
Essa resposta parecia não importar para ninguém e nem mesmo para mim.
E fui.
E vim.
Chegando aqui, com as roupas maltrapilhas, cansado e com o corpo dolorido de tanto caminhar, vejo que o céu perdeu por um instante aquele brilho que, ao se movimentar, me mostrava por onde ir.
O cansaço da viagem parece ter me roubado as forças e a vontade.
Acredito não faltar muito para chegar. Onde estará a estrela que brilhava e me conduzia?
Até mesmo aquelas três figuras que eu me propus a imitar na caminhada se perderam de mim.
Olho para os lados e me vejo sozinho.
Ao contrário dos homens que traziam camelos, só possuo ovelhas, que nem mesmo me pertencem. Não preparei um presente, não trago nada além do cajado nas mãos.
A luz que estava no céu, agora parece estar em algum lugar dentro de mim.
Continuo a caminhar.
De longe vejo uma casa, um lugar, alguma luz parece vir de dentro, talvez seja aquela mesma que estava no céu. Preciso descobrir.
Olho de novo para como estou vestido, para as coisas que trouxe. Tirar o sapato seria de bom tom? Estou sujo demais para entrar. Será que incomodarei? O lugar é simples, mas parece valioso.
Só me resta descer essa montanha e alcanço aquela porta que resplandece. Corro? Paro? Espero? Se ao menos a estrela ainda estivesse no céu me confirmando a chegada!
Algo me diz que ela invadiu aquele lugar… será?
Arriscarei.
Quem sabe acolham esse viajante perdido?
Quem sabe haja alguém por lá que me diga para onde ir?
Talvez, alguém por lá me diga que, enfim, cheguei?
Adriane Souza