Amar é mais que fazer amor e a carne não basta para responder a infinita fome e sede de amor do ser humano. Educação sexual é educação para o amor e não apenas repasse de informações biológicas e recomendação de preservativos para o sexo seguro. Precisamos, sim, de sexo seguro, mas também de sexo ético. Ninguém duvida que o abraço sexual é também encontro de almas, de corações, de sentimentos, de esperanças, de projetos. Hoje o sexo tornou-se onipotente, onipresente e onisciente. Foi endeusado, pior, erigido em ídolo cujas catedrais são os motéis. “Se ejacula como se urina”, diz um famoso sexólogo. Vivemos em tempos de “prazer obrigatório”. A lei é aproveitar ao máximo e levar vantagem. O prazer virou um imperativo, uma obrigação e até uma sobrecarga. A virilidade está sobrecarregada. Não podemos dar a tudo isso o nome de amor.
Faz-se sexo à vontade e continuamos enfermos de amor, temos medo de amar, medo de casar, medo de ter filhos. Não estamos em paz com nossos prazeres e desejos. Os que alcançam o tédio sexual debandam para as drogas. A libertação sexual, em si saudável e positiva, descambou para a vulgarização. Em matéria de sexo sempre precisamos de limites, pois o princípio de prazer elevado ao exagero leva à morte, à violência, à agressão. Ódio e paixão estão muito perto, são vizinhos.
Para um relacionamento amoroso não basta a capacidade física, requer-se a maturidade psicológica e ética. Sem esta segurança as paixões, as ilusões, os ciúmes, o apego, a dependência, etc, provocam a desordem amorosa. Os golpes e desgastes na vida amorosa e sentimental acabam em decepção e até depressão. Somos pressionados a satisfazer todos os desejos. Isso tem um grande preço, custa caro porque nos tornamos escravos de esquemas impostos pela sociedade que quer lucrar às custas do prazer. Sexo dá lucro para alguns e desgraça para muitos. Sofremos outro tipo de pressão e controle sexual: a obrigação do prazer sexual.
A desordem amorosa é alarmante. Nossos jornais publicaram que 937 municípios brasileiros têm exploração sexual de crianças. O turismo sexual explora e exporta os adolescentes para o jogo da prostituição. Excitantes ilicitamente adquiridos com o efeito do Viagra, são consumidos à vontade, porém a medicina já descobriu o HPV, uma doença sexualmente transmissível que comporta mais de 100 subtipos de vírus. Hoje amor à vista pode ser perigo à vista.
Não estamos propondo aqui o moralismo negativista, nem o recalque afetivo. O que interessa mesmo é saber que “não morremos por falta de sexo, mas por falta de afeto” (F. Kahn). Portanto, precisamos de carinho, reconhecimento, colo, atenção, valorização. A ética da ternura livrar-nos-á da exasperação sexual. Nem tabu, nem libertinagem, mas “simpatia sexual” que é o sexo ordenado pelo amor e não pela paixão.
Reabilitando o valor humanizante da castidade e o princípio da inocência, não estaremos recalcando a sexualidade, mas sublimando-a. Não somos anjos, nem selvagens, somos humanos com a missão de humanizar a sexualidade na lógica do amor, dos valores, dos limites. Ordenar nossos afetos desordenados é humanismo e maturidade. A escravidão dos instintos não pode ser o preço da permissividade ética de nossos dias. Nem moralismo, nem erotismo fazem bem, mas a humanização da sexualidade redimida pelo amor. Ser amado, receber carinho e reconhecimento, ter valores, observar limites e unir-se a Deus são remédios que ordenam a sexualidade.
Dom Orlando Brandes -Arcebispo de Londrina
Fonte: Arquidiocese de Londrina-PR