Me chamo Weber e venho partilhar um pouco da minha experiência com a paternidade espiritual, por meio da minha vocação ao Celibato pelo Reino dos Céus. Sou consagrado na Comunidade Católica Shalom, como membro de aliança, tenho 34 anos e sou da missão de Brasília.
Tive a graça de fazer os meus primeiros votos de castidade no Celibato pelo Reino dos Céus no dia 22 de outubro de 2017, e a partir dessa minha resposta a Deus procurei viver aquilo que é próprio de todo celibatário: unir-me mais a Cristo e, a partir dessa união, acolher toda a humanidade como meus filhos espirituais. E assim, por meio da minha oferta de vida, nos sacrifícios, nas dores, nas alegrias, nas orações, gerar novos filhos para a Igreja.
Inicialmente eu me questionava sobre como encarnar na minha vida a paternidade espiritual, e uma das sabedorias que Deus me deu ao longo do tempo foi a aprender com aqueles que foram meus pais. Primeiramente com meu pai biológico, depois com todos aqueles que exerceram paternidade espiritual na minha vida.
Por isso que a minha paternidade espiritual sempre foi motivada por essa experiência do cuidado de Deus Pai, por meio dessas pessoas que Ele colocou na minha vida. Mas para falar dessa experiência, preciso contar que sou de uma família católica. Filho do meio de uma prole de três. Desde criança meu pai levava a mim e aos meus irmãos para a missa dominical e com sua autoridade paterna deixava bem claro a importância de reservar um tempo para Deus.
Foi ele quem me colocou na catequese e na crisma. Mas depois disso, com os meus 16 anos, comecei a experimentar mais as coisas do mundo, procurando ser feliz do meu jeito. Consequentemente me afastei de Deus, porém Deus não me abandonou e sempre dava um jeito de me atrair para Ele.
Mesmo vivendo experiências mundanas, eu procurava ir à missa aos domingos e isso, aos poucos, foi germinando no meu coração e fui percebendo o quanto essas coisas que eu buscava no mundo eram vãs e não me realizavam como pessoa. Mas foi a partir da quaresma de 2007 que eu procurei fazer que eu tive forças para ir largando a bebida, deixar aqueles amigos de festas e comecei a ir mais à igreja, à missa, aos grupos de oração.
Por acaso, por meio de um cartaz que eu vi em uma igreja distante da minha paróquia, fiquei sabendo do Acampamento de Jovens Shalom. Eu não conhecia a Comunidade, mas fui, fiz o retiro e lá eu tive uma profunda experiência com o Amor de Deus. Logo depois comecei a fazer o vocacional na comunidade e fiz experiência na Comunidade de Vida (CV) como Jovem em Missão. Me identificava muito com a CV, mas aprofundando esse discernimento, fui percebendo que a vontade de Deus na minha vida era esse chamado à Comunidade de Aliança (CAl). Depois de ingressar na CAl, discernindo meu estado de vida, ingressei no Seminário Diocesano da Arquidiocese de Brasília. Em 2015 dei um tempo no seminário, saí.
Nesse período, Deus me fazia o convite de dar um passo na efetivação do meu Estado de Vida. Comecei a rezar com isso e com o celibato. Deus ia dando sinais e dei então esse passo ao celibato.
Ao olhar pra minha história, pude perceber o quanto Deus Pai cuidou de mim. Via esse cuidado por meio do meu pai biológico e também por meio de tantos pais espirituais, catequistas, sacerdotes e meus irmãos mais velhos de caminhada que Deus ia colocando como autoridade em minha vida para me conduzir neste caminho.
Assim eu fui reconhecendo neles o cuidado de Deus que me conduziu para o melhor caminho, que é a vivência da Sua Vontade. Imbuído desta gratidão, fui entendendo a forma de encarnar a paternidade espiritual na minha vida.
À medida que Deus foi me dando os filhos espirituais eu procurei, assim como diz o nosso fundador Moysés: “Dar de graça o que de graça recebi”. De ser na vida desses filhos espirituais também um pai, um apoio, uma ajuda, alguém que reze por eles, alguém que os forme, que esteja presente, que eduque, que exorte e que conduza para o caminho feliz da Vontade de Deus.
Então como celibatário somos chamados a acolher toda a humanidade como nossos filhos, porém com o tempo, Deus vai dando a nós alguns filhos para que a gente tenha um cuidado mais específico. No início da minha caminhada, neste estado de vida, eu fui percebendo que Deus me convidava a interceder mais pelos jovens, homens e mulheres que eram tentados ao suicídio.
Eu ficava muito inquieto por tantas pessoas que perdiam a esperança, que estavam com suas vidas prostradas, muitos que não tinham o apoio da fé para ajudar a reavivar essa esperança. Outros, que mesmo sendo pessoas de Deus, eram tentadas a desistir de suas vidas.
E como nós sabemos, quantos jovens têm enveredado por este caminho. Comecei a interceder de forma mais constante, com orações, sacrifícios por esses jovens, por essas pessoas.
Deus foi me confiando outras formas de eu exercer a paternidade espiritual, por meio da minha vocação ao celibato. Me confiou filhos espirituais para que eu formasse, por meio do acompanhamento vocacional, da formação pessoal, dando assistência formativa em uma célula comunitária.
E por meio destes filhos que Deus tem me confiado, vejo uma oportunidade feliz de encarnar a minha gratidão a Deus Pai que tanto me amou, que tanto cuidou de mim, por meio de tantas outras pessoas que exerceram essa paternidade.
Foram muitas as vezes que eu me deparei com minha impotência, com minhas imperfeições diante de tantas dores da humanidade, diante de pessoas que procuravam minha ajuda e que eu no desejo de dar mais, me deparava com minhas limitações e minhas fraquezas. Creio que assim como também um pai biológico se depara com essas limitações, com essa impotência de querer ajudar o filho, e se ver tão limitado.
Porém, nesses momentos Deus sempre me convidava a amar, a perseverar naquele meu amor, mesmo imperfeito. E foi nesta via, que eu pude encontrar novas forças e sabedoria para enxergar novos meios de me dar como pai.
Então saber que a minha oferta, mesmo pequena, unida à oferta de Cristo tem grande poder. Que não são as minhas forças, não é o que eu tenho a ensinar. Não são as minhas qualidades que fazem a diferença, mas este meu amor, unido ao grande Amor de Deus, que não abandona nenhum dos seus filhos. Que escolhe homens imperfeitos para cuidar destes seus filhos e para ali manifestar a face amorosa do Pai.
Com isso, concluo renovando a minha gratidão a Deus pelo seu cuidado, pelo seu amor por mim, e por ter expressado esse amor pela vida de pessoas que deram a vida por mim, que foram de fato pais, que me ajudaram na minha caminhada.
Pelo meu pai biológico, a quem eu tenho grande gratidão, que por meio da experiência de ser filho dele eu pude conhecer melhor a face de Deus e, assim, poder por meio da minha vocação, eu tão fraco, tão pecador, mas por graça de Deus, ser instrumento da Sua presença amorosa, do Seu cuidado, que não esquece de nenhum de seus filhos. De ser instrumento na vida das pessoas para que elas também façam essa experiência por meio da nossa oferta de vida, do nosso cuidado na formação, na intercessão, na evangelização, possam elas reconhecer o cuidado de Deus Pai na vida de cada um.
Deus abençoe a todos, Shalom e feliz Dia dos Pais.
Weber Satélis, consagrado na Comunidade de Aliança e celibatário