Formação

Dia Seguinte

comshalom

Era uma noite fria e tempestuosa. Carol dirige-se ao quarto de Camila, filha caçula que temia relâmpagos e trovões. Parada à porta a jovem mãe observava na penumbra a linda criança dormindo tranquilamente. Era Camila, nome que sempre sonhou em colocar na primeira filha. Um sorriso desponta de seus lábios e ali naquele lugar começa pensar.

Ela lembrava-se de outra noite também tempestuosa em sua vida. Era o março de 2003. Carol e os amigos tinham escolhido passar um final de semana agitado na praia de Icaraí, Ceará. Ainda no carro comentava com sua amiga Bruna, “esse final de semana promete…”, disse mascando o chiclete, revirando a bolsa e mostrando para a colega o ‘kit’, dito indispensável para as baladas, que continha entre outras coisas camisinhas.

Estas lembranças de Carol foram cortadas bruscamente com pancadas fortes na porta. A chuva intensificou-se. A mãe apavorada tomou em seus braços Camila. Quieta, a pequena de bochechas rosadas e olhos claros olhava a mãe aflita e dizia-lhe sem parar:”Mamãe não abandone-me!”

Um estrondo ainda maior fez-se ouvir. Carol aterrorizada contra a parede ouvia passos velozes em sua direção. A jovem mãe não acreditava no que via à sua frente. Tratava-se de uma espécie de porco selvagem que rosnava ferozmente e aproximava-se com suas presas afiadas e olhos arregalados fixos em sua filha.

O selvagem animal impiedosamente arrancou a pequena Camila de sua mãe. Carol definhando até o chão, emudecida assistiu toda cena. Catatônica observava as mãos salpicadas de sangue e o ladino animal que calmamente saía do quarto. Ouvia-se do lado de fora da casa algazarra de festa que abafava o choro de Carol e seus gritos histéricos.

Um estriduloso barulho rompeu no quarto.

“Calma Carol, calma! Você teve um pesadelo, acalme-se.” disse Bruna, amiga de Carol apertando-lhe contra o peito.

Carol suava incontinente. Soltando-se de Bruna corre ao banheiro e puxa da gaveta uma cartela de comprimidos desfalcados de pílulas do dia seguinte. Com o olhar fixo para o nada, arriando-se até o chão lembrava-se do pesadelo e perguntava para si mesma qual daqueles comprimidos havia roubado-lhe Camila naquele final de semana de março de 2003.

—————————————
Vanderlúcio Souza – vanderluciosz@yahoo.com.br
Missionário da Comunidade Católica Shalom


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *