Neste dia 7 de janeiro, é comemorado o dia da liberdade de culto. É a partir deste direito fundamental que é possível uma vivência autêntica da fé. O Brasil é um país de maioria católica, mas que possui grande diversidade de expressões religiosas. Nesse contexto, não são incomuns debates entre pessoas que professam credos distintos, uma vez que o convívio diário em ambientes de trabalho e estudo permite troca de ideias e manifestação de valores herdados culturalmente.
Certamente você conhece histórias de pessoas que “cortaram relações” por não conseguirem dialogar sobre assuntos relacionados à fé, religião, devoção, espiritualidade… a incapacidade de ouvir o outro, às suas dores e visões de mundo, pode ser um “gatilho” para reações equivocadas e egoístas, que muitas vezes, são as grandes responsáveis pela construção de muros na sociedade.
Papa Francisco, em ocasião da visita do Comitê Judaico Americano ao Vaticano, lembrou em seu discurso que “Cultivar boas relações fraternas por muito tempo é um dom e, ao mesmo tempo, um chamado de Deus.” O Pontífice lembrou que “somos chamados a construir, juntos, uma atmosfera familiar, escolhendo, com todas as nossas forças, o amor divino, que inspira respeito e apreço pela religiosidade de cada um.”
Em outra ocasião, no encontro com membros do Instituto para o Diálogo Inter-religioso da Argentina, o Papa ressaltou que não existe alternativa: ou se constrói um futuro com união, ou não haverá futuro. Segundo ele, “as religiões, de modo especial, não podem renunciar à urgente tarefa de construir pontes entre os povos e culturas.”
Liberdade: dom necessário para a busca autêntica
A liberdade de culto está intrinsecamente ligada à liberdade dada ao homem pelo próprio Deus de buscá-Lo e de se deixar encontrar. A humanidade anseia por uma visão transcendental de mundo que responda aos seus questionamentos mais profundos. A busca de respostas que vão além do “plano terrestre”, deve ser vista como uma oportunidade para a evolução humana e não como uma ameaça aos avanços da ciência e da tecnologia, que podem e devem andar juntos.
A Comissão Teológica Internacional, órgão do Vaticano que tem como objetivo ajudar a Congregação para a Doutrina da Fé em questões de maior importância, publicou, no ano passado, um documento intitulado “A liberdade religiosa para o bem de todos. Abordagem teológica aos desafios contemporâneos.”
Neste importante arquivo da Igreja aprovado pelo Papa Francisco, os membros da Comissão afirmam que “O tema da liberdade religiosa é, portanto, algo que se diz respeito não apenas ao indivíduo, mas também à comunidade e, em particular, à família. Daí a referência à necessidade de exercer liberdade na transmissão de valores religiosos através da educação e do ensino (cf. DH 4, 5, 13b).”
O documento ainda ressalta que “No que diz respeito à família e aos pais, toda família goza de seu próprio e primordial direito – o de ordenar livremente sua vida religiosa doméstica sob a direção dos pais.”
No primeiro Ângelus de 2020, o Papa Francisco fez um pedido: “A todos, crentes e não crentes – porque somos todos irmãos – faço votos que nunca deixem de esperar em um mundo de paz, a ser construído juntos, dia após dia.” Que neste tempo de tantos conflitos que levam o homem à perdição, este tema possa gerar frutos de reflexão profunda: o outro é território sagrado, ainda que não professe a minha fé.