A arte traz a beleza do mistério e ajuda a nele mergulhar. Por isso, todos os anos no Retiro de Semana Santa a Comunidade Católica Shalom realiza, na sexta-feira, a Via Sacra encenada, a cada ano, a partir de uma Palavra bíblica ou um personagem específico.
João Carlos Nascimento, diretor artístico da apresentação, conta que neste ano uma equipe formada por vários membros da Comunidade, a partir de uma escuta de oração, elaborou o roteiro de via sacra a partir do salmo, que também é usado em uma das estações: “Esperei no Senhor com toda a confiança. Ele se inclinou para mim, ouviu meus brados. Tirou-me de uma fossa mortal, de um charco de lodo assentou-me os pés numa rocha. (Salmo 39, 2-4); tendo como tema geral “A Esperança não decepciona”, que também é o tema do retiro.
Construída com grande ritmo cênico, a via sacra traz um corpo de baile que realiza danças conforme as cenas acontecem, além das próprias músicas e refrãos melódicos. Já na primeira estação – Onde Jesus é condenado a morte – o público é impactado pois os personagens estão sujos, cobertos de lama, com exceção de Jesus, pois como diz um dos personagens: “Cristo, mesmo sujo do sangue da noite do açoite, permanece limpo por ser firme na única verdade: Deus é!”
“O que antes era um símbolo de vergonha e lamento, agora se torna um sinal de amor, sacrifício e redenção. Da mesma forma, quando Cristo toca a nossa dor, Ele a eleva e transforma. O sofrimento, que pode parecer sem propósito, é redimido e preenchido de significado pela presença e graça de Cristo”, evidencia um outro trecho de meditação encenada. Outro momento forte da apresentação é o encontro de Jesus com Maria, sua mãe. Neste ato vê-se o dom da Fortaleza de Maria e suplica-se este dom para todo público diante das cruzes da vida.
Já na estação em que Verônica enxuga o rosto de Jesus, simbolicamente os personagens, em invés de enxugarem o rosto de Jesus, sujam-no com a lama de suas mãos, em que de alguma forma parecem ver o rosto de Jesus como no lenço de Verônica e, dirigindo-se até o público, sujam suas mãos como um convite a que todos sejam consolo aos que sofrem.
Orações espontâneas marcaram a súplica pelo dom da Fortaleza, o perdão dos pecados, pela pureza de coração e de alma e pela esperança. “Jesus Amado, ensina-nos a permanecer no louvor quando a dor nos exigir mais amor do que pensamos ser capazes”, diz uma das personagens na estação em que Jesus é crucificado.
No momento da morte de Jesus, com a condução do Padre Antônio Furtado, CCSh, todos juntos iniciaram a novena à Festa da Divina Misericórdia que acontece no Domingo das oitavas de Páscoa.
Na penúltima estação quando Jesus é descido da cruz a cena mostra ao mesmo tempo Maria que segura o Seu Filho morto nos braços e como em um espelho Maria jovem com o Menino Jesus em seus braços. Diz a meditação:
“O sorriso da jovem virgem com seu pequeno menino nos braços se converteu em dor, mas sem perder a esperança. Nos braços agora ela tem o mesmo filho, homem feito, porém sem vida. Suas lágrimas banham seu corpo ferido e são o primeiro perfume que ele recebe. Quanta dor cabe no amor de uma mãe? Toda a Via Sacra se constituiu no encontro de Jesus com as misérias do homem, com suas quedas, suas fraquezas e suas cruzes. Cada ato de Jesus é um sinal de esperança renovada para o homem que sofre e esta é “a esperança que não decepciona “.