Shalom

Enne Karol: “Vivamos na terra a alegria do céu!”

Às vezes podemos pensar assim: ‘se eu vou viver no céu, pra quê viver essa vida aqui na terra?’ Mas já dizia o salmista: ‘que mais teria eu no céu se não for feliz contigo aqui na terra?’

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O Reviver 2022 trouxe como tema “Alegrai-vos! Jesus está vivo!”, e durante todo o evento a alegria foi muito explorada, vivida e testemunhada. No Rio de Janeiro, o evento contou com a presença de Enne Karol, consagrada da Comunidade de Aliança na Comunidade Shalom em Natal/RN.

Enne é doutora em Matemática, professora, missionária, e acima de tudo, uma testemunha da alegria que é Cristo vivo. Celibatária, a missionária investe toda a sua potência na evangelização e na maternidade espiritual dos que lhe são confiados. Sua experiência com Deus a fez tão feliz e preenchida, que hoje o grande foco de sua vida é fazer com que os homens e as mulheres experimentem da mesma alegria que mudou sua vida.

Como convidada para pregar sobre o tema central, Enne partilhou sobre a Alegria que vem de Deus, que é uma pessoa, que é real. Partilhou sobre sua experiência pessoal com a felicidade que a fez querer incendiar e contagiar o mundo. Ela que já tinha definido que não queria mais viver, ao provar do Senhor Jesus, teve a experiência de reviver e ansiar pela vida eterna.

Para nos ajudar no caminho do encontro com a alegria em uma sociedade marcada pela dor da doença e da guerra, Enne respondeu algumas perguntas que nos auxiliam a evangelizar com ousadia e radicalidade, arrastando os jovens, homens e mulheres através da verdadeira felicidade que dá sentido a tudo na vida.

O mundo está passando por um tempo forte de tribulações, guerras e doenças. Como podemos ser felizes mesmo sabendo que muitos irmãos estão em sofrimento?

Enne – “Eu sempre ouvi falar que a âncora é o símbolo da esperança. Quando um barco quer se firmar no mar, ele lança uma âncora. Então, quando a gente lança a nossa âncora no céu, a gente tem muito motivo para ser feliz. Porque a gente olha para isso aqui, para essa terra e diz: ‘isso aqui vai passar!’ Inclusive, tem um salmo que diz que ‘um dia na presença do Senhor vale mais que uma vida inteira longe dEle’.

Então assim, o sofrimento existe e sempre vai existir. Quando a gente olha para a história, vemos que sempre houve guerra. Mas quando nós temos um sentido, a gente pode viver em meio ao caos, e mesmo assim ser feliz, porque quando nossa vida está ancorada no céu, ela se torna cheia de sentido. As tribulações vêm, as tempestades vêm, pode estar acontecendo uma guerra do outro lado do mundo, e eu ainda vou além. Você pode estar num lugar sem guerra, mas o seu coração pode estar.

Então assim, a paz não é a ausência de guerra, e sim uma relação com Deus que te dá um sentido de vida. Então o segredo é ancorar o nosso coração em Deus e saber que tudo isso vai passar, todo o sofrimento vai passar. Essa consciência nos dá uma esperança, e nos faz lançar o olhar na fé que nos sustenta porque sabemos que existe algo muito melhor nos esperando.”

O período da Pandemia deixou até mesmo muitos cristãos desesperados, sem fé, e nossa missão aumentou por ter que evangelizar um povo que estava descrente. Como evangelizar e fazer com que as pessoas recuperem o olhar de fé?

Enne – “Sendo testemunhas da Ressurreição. Porque assim, muitas pessoas estão pensando se Deus não estava castigando a humanidade, outras nem consideram Deus, mas pensam que o vírus foi criado em laboratório, e para salvar o mundo é a ciência que terá que entrar em ação. Mas o que o mundo precisa de fato é de cristãos autênticos. Gandhi, por exemplo, dizia que admirava Cristo, mas não os cristãos. Então o que o mundo anseia é a manifestação autêntica dos cristãos, que queiram ser outros Cristos para o mundo.

Eu acho que quando tudo isso passar, teremos um cenário de guerra, que passou e vai deixar muita desesperança, muito sofrimento. E precisamos de pessoas dispostas a viver martírios. O que é o martírio? Significa testemunho. E não se pode testemunhar aquilo que não se viu. Por exemplo, a pessoa só pode ser chamada para ser testemunha de uma cena de crime se ela tiver visto. Então assim, o mundo vai precisar de pessoas que viram O Senhor, que experimentaram dEle para mostrar que Deus existe.

É cada vez mais difícil as pessoas acreditarem em Deus, mas se os cristãos puderem ser outros Cristos para o mundo, as pessoas vão poder tocar mais nessa figura de Cristo. Eu acho que vai ser um tempo que a humanidade vai precisar muito ser reconstruída nos seus valores, nas suas crenças, em tudo, e está na hora dos cristãos assumirem o que Cristo faria. Ele quer se utilizar de nós para abraçar a humanidade. Acho que a humanidade hoje precisa desse abraço da Paz, e Deus quer se utilizar de nós para levar essa paz para o coração dos homens.”

Vimos crescer a ocorrência de doenças psíquicas na sociedade, e muitos associaram isso a Deus. Como evangelizar e convencer que, mesmo em tempos difíceis, ainda vale a pena viver?

Enne – “Santa Teresinha nos ajuda muito nisso. Porque assim, o que é a ansiedade, por exemplo? É trazer para o presente algo que ainda vai acontecer. Então a pessoa não consegue viver o hoje porque está sempre preocupada com o futuro – digo isso porque eu sou uma pessoa muito ansiosa, e tenho que me segurar para não viver no futuro.

A Pandemia acabou trazendo muita ansiedade porque a pessoa via as notícias e ficava pensando: ‘ai, isso vai acontecer comigo!’ e perdia um pouco a oportunidade de viver o hoje. Então Santa Teresinha, que foi uma santa que passou por problemas emocionais – que na época não tinham nomes específicos, mas provavelmente ela teve depressão e síndrome do pânico – foi curada pelo Sorriso de Nossa Senhora, e a cura dela trouxe para ela e para a Igreja uma grande contribuição, que foi o ensinamento de se viver o hoje, e só o hoje.

Ela viveu apenas 24 anos, mas nos ensinou a viver uma vida totalmente intensa. O testemunho dos santos é uma grande resposta para esse tempo tão difícil emocionalmente, em que todos estão afetados – acho que ninguém escapou de um momentozinho de ansiedade ou de depressão, ou querer perder a esperança.

Santa Teresinha viveu em um tempo muito parecido com o nosso, ela pegou Pandemia, uma série de revoluções na França, quando praticamente foi instaurado o ateísmo no mundo, mas ela sempre dizia: ‘Só tenho o hoje! Só tenho o hoje! Para amar nesse mundo não tenho nada mais que hoje!’ Então uma cura para que a gente possa ser feliz também é viver o hoje. Sem nos preocupar com o dia de amanhã.

Claro que não é uma coisa fácil, é uma graça de Deus também, mas o grande segredo é pedir a Santa Teresinha que nos ensine o que é a Teologia do Hoje. O que é viver o hoje, sem se preocupar demais com o amanhã. A gente nem sabe se estaremos vivos amanhã, mas a gente pode aproveitar melhor o tempo de agora.”

Um dos públicos mais afetados dessa Pandemia foram os jovens – se não o mais. Como auxiliar esse povo, cheio de sequelas, a retornar para a vida normal? Qual é a nossa missão, principalmente com os jovens nesse tempo?

Enne – “Nós temos uma missão muito importante com os jovens, porque é uma geração que foi muito afetada principalmente pelo acúmulo de informações e pelo imediatismo. Eu sou de uma geração anterior, e quando eu fazia um trabalho, não tinha uma ferramenta de pesquisa online para me ajudar em tudo. Nós temos uma geração hoje que quer a resposta muito pronta. Então eu acho que uma grande resposta que a gente pode dar ao jovem de hoje, primeiro é buscar compreender o que ele passa, ter empatia, e em segundo lugar ajudar esse jovem a viver o caminho de Cristo, que é Pascal.

Jesus não chegou na Ressurreição sem passar pela Cruz. Nos tempos atuais os jovens foram muito ensinados a pegar atalhos, e infelizmente os atalhos que o jovem pega não o ajudam a lidar com a frustração, a lidar com o que não dá certo, e a vida é inconstante. Não tem nenhuma vida perfeita nesse mundo, então vamos precisar ensinar aos jovens a vivência pascal. Jesus, para chegar à ressurreição, passou pela Cruz, então ninguém vai estar isento desse caminho.

Acho que essa é a grande sabedoria que temos para ensinar ao jovem hoje: não fugir da cruz. E devemos aproveitar também a intensidade que o jovem tem, porque quando ele acredita, ele se lança. E o nosso carisma é muito especial, porque tem esse foco direto nos jovens. Os jovens evangelizam os pobres, os jovens evangelizam as famílias, tudo com os jovens! Na Pandemia pudemos observar, por exemplo, o Shalom Amigo dos Pobres, que em todos os lugares foi sustentado pela força e pela presença dos jovens.

Precisamos contar com os jovens para tudo, porque são eles que vão nos ensinar a evangelizar outros jovens. Então a grande sabedoria é não tirar o jovem da Cruz, mas ajudá-lo a passar pela Cruz para encontrar a Ressurreição.”

Para finalizar, Enne deixou uma mensagem para todos que tem o anseio de renascer neste tempo, compreendendo que já é possível experimentar da alegria do céu, aqui na terra.

Esse é um evento muito especial. Até pelo nome dele, ‘Reviver’, em alguns lugares ‘Renascer’, ele é uma experiência de vida nova, e uma vida nova cheia de sentido. Porque às vezes podemos pensar assim: ‘se eu vou viver no céu, pra quê viver essa vida aqui na terra?’ Mas já dizia o salmista: ‘que mais teria eu no céu se não for feliz contigo aqui na terra?’ Então a experiência que deixo como uma mensagem para o Reviver é essa de descobrir a vida que nós teremos no céu, mas viver feliz desde já nessa terra. Que mais teria eu no céu, se já não for feliz aqui nessa terra? – Enne Karol

Por Mariana Figueiredo


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