O aprofundamento da nossa fé realiza-se por meio da renúncia aos sistemas de segurança que possuímos e de tudo aquilo que suscita em nós uma sensação de força, de poder e de importância própria. Despojarmo-nos significa criar em nós um espaço para a fé que exige a humildade. É uma graça inestimável esta, em que Deus, despojando-te das tuas forças e do teu poder, te aproxima mais d’Ele e, colocando-te em verdade, faz com que precises, cada vez mais, d’Ele.
Disse S. João da Cruz que Deus dedica maior amor a uma alma quando a despoja, pois desse modo o homem pode então ter acesso à plenitude da fé.
Se não encontras apoio em qualquer sistema de segurança, Deus pode atrair -te de modo a que te apoies exclusivamente n’Ele, verdadeiro rochedo da tua salvação. A graça do despojamento é um dom particular do Espírito Santo que despoja o homem antes de descer sobre ele. Mas frequentemente não compreendemos a atuação do Espírito Santo. Sabemos que Ele é Poder, Consolação, Amor do Pai e do Filho, todavia esquecemos quase sempre que é Ele o principal Construtor da nossa santidade. É, pois, Ele que realiza todo o processo indispensável para percorrermos o caminho de união com Deus, caminho que compreende, quer elementos atrativos, quer elementos purificadores, ou seja, elementos do nosso despojamento. O nosso despojamento é executado pelo Espírito Santo; é ele que nos torna pobres porque Ele é, como dizemos na sequência da missa do dia de Pentecostes, o Pai dos pobres; é pois Ele quem distribui os dons.
Pode porventura dizer-se que o Espírito Santo nos concede Seus dons para nos tornar mais ricos? Decerto que não, pois isso estaria em desacordo com o Evangelho que define a riqueza como uma “maldição”. O seu dom consiste em nos despojar e em nos empobrecer ainda mais para nos tornar abertos ao Seu Poder e ao Seu Amor. Só então Ele próprio Se tornará num dom para nós, uma vez que pode então descer nesse vazio do nosso despojamento e enchê-lo com o Seu infinito Poder e com Seu infinito Amor.
Um dos aspectos mais importantes deste despojamento por meio do qual o Espírito Santo nos prepara para a sua “descida” é o despojamento da imagem falsa que temos de nós próprios, libertando-nos, desse modo, da mentira. São João, no seu evangelho, transmite-nos a promessa de Cristo, de que o Consolador – o Espírito Santo – pela Sua vinda há de convencer o mundo do pecado (cf. Jo 16,8). Portanto uma das funções do Espírito Santo ao descer em nós no Sacramento do Crisma é a de convencer-nos do nosso pecado, o que equivale a dizer, conceder-nos o dom da humildade. Trata-se de uma graça fundamental do Espírito Santo, através da qual podemos descobrir quem somos realmente, reconhecer que somos pecadores, homens de pouca fé.
Se te sentes seguro de ti, se até agora não descobriste a tua condição de pecador e se, pelos teus próprios meios, te desvencilhas de tudo, significa então que, na realidade, não precisas do Espírito Santo. A atitude de presunção e de falta de humildade fecham a porta do teu coração à Sua vinda. Se não te sentes pecador, não podes desejar a intervenção salvífica do Espírito Santo na tua vida e, por conseguinte, não consegues receber as graças inerentes ao Sacramento do Crisma. A humildade e a fé são dons fundamentais do Espírito Santo que nos abrem à sua descida, cada vez mais intensa, e a receber o dom que Ele faz de Si próprio.
Trecho do livro Meditações sobre a fé – Tadeusz Dajczer
