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Eu fui violada durante uma viagem de negócios

Meu marido e eu escolhemos a vida!

comshalom
Foto: Unsplash

Em janeiro passado, durante uma viagem a negócios, eu fiquei hospedada em um pequeno hotel de uma cidade universitária. Acho que, geralmente, sou mais cuidadosa com o que acontece ao meu redor, mas havia tanta neve e vento que eu não teria ouvido os passos dele nem sequer se ele viesse pisando com força.

Aconteceu tudo muito rápido. A porta foi aberta, eu me virei para fechá-la e lá estava ele. Um homem corpulento. Meu primeiro instinto não foi de medo, mas de confusão. No instante seguinte, ele me deu um soco no rosto. Eu não me lembro de ter sido arrastada do quarto, mas fui encontrada na escada. Não sei por que. Talvez, eu tenha tentado correr e pedir ajuda.

Os exames depois do estupro deram negativo para HIV, gonorreia, clamídia, sífilis, herpes e dezenas de outras coisas das quais eu nunca tinha ouvido falar. Deus é misericordioso.

Seria “fácil lidar com isso”

No mês seguinte, eu estava escalada para trabalhar em um navio de cruzeiro. No segundo dia, tive uma disenteria e não melhorei com os antibióticos. Fui levada para um hospital quando ancoramos em Cartagena, Colômbia. Passei por um ultrassom para averiguar se havia alguma obstrução intestinal. Foi quando descobrimos que, dentro de mim, existia algo do tamanho de uma ervilha. Era o meu filho.

De novo a bordo do navio, contei aos médicos uma versão abreviada da minha história, o que os levou a me colocar em quarentena. Medo de suicídio? Risco de um surto psicótico que me fizesse correr nua pelo navio? Quem vai saber… O que eu sei é que passei a semana seguinte ouvindo uma equipe muito bem intencionada de médicos e enfermeiras me consolando e dizendo o quanto seria “fácil lidar com isso”. Traduzindo: seria “fácil” matar o bebê e “seguir a vida”. Fácil???

Vai ficar tudo bem

Muitas coisas foram discutidas naquela semana em vários telefonemas transatlânticos para casa, cheios de ruídos na linha e de lágrimas no meu rosto, mas aquela tal possibilidade de “lidar com isso” nunca saiu dos meus lábios. Nem do meu marido. Quando eu disse a ele que estava grávida, ele respondeu com a voz calma e firme: “Certo… Certo… Está tudo bem. Está tudo bem, ok?”.

Perguntei: “O que você quer dizer com tudo bem?” 

“Eu quero dizer que nós vamos conseguir. Nós vamos passar por isso. Vai ficar tudo bem. E… Eu amo bebês. Nós vamos ter outro bebê! Meu amor, isto é um presente. É algo maravilhoso, que veio de algo terrível. Nós vamos conseguir!”.

E eu comecei a sentir a movimentação da alegria pela vida nova que se desenvolvia no meu ventre, florescendo sob o meu coração! Esse novo amor cresceria com tanta garra que acabaria com qualquer hesitação ou angústia. E o meu marido estava certo: nós íamos conseguir!

Ela tinha lágrimas nos olhos

Na minha última manhã a bordo do navio, eu disse àquela equipe solidária: “Se alguma vez vocês pensarem neste assunto, se algum dia vocês se perguntarem o que aconteceu comigo, saibam que eu tive um lindo bebê em outubro de 2014”. A reação deles… os olhares em seus rostos… A médica que tinha me empurrado o aborto com mais veemência do que os outros… Ela tinha lágrimas nos olhos. Pela primeira vez, eu pensei que Deus iria saber o que fazer com aquilo, com aquele pesadelo que eu tinha sofrido.

Eu moro na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. O doutor que fez o parto dos meus dois filhos estava concorrendo nas primárias republicanas para o Senado. Ele tem que responder às pessoas o tempo todo sobre aquela questão infalível: “E em casos de estupro?”.

Bom, no meu caso, o meu filho vai ter voz. Mas até ele poder usá-la, é responsabilidade minha e privilégio meu falar por ele.

Durante a gravidez…

Durante a gravidez, eu entrei e saí do hospital uma série de vezes. Fiquei mais dentro do que fora. Tive pré-eclâmpsia e pressão arterial elevada. Foi aterrador quando, na 26ª semana, eles me disseram que provavelmente eu teria que dar à luz naquela noite. Aterrador porque eu queria desesperadamente que o meu filho vivesse!

Mas nós conseguimos atravessar todo aquele susto. Eu precisei ficar em repouso absoluto, mas pelo menos estava em casa. Cada semana depois disso foi ainda mais incrível, com a expectativa do quanto eu ficaria feliz quando ele finalmente chegasse aos meus braços em segurança. Na parte emocional, eu estava indo muito bem.

Tínhamos uma equipe de médicos muito abençoada. Tudo é questão de confiar plenamente. Não era algo novo. Eu tinha me sentido completamente fora de mim desde aquela violência sofrida em janeiro. O meu mundo tinha sido abalado e não voltaria a ficar bem até que o meu filho nascesse.

Nosso pequeno menino é um dom de Deus

Nós somos sobreviventes. Não somos apenas vítimas. E foi o meu filho quem me curou.

Mas tudo aquilo me livrou da atitude arrogante e autossuficiente de dizer a Deus: “Está tudo bem, eu encaro isso”. O nosso pequeno menino pode ter sido concebido num ato de violência, mas ele é um dom de Deus, um presente delicioso que preencheu em nossa família uma lacuna que eu nunca tinha percebido que existia. Ele nos tornou completos!

Eu me sinto profundamente grata por ter entrado em contato com outras mães que também engravidaram depois de sofrer um estupro. Nós somos sobreviventes. Não somos apenas vítimas. E foi o meu filho quem me curou.

A pressão da comunidade médica para abortar me abriu os olhos de uma forma impactante. Eles me disseram muitas vezes o quanto seria “simples” e rápido “lidar com isso” e “seguir a vida” depois que tudo “aquilo” tivesse acabado. Era de partir o coração ter que ouvir isso vezes e mais vezes. Mesmo alguns amigos achavam que ter o bebê era um erro, que eu não seria capaz emocionalmente.

Mas toda vez que nós, mães sobrevivente de estupro, compartilhamos as nossas histórias, saímos mais fortalecidas e fortalecemos os outros. Afinal, quantas vidas podem ser poupadas quando se conta com esse apoio e com essa coragem?


Comentários

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  1. “Matar uma criança” é só a droga de um feto, que um homem ASQUEROSO, VIOLENTO e CRIMINOSO plantou nela. Como o marido foi capaz de apenas aceitar? Crianças não são bênçãos de Deus, ainda mais se vierem do modo que esta criança veio. PÔ, A MULHER FOI ESTUPRADA E NEM LIGOU! Tem tapado pra tudo nesse mundo, credo.
    Quero ver quando ela começar a se arrepender. Quando o marido olhar pra criança e se sentir traído, criando um bastardinho oriundo de um ato sujo. Vai largar ela e a mulher vai virar mãe solteira, pra aprender a lição da vida.

    1. A “Droga de um Feto” vc também foi. Da mesma maneira que ela optou pela vida, sua mãe optou por ter vc. Deus tem planos nas nossas vidas, os melhores que nem podemos imaginar e nem por isso você, deveria se julgar a droga de um feto.
      Eu fui abandonada pelo pai, passei fome, morei em favela, sustentei minha mãe e nem por isso sou revoltada com a vida, sou a favor Dela. Pq o assim como o amor de Deus foi capaz de curar as lacunas do meu pai, de um estupro q sofri, das necessidades q passei, ele também foi capaz de preencher o coração e o seu se vc permitir. Jeovania Amorim, Fisioterapeuta Dermato funcional, pesquisadora, Filha De deus, noiva e feliz na minha vocação.

      1. Parabens Jeovania pela coragem de dar o seu testemunho.
        Realmente, as pessoas que nao tiveram essa experiencia com o Amor verdadeiro, que deu a sua vida por nos, nao conseguem entender que o amor nos torna capazes de tomar decisoes tao dificeis quanto essa. So quem se sente amado, tem a coragem de amar, de escolher aquilo que talvez nao seja o mais facil, mas seja o melhor, de nao pensar so em si mas de escolher o bem do outro. Aqueles que pensam que esta e uma historia falsa, eh porque na verdade, nao experimentaram do verdadeiro amor e acabam medindo as atitudes e a coragem dos outros pelas suas proprias covardias e medos. Mas nao sao as palavras que convencem, e sim, o testemunho de inumeras vidas que se deixaram tocar e curar pelo Amor de Deus.
        Aos que preferem ficar no comodismo da critica julgando que eh uma historia falsa e acreditando em tudo o que a televisao diz, convido a participarem da vida real e conhecerem a historia de coragem daqueles e daquelas que optaram pela vida.
        Shalom!

  2. Mais nem sonhando! Tira essa coisa de dentro de voce! Isso não é fruto do amor nunca, é fruto de uma violencia! Isso não é valorizar a vida, é valorizar a hipocrisia!