Outro dia, me veio à memória a seguinte frase da música Malandragem, da cantora Cássia Eller: “Eu sou um poeta e não aprendi a amar”. A primeira coisa que pensei foi ”Por que ninguém ensinou o pobre do poeta a amar?”, a segunda, “Será que ninguém tentou ensinar?”.
No amor, assim como a maioria das lições, o processo de aprendizagem necessita de uma referência. Talvez seja por isso que o poeta da música não tenha aprendido amar, talvez tenha faltado bons professores, ou melhor, boas referências. Arlindo Cruz também anda meio perdido, em uma de suas músicas ele diz “Se perguntarem o que é o amor pra mim, não sei responder, não sei explicar “, tão perdido quanto eu nas provas de química, na época do ensino médio.
São João evangelista, bem menos perdido e muito mais direto, ressalta que “Deus é amor”, e aí podemos encontrar a divergência daqueles que não acreditam em Deus. Frei Raniero diz: “Discute-se, sem fim, e não só de hoje, se existe Deus. Mas eu acho que o mais importante não é saber se Deus existe, mas se Ele é amor. Se, por hipótese, Ele existisse mas não fosse amor, teríamos mais a temer do que a nos alegrar com a sua existência, como ocorria nos primeiros povos e civilizações. A fé cristã nos assegura justo isso: Deus existe e é amor!”. Todos os que não acreditam em Deus jamais fizeram a experiência do amor dEle, só tiveram de Deus a experiência “poética”, “teórica” (quando tiveram), e julgaram a poesia como ruim e a teoria como falha. Só que Deus não é poesia, muito menos teoria. Deus é uma pessoa. E, como pessoa, ele deseja se relacionar conosco. Eu posso me relacionar com Ele caso queira.
“Quem sabe eu ainda sou uma garotinha, esperando o ônibus da escola sozinha…”. A maior prova de que Deus deseja se relacionar com o homem, é justamente a encarnação de Jesus Cristo, o Amor que se faz homem, e que caminha e se comunica com os homens. Talvez nossa poetisa, não tenha conseguido aprender a amar, porque estava “sozinha”. Sozinho se chega a muitos lugares, até mesmo à escola, mas não se chega ao amor, sozinho não se chega a amar, porque o amor, pra ser exercido, necessita de um outro. A verdade é que antes de Cristo, o mundo inteiro era como uma garotinha, sozinha, esperando o ônibus que a levasse para algum lugar, onde aprenderia a amar, porém a escola de amor não existia, os referenciais não eram claros. Ele -Cristo- esclarece a questão porque aproxima o diálogo. A humanidade acostumada com deuses que habitavam em montes distantes como o Olimpo, conhece um Deus que se faz um com eles. O homem estava tão só, tão perdido em sua escuridão, que, pra encontrá-lo, Deus tornou-se humano para que o homem não estivesse mais só. Resgatou o homem que, cansado, rezava baixo pelos cantos sem esperança de ser ouvido; o homem que achava que a vida era não sonhar. Jesus dá a esse homem uma nova perspectiva, toma-o consigo e o leva, não à escola, mas a Deus.
“O mais importante do amor de Deus não é que o homem ama a Deus, mas que Deus ama o homem e o ama “primeiro””¹ .
O personagem da nossa música, ora poeta, ora garotinha, não aprendeu a amar, e, talvez, não aprenda nunca, mas nem poeta, nem homem algum, jamais deixará de ser amado. Deus em sua bondade nunca deixará de amar o homem. Nunca deixará de demonstrar o seu amor. Nunca deixará de tentar fazer o homem feliz.
[¹] Frei Raniero Cantalamessa (segunda pregação de Quaresma 1º de abril de 2011)
Esse texto é um dos melhores do comshalom! top top top!
Pena que não vejo mais textos dele no site!
Ele tem que voltar a escrever!