Quando entrei naquele avião, não sabia o que encontraria na chegada. Foram dias de ansiedade até o momento daquela viagem. Pensei que seria o início de uma nova etapa da minha vida. Pensei realmente que tudo seria diferente. Tem vezes que a gente se apega a isso: mudamos de lugar, mudamos de postura. Mas não é bem assim. Ao longo desse tempo em que estou por aqui, aprendi que a verdadeira mudança é interior. Não adianta colocar adereços, enfeites ou mesmo máscaras… Ou muda ou muda. Essa é a única opção em uma experiência missionária.
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Bom, comecei de forma abruta a minha história. Por enquanto, não quero me apresentar, mas vou explicar como fui parar naquele avião. Se você se identificar com a minha história, talvez até entenda os desafios que vivi. Por outro lado, se para você tudo o que eu vou dizer for algo novo, não se desanime ou mesmo se assuste. Então, vamos lá. A história é simples, eu resumiria como a jornada de alguém que descobriu algo e tentou viver como se esse algo não fosse importante.
Tudo começou assim…
Era noite de verão. Eu estava em Granada, na Espanha. O verão europeu é sempre um absurdo de quente. Então, eu não estava conseguindo dormir. Fui até a varanda do meu quarto e comecei a observar as estrelas. Percebi que o brilho delas era encantador. Estava tudo escuro, mas as luzes do céu ilumina tudo o que era preciso. Os colegas do quarto conseguiram dormir, apenas eu estava de pé. No dia seguinte, nós iríamos participar de algumas atividades esportivas. Estávamos em um acampamento, que na verdade era um retiro.
Bom, voltando para as estrelas, ao olhar para elas ao redar da lua fiquei lembrando de uma cena que tinha vivenciado mais cedo. Estávamos todos em um salão, participando de um momento de oração diante do Santíssimo Sacramento. Nós éramos como aquelas estrelas ao redor da lua. O Santíssimo Sacramento tinha um brilho tão grande que também nos fazia resplandecer. Nele momento, me veio o entendimento de que eu também era chamado a fazer reluzir a luz de Deus para o mundo. Por alguns instantes, pensei que era delírio devido ao calor.
No dia seguinte, cheguei a conversar com um padre sobre esse meu pensamento. Ele ficou surpreso e ao mesmo tempo feliz com a forma que eu tinha conseguido perceber as coisas que aconteciam no acampamento / retiro. Ele me disse ainda para ficar tranquilo, pois logo entenderei muito melhor tudo isso. Bom, fiz isso. Vivi o que precisa viver ao longo dos dias que sucederam, mas sempre com uma inquietação dentro do meu coração.
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A volta para casa e nova partida
Quando cheguei em casa, comecei a me questionar sobre o meu lugar, sobre a minha missão, sobre o que eu deveria fazer com aquela informação que tinha percebido na madrugada durante o retiro. Bom, não tive muitas respostas, mas uma coisa era certa eu não poderia viver do jeito que estava. Nunca fui um bom rapaz, reconheço. Reclamar era meu principal hobby. Não sabia bem ser agradecido e, por não saber, preferia não agradecer. Meu pais até notaram que eu estava diferente e tentaram me ajudar a viver a nova fase da minha vida.
No entanto, eu não permiti. Não queria ajuda de ninguém. Aliás, não queria mudar. Estava irredutível em relação a isso. Continuei minha vida, indo para a escola, trabalhando e convivendo com os meus colegas. Fui convidado para participar de um grupo de oração. Aceitei. Afinal, tinha participado do acampamento e tinha sido bacana. Mas, fora isso, tudo seguia igual até eu encontrar novamente o padre daquele dia. Ele me perguntou se eu já havia entendido tudo. Claro que não! Essa foi a minha resposta para ele.
O sacerdote era jovem, usava óculos modernos e costumava falar rápido. Ele pediu para que eu vivesse uma experiência missionária. Eu não entendi bem, pois não sabia o que era aquilo. Mas ele me falou que a experiência missionária era o momento em que as estrelas – daquele meu pensamento – se aproximavam muito mais da lua. Bom, entendi o que ele tinha falado: era um momento de me aproximar mais de Deus. De cara, pensei em não aceitar, mas resolvi dar uma chance. Afinal, seria somente até o final do verão.
Experiência missionária
Quando desci do avião me deparei com a beleza da Itália, especificamente de Roma, coração da Igreja. Estou vivendo a minha experiência missionária nesta terra. E, sim, o principal aprendizado que já adquiri em poucos dias é que, de fato, não adianta máscaras, adereços ou mesmo enfeites. A mudança precisa acontecer no interior, o exterior é consequências. Aliás, quando eu digo mudança, não digo no sentido de me “enquadrar” em um padrão. Pelo contrário, digo no sentido de assumir a essência da minha vocação, do meu chamado, e nessa essência ir crescendo e amadurecendo, porque, afinal, o verdadeiro progresso é interior. Ah agora sim posso me apresentar: sou um jovem em missão.