Uma marca característica da sociedade contemporânea é o processo de desconstrução cultural, especialmente no que tange às instituições que antes serviam de referência e segurança para o indivíduo e para a sociedade, como a família. Hoje, portanto, tudo aquilo que representa tradição é visto com desconfiança, como ameaça à liberdade e à individualidade do sujeito.
Assim, vemos um distanciamento cada vez maior da forma de conceber o ser humano, daquela visão tradicional e cristã. Paradoxalmente, é exatamente nos escombros das diversas tradições que muitos contemporâneos buscam as pedras para construir os fundamentos dos seus novos ideais.
A voz da tradição na família
Essa rejeição aos sinais do passado também afeta a relação com os idosos, e isso fragiliza o futuro das próximas gerações. Na sociedade pós-moderna, preocupada com a eficiência e a realização de si, os idosos são, muitas vezes, desprezados e abandonados, como representantes incômodos do século do qual se pretende apagar a lembrança.
Mas como explicar que, mesmo assim, milhões de pessoas se sentem representadas por um ancião que, da sacada da janela de um prédio antigo, fala com voz cansada e firme: “Eu pertenço à geração que viveu a segunda guerra mundial e lhe sobreviveu.
Tenho o dever de dizer a todos os jovens, aos que são mais jovens do que eu, que não tiveram esta experiência: Nunca mais a guerra!”; se sentem igualmente confortadas por outro ancião que proclama: “Quem deixa entrar Cristo, nada perde, nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida” e continuam a se sentirem compreendidas e motivadas, por um ancião que declara: “O desenvolvimento econômico deve ter o rosto humano. Digamos não à uma economia sem rosto!”
Não seria este um sinal de que os valores humanos fundamentais, como a vida, a dignidade humana, a liberdade e a paz, valores muitas vezes negados e desprezados, continuam vivos no íntimo de cada homem e mulher, esperando uma pequena fagulha para reacender, de novo, a chama?
A ênfase na individualidade e na experiência pessoal, que são características da atual sociedade, tem suscitado, segundo alguns autores, “o retorno do sagrado”.
A modernidade tratou de expurgar Deus e a religião da condição humana. Feuerbach e os mestres da suspeita – Marx, Freud e Nietzsche – compuseram uma crítica tão feroz ao sistema religioso que despontava no horizonte moderno a certeza da inutilidade de Deus na vida do ser humano. Religião era então alienação, ilusão, dependência paterna, imaturidade.
Quanto mais cresce o materialismo e o individualismo contemporâneo, cresce também a procura pelo bem-estar interior através de experiências místicas. Embora muitas vezes essa busca de Deus na cultura contemporânea apresente características individuais e de rejeição a vínculos institucionais religiosos, ela revela a inesgotável sede de Deus que habita no coração humano. A busca de Deus é também a busca pelo sentido, não apenas do sentido último, mas do sentido de cada fato e sobretudo do sentido do sofrimento.
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Remédios para as grandes feridas do tempo presente
Ao escrever para as famílias, João Paulo II enfatizou que é necessário sabedoria para discernir os sinais dos tempos e para enraizar na família e, por ela na sociedade, os verdadeiros valores, pois “mais do que os séculos passados, o nosso tempo precisa de uma tal sabedoria, para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Está ameaçado, com efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria”, Gaudium Et Spes, 15.
A sabedoria para reconstruir a sociedade está, portanto, na reconstrução da família. E como isso é possível? O ponto de partida é a redescoberta da sua identidade.
O sacramento do matrimônio não é uma convenção social, um rito vazio ou o mero sinal externo dum compromisso. O sacramento é um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque “a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja. Os esposos são, portanto, para a Igreja a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o sacramento os faz participar”(Amoris Laetitia, 15).
A redescoberta da própria identidade equivale a um caminho de retorno às próprias origens: ao amor, ao perdão, ao diálogo, à doação total de si em vista do bem do outro. Tudo isso é possível quando o amor é alimentado e a escolha recíproca é renovada a cada dia.
Como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimônio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano; estaríamos privando o mundo dos valores que podemos e devemos oferecer. É verdade que não tem sentido limitar-nos a uma denúncia retórica dos males atuais, como se isso pudesse mudar qualquer coisa.
De nada serve também querer impor normas pela força da autoridade. É-nos pedido um esforço mais responsável e generoso, que consiste em apresentar as razões e os motivos para se optar pelo matrimônio e a família, de modo que as pessoas estejam melhor preparadas para responder à graça que Deus lhes oferece (Amoris Laetitia, 15).
Apesar dos enormes desafios socioculturais que encontramos para o desenvolvimento sadio de uma família cristã, é necessário reafirmar que “só haverá um mundo novo se houver famílias novas”; famílias que escolhem amar, que escolhem perdoar, que escolhem partilhar; famílias que escolhem valorizar a vida e dedicar mais tempo ao outro do que às coisas ou a si mesmo. Dessa forma o mundo torna-se missão onde a família cristã testemunha os valores perdidos, mas desejados por muitos.
Josefa Alves dos Santos
Missionária da Comunidade Católica Shalom
Doutoranda em Teologia Sistemática pela PUC-Rio
Congresso das Famílias 2021
Com o tema “O amor vencerá tudo”, o Congresso das Famílias 2021 acontece em junho no formato virtual. Neste ano, a edição do evento reunirá famílias do Brasil e também de outros países da América Latina. Entre os pregadores do encontro, estão Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Católica Shalom, e Emmir Nogueira, co-fundadora.
Assista ao Teaser do Congresso
Serviço
Serviço: Congresso Latino-Americano das Famílias 2021
Data: 26 e 27 de Junho de 2021
Horários: das 9h às 12h (todos os dias), com webnários exclusivos para os assinantes no período da tarde.
Para saber mais sobre o evento e planos de inscrição [CLIQUE AQUI]
Você pode seguir o Instragram @familia.shalom , inscrever-se no Canal das Famílias Shalom no Youtube e acompanhar as novidades.
A modernidade tratou de expurgar Deus e a religião da condição humana. Feuerbach e os mestres da suspeita – Marx, Freud e Nietzsche” –
Esses pensadores e filósofos não trataram de expurgar Deus e a religião da condição humana, o que existe é um preconceito contra esses pensadores, muitos considerados pela humanidade intelectual. O caso é de que na sua época, como hoje a religião era usada como uma forma de dominação política e econômica. E o nome de Deus usado para fazer guerras, como as Cruzadas. No Brasil, na última eleição um candidato a Presidência usou o nome de Deus como slogan na sua campanha, ao mesmo tempo que colocava o gesto de um arma na mão também como plataforma política. E quando eleito a primeira coisa fora liberar a mama de fogo para armar a população, além, de uma política econômica da extrema direita; com um ídolo do capital financeiro. E mais de 230 mil mortes pela Covid-19, quando poderia ser evitadas essas mortes dos filhos de Deus se tivesse as providências necessárias revessem sido tomadas providências o início da pandemia, quando o mesmo considerou “uma represinha”, usando dinheiro público na compra de remédios que não têm comprovação para o tratamento do vírus do novo corona vírus, desconsiderando a compra de vacinas da CORONAVAC. O corte do auxilia emergencial, aumentando mais a pobreza e a miséria, com uma fome generalizada. E o aumento constante do preço do gás de cozinha, ligado ao capital internacional do dólar. Como se referiu o Papa Francisco: “É uma estrutura de morete”.
Diácono Marcos Antônio França de Oliveira. (Arquidiocese de Natal).
Natal, 14 de fevereiro de 2021.