Logo depois da Epifania temos o Batismo de Jesus, um dos momentos mais importantes da vida de Jesus. É no batismo que ele é consagrado pela força do Espírito Santo na sua missão de revelador do mistério do Pai, missionário da verdade. Nunca podemos esquecer a voz que se ouve no momento em que Jesus é batizado: “este é meu Filho muito amado, escutai-o!”
A Beata Elisabete da Trindade, uma mística carmelita descalça que quem neste ano passado celebramos o centenário de sua morte (1880 – 1906), na sua oração dirigida à Santíssima Trindade, dirigindo-se ao Verbo eterno, Cristo diz: “quero passar a vida inteira a escutar vós!” É na escuta de Jesus que a nossa vida se faz nova, e sempre por Ele somos chamados a uma permanente transformação, uma conversão que nunca tem fim porque sempre teremos algo para mudar o nosso caminho.
O texto das bodas de Caná (Jo 2, 1-11), onde Maria e Jesus se encontram preocupados pelo bem dos outros e unidos para aliviar os sofrimentos da humanidade, nos é transmitido somente pelo evangelista João. Eu gosto imensamente das bodas de Caná. É algo que cala profundamente no meu coração e que gostaria que todos nós amássemos este episódio com muito carinho especial.
É uma festa de casamento. Na vida da maioria das pessoas o casamento é a festa mais importante e o sacramento do amor que mais revela o amor infinito de Deus. É o encontro e consagração recíproca de dois corações que se amam e que se decidem dar-se totalmente um ao outro. Na festa de casamento nunca pode faltar nem Deus nem a Virgem Maria nossa mãe. Presenças portanto marcantes e que tem um significado grande para nós. João narra com simplicidade, e nos diz que Maria “foi convidada”. Os olhos de Maria-mãe estão atentos a tudo, contemplam, olham para ver se tudo está pronto e se nada falta. Os olhos de Maria, olhos de amor, embora ela não fosse a responsável da festa, percebem que falta o vinho. Ela não cruza os braços, não faz de conta que não vê, não se esconde do seu intimismo. Mas ela toma as providências. É esta mensagem que devemos aprender nas bodas de Cana na Galiléia.
Na escola de Maria somos contemplativos de olhos abertos e não de olhos fechados. Se Maria estivesse toda “abismada em Deus,” olhos fechados, não teria visto que faltava vinho. Quem reza como quem vive preocupado consigo mesmo não vê o que falta ao seu redor. É necessário que na vida, que é festa mas não somente nossa mas de todos, estejamos sempre prontos para perceber o que está faltando para que a festa seja completa. Maria comunica Jesus. É a oração de intecessão. Suplica, pede, intercede, mas não obriga Jesus, não impõe. São João da Cruz diz que a mais bela oração não é pedir, mas sim apresentar as nossas dificuldades. Deus, que vê a nossa situação, virá em nosso socorro.
Como é maravilhosa, delicada, mas também firme a resposta de Jesus: “que temos nós com isso? A minha hora ainda não chegou!” Jesus quer manifestar assim que seria necessário esperar o momento certo, a “hora não chegou”. Maria tem um convite a fazer a todos nós: “fazei tudo o que ele vos disser!”
Esta docilidade de Maria diante do projeto de Deus apressa o tempo de Jesus e ele opera o milagre. Transforma a nossa água, a nossa humanidade no vinho novo da graça e do amor. Se nos deixarmos transformar por Deus, tocar pelo seu amor, nunca faltará o vinho do amor na festa da vida. Qual é o vinho que falta na festa de hoje? Da fé, do amor, da solidariedade, do perdão? E o que você faz para que isto não aconteça?
Senhor, queremos aprender com Maria a não pedir milagres, mas a apresentar s nossas necessidades para que Jesus, olhando para a nossa pobreza, transforme a nossa frágil humanidade no vinho novo do amor e da vida. Amém!
Frei Patrício