Quarenta dias depois do natal, no dia dois de fevereiro, a Igreja celebra a festa da Apresentação do Senhor. Na Igreja de rito oriental, é também conhecida como festa do Encontro e/ou dos encontros.
Para melhor compreendermos e sermos introduzidos nesse mistério, é necessário questionarmo-nos em relação ao significado dessa apresentação e desse encontro. Quem é apresentado? Com quem devemos nos encontrar? Tanto o sentido da apresentação, como o do encontro nos impulsiona e convida, a fazermos uma experiência com o Deus que por amor a nós, se inclina e misericordiosamente manifesta a sua grandeza no seu Verbo que ao se encarnar, apresenta-se com luz para dissipar as trevas do nosso erro e do nosso engano.
Esse encontro, é encontro de Deus com seu povo, encontro com a Mãe de Deus, com José, com Simeão e Ana, e certamente com o Menino. Com todos eles nos encontramos e contemplamos as promessas de Deus que se revelarão nas profecias que acompanharão esse momento.
A festa da Apresentação do Senhor aponta para o seu doce abaixar-se, isto é, depois dos quarenta dias do seu nascimento, o Verbo Eterno, Senhor das coisas visíveis e invisíveis, se coloca submisso à Lei (cf. Gl 4,4) sendo apresentado pelos seus pais para que assim à Lei se cumprisse. O Varão primogênito, é apresentado a Deus, segundo a própria descrição da Lei, que descreve que “todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” .
Eis aqui a grandeza e a beleza dessa festa, Jesus, o Verbo de Deus entregue por nós, para nossa salvação, se deixa conduzir pela primeira vez ao Templo, onde também pela primeira vez é apresentado pelo velho Simeão, como luz para as nações, como sinal que traria a esperança para toda a humanidade.
Na narração bíblica (Lc 2,22-40), o autor sagrado descreve a Apresentação do Senhor destacando como vimos acima, personagens que compõe o ícone da manifestação da Boa Nova messiânica. São eles, portadores de uma nova alegria e de uma nova esperança, que trarão para todos nós a certeza de uma vida nova.
A festa da Apresentação do Senhor é também sinal do encontro daqueles que foram separados, consagrados, para serem sinais da alegria que jamais passará. Eis para nós cristãos, o sentido dessa festa, dessa manifestação: o encontro da Glória de Deus, pelo Verbo, com o nosso nada. E é a partir desse encontro que Ele deseja nos recriar no seu amor.
O sentido real do encontro destaca-se principalmente pela força das experiências que foram vivenciadas a partir da manifestação do Verbo. Podemos destacar assim a experiência concreta da obediência de José e de Maria, que se deixam esvaziar cumprindo em tudo a Lei do Senhor, conduzindo o Menino para ser apresentado como consagrado do Pai, O CRISTO, primogênito da nova criação. Podemos destacar também a docilidade e atenção do velho Simeão e da profetiza Ana, que atentos aos sinais dos tempos, profetizam os acontecimentos que estariam por vir. Em maior profundidade destaca-se a experiência da Santíssima Virgem, que sendo aquela que carregou em si o mistério, é também a obediente, que apresenta seu Filho ao Pai, como oferta incondicional. Ela é mãe d’Aquele que é manifestado como a Glória de Israel e Luz que iluminará as nações. A sua fé nos introduz no mistério que se encarna na historia da salvação, que não se detém somente na encarnação, mas se consumará na sua união à oferta amorosa do seu Filho na sua morte e ressurreição; este é o sinal profético nas palavras de Simeão (cf. Lc. 2,34-35). Assim o Menino é ofertado a Deus como verdadeiro Cordeiro, que veio para redimir o pecado do mundo.
O que essa festa traz para nós como experiência concreta? Antes de tudo, a necessidade urgente de nos unir ao Pai, pelo Verbo, com todo nosso coração e nossa vida, reconhecendo Nele o autor da nova criação. Essa necessidade se concretiza na vivência radical do nosso batismo, a nossa consagração primeira, que nos marca de forma indelével, tornando-nos um povo separado, consagrado para o nosso Deus.
Nesta festa da Apresentação do Senhor, a Igreja celebra igualmente o dia da vida consagrada, ocasião oportuna para rendermos a Deus o louvor e agradecê-lo pelo dom inestimável da consagração, que é para todos os batizados e, de forma especial, para aqueles que receberam um chamado de viver em suas vidas uma união intima com o Senhor através de uma vocação ou carisma específico. Sendo assim, sinal de comunhão e de colaboração com a manifestação do Reino de Deus.
Livandro Monteiro
Assessoria Litúrgico-sacramental