O arco-íris é o sinal mais sagrado que Deus quis colocar no céu depois das tempestades. Ele o fez para se lembrar da Sua promessa feita a Noé, de que por nenhum pecado humano, por maior que seja, ele destruiria a humanidade, obra de Suas mãos. O arco-íris é também sinal que recorda ao homem que ele deve ser fiel à aliança feita, de que deve agir segundo a Palavra de Deus. O ser humano faz este sinal, no entanto, ter tantas outras leituras e interpretações que não têm nada a que ver com o seu primeiro objetivo.
É belíssima a leitura da Sagrada Escritura sobre os sinais. Nós necessitamos deles, mas, para interpretá-los no sentido certo, precisamos ir à escola de Deus.
Os sinais da Quaresma
O caminho da Quaresma é cheio de sinais que escondem em si mesmos uma mensagem para a vida eterna e não o fazem somente como cenografia superficial e aparente da vida.
O sinal do jejum é um deles: podemos jejuar por muitos motivos, a dieta, por exemplo, se faz para emagrecer, devido a questões de saúde; algumas vezes, se faz por razões estéticas; e, finalmente, por questões religiosas, as mais diversificadas razões.
Na nossa fé, o jejum é uma maneira de rezar e entrar em comunhão com Deus. É uma mortificação de coisas inúteis e supérfluas, que não se reduzem ao alimento. O jejum pode ser também uma participação dos sofrimentos de tantas milhões de pessoas que são obrigadas a passar fome.
São Basílio dá ao jejum um sentido teológico e antropológico, quando diz: “O alimento que você não comeu hoje, por ter jejuado, não lhe pertence mais, mas sim aos pobres”, porque há o jejum avarento, simplesmente para poupar dinheiro e aumentar o patrimônio.
No início da Quaresma, na quarta-feira que se chama Quarta-Feira de Cinzas, as pessoas vão religiosamente à igreja – muitas vezes depois dos exageros do Carnaval –, para receber as cinzas, achando que assim todos os pecados são perdoados por receberem um pouco de cinza na cabeça, uma prática que, para muita gente, não passa de superstição.
Este é um sinal, no entanto, que deve ser lido à luz da Palavra de Deus. Como tal, nos recorda duas realidades concretas. A primeira delas é de que nós somos passageiros nesta terra, que viemos do pó e a ele tornaremos, isto de acordo com a linguagem da criação do ser humano, segundo o Gênesis, que é já um sinal em si mesmo.
A segunda realidade, mais cristocêntrica, é de que este é um sinal de conversão que deve fazer assumir um caminho novo na nossa vida de cada dia. A própria fórmula da imposição das cinzas, que diz “Converte-te e crê no Evangelho”, é um sinal de conversão e um chamado a mudar de vida por meio da vivência da Palavra de Deus.
Muitos são os sinais que têm como missão reavivar a memória dos acontecimentos salvíficos da história da Salvação. Porém, de nada serve o sinal se nós não sabemos lê-lo, interpretá-lo e vivê-lo no nosso dia a dia.
A santa indiferença
“Esta pobreza de espírito está intimamente ligada à ‘santa indiferença’ proposta por Santo Inácio de Loyola, na qual alcançamos uma estupenda liberdade interior: ‘É necessário tornar-nos indiferentes face a todas as coisas criadas (em tudo aquilo que seja permitido à liberdade do nosso livre-arbítrio, e não lhe esteja proibido), de tal modo que, por nós mesmos, não queiramos mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza, mais a honra do que a desonra, mais uma vida longa do que curta, e assim em tudo o resto’.” (GE 69)
Falar de indiferença hoje em dia é, pelo menos, perigoso, porque sabemos que o grande pecado – e pode ser o maior pecado do mundo de hoje – é a indiferença, que fere e impede de viver o amor. A indiferença marginaliza, desconhece o sofrimento dos outros, não dá a mínima importância às coisas de Deus nem ao próprio Deus. Temos uma expressão que manifesta muito bem este indiferentismo: “tanto faz, como tanto fez”. Com isso, damos de ombros, em sinal também de uma rebelião que é boba e estúpida, visto que não podemos permanecer indiferentes diante do mal e do bem que recebemos.
Por isso, é necessário compreender a expressão “santa indiferença”, usada neste número. As palavras do próprio Santo Inácio de Loyola – fundador da ordem dos jesuítas, a qual o Papa Francisco pertence – explicam o que quer dizer. A santa indiferença consiste em aceitar com amor a situação da nossa vida em que nos encontramos, ou seja, amar o que temos, seja a saúde ou a doença, seja a riqueza ou a pobreza. Esta é uma atitude que não nos afasta do nosso caminho.
O nosso amor a Deus não depende do que os outros podem pensar, mas sim da nossa decisão. Os pobres em espírito são pessoas livres, porque têm Deus como centro e riqueza da própria vida.
Não haverá mais dilúvio
Por que Deus enviou o dilúvio que chamamos de “universal”? Segundo a tradição bíblica, Deus estava cansado de tanto mal que os homens faziam sobre a terra e tinha decidido pôr um fim a esse mal. Haveria então uma única maneira de “destruir o homem”, da qual falou Deus a Noé, que conseguiu fazê-Lo mudar o Seu propósito. Desse modo, o Senhor salvou Noé e todos os animais na arca.
Toda esta linguagem esconde uma mensagem muito importante: o amor de Deus não se deixa vencer pelo pecado do ser humano, e a força da oração tem um poder muito grande no coração de Deus.
Deus, para dar um sinal desta garantia e para Ele mesmo se lembrar de Sua promessa, enviou entre as nuvens o arco-íris. Devemos compreender que todas as situações difíceis que vivemos têm sempre uma mensagem que o Senhor quer nos dar. Ele nos ama e jamais poderá destruir os filhos do Seu amor. As Suas “ameaças” são, na realidade, um chamado à conversão.
O Salmo 24 é uma belíssima oração dirigida a Deus, na qual o homem pede para conhecer os caminhos do Senhor e pede a força para percorrê-los na fidelidade: “Aos pobres, Deus ensina os Seus caminhos”.
As águas do dilúvio e do batismo
Embora a arca de Noé fosse grande, podendo caber nela todos os animais e pessoas, nos diz o apóstolo Pedro que estas eram poucas, somente oito. Esta arca é sinal da misericórdia de Deus e do Seu amor para com quem é fiel. Com a vinda de Jesus, no entanto, a arca inaugurada por Ele é muito maior, tendo lugar para todos os que aceitam o Evangelho. Esta é a arca do Batismo, que acolhe e salva.
As águas do dilúvio destruíram a vida; as águas do Batismo renovam a vida em plenitude. É belo pensar na arca, que é também a Igreja, comunidade dos batizados que acolhem Jesus como único salvador. Não é mais o arco-íris no céu, mas sim a nova aliança que foi consumada e consagrada no alto do calvário, não com a água, mas com o sangue e água que saíram do peito de Jesus.
É tempo de Quaresma, tempo para renovar as nossas promessas batismais, as quais faremos na noite da Páscoa, mas dou um conselho: nós devemos renová-las muitas vezes, para reavivar a nossa adesão a Cristo Jesus.
Convertei-vos e crede no Evangelho
O evangelista Marcos, com poucas palavras, nos fala como foi o início da vida pública de Jesus: o Espírito Santo O levou ao deserto, o demônio o tentava e Jesus vivia no meio dos animais selvagens. Tudo isto O preparava para começar o anúncio da Boa nova, pela qual o Pai O enviou.
A primeira pregação de Jesus foi muito forte, colocando todo mundo em crise, obrigando a descer no íntimo, ou mesmo a mudar de ideia. São duas as palavras-chave em toda a pregação de Jesus e de toda a Igreja de todos os tempos: “converter-se” e “crer” no Evangelho. Fé e conversão andam sempre juntas!
Palavra que ilumina a semana
Convertei-vos e crede no Evangelho!