Esta é uma semana com muitíssima festa, uma atrás da outra. Pouco tempo depois de terminar o domingo, já é Natal. É tempo que corre e devemos acompanhá-lo, fazendo de tudo para não sermos atropelados, para não corrermos o risco de viver estes momentos de graças na superficialidade.
Nós, brasileiros, somos um povo festivo, alegre, que mesmo nas dificuldades sabemos nos sair bem, porque temos a coragem de olhar para a frente. Deus nos chama, com todo o Seu amor, a abrir o nosso coração à vinda do Senhor Jesus, que abre novos caminhos de liberdade e de paz. Vivemos em uma selva, em uma guerra, mas a paz é possível. O Natal é a grande ponte que une o Céu à Terra. Do Céu, desce Jesus, e para lá o homem sobe de novo. Ele, depois de ter vivido conosco, voltou para lá para nos esperar.
Eis que o Senhor vem
O grito deste quarto domingo do Advento é um cântico, é alegria, esperança de quem espera alguém que deve chegar: Eis que o Senhor vem! Ele vem não vestido de glória, mas vestido da nossa carne mortal. Vestido com o nosso corpo frágil, mas sem pecado, com um coração cheio de amor e de ternura, com os olhos cheios de luz e de lágrimas, que sabe parar no poço da Samaria, para esperar e doar de novo a confiança a quem está no caminho do pecado.
O Senhor vem para nos lembrar que é possível transformar o mundo em que vivemos, se cada um de nós fizer a sua parte e não se fechar no mundo do egoísmo e do ódio, mas, ao contrário, sair pelas ruas afora para abraçar o irmão, sem olhar nem a cor da pele nem as cores das bandeiras e das nações, tampouco as cores das religiões, apenas só com a certeza de que somos irmãos e irmãs e que caminhamos na mesma estrada e na mesma direção e que, além disso, viemos do mesmo lugar: do coração de Deus, Pai de todos.
Isto não é poesia nem fantasia, é realidade. Ela está escrita não nos livros religiosos dos povos, mas sim no coração de cada pessoa humana pelo dedo do Deus Criador.
Amo o Natal e não quero que dure 24 horas, mas quero que dure a vida inteira. Não se pode ser feliz por um dia, pois, pela Encarnação do Verbo eterno, do Filho amado de Deus, é uma felicidade que não acaba, é de todos os momentos e horas.
São João da Cruz é o cantor do Natal; ele imagina uma Virgem grávida, que vem a caminho e que pede abrigo para dar à luz. Será que encontra pousada no nosso coração? Ou também nós temos todo o coração ocupado com coisas, projetos e bugigangas de pecados acumulados ao longo dos anos?
Se nós não dermos pousada, Maria e José vão continuar o caminho até encontrar quem os receba com alegria, em outros países, em outros corações; mas Jesus deve nascer em mim, em você e nos outros; melhor é que Ele nasça em todos.
As profecias sempre começam
As profecias não terminam, são sempre claras. É preciso saber compreender o que elas nos querem dizer no momento e no contexto em que as lemos. Este texto do profeta Isaías sobre o Emanuel, Deus conosco, sempre foi lido pela Igreja no Natal. A virgem de quem fala o profeta foi compreendida como a Virgem Maria.
As profecias não são uma porta fechada, são mais como uma varanda a que você se assoma e da qual pode enxergar horizontes novos, e todas as vezes que você sobe a varanda o seu olhar é seduzido por uma nova visão.
Nestes dias, estava lendo um livro sobre o Apocalipse, de 400 anos atrás. Hoje, nós ficamos quase rindo do que o autor diz, da forma como ele lia as profecias. Os tempos mudaram. A mesma Igreja tem uma outra sensibilidade, que corresponde ao nosso momento histórico e eclesial. É assim que devemos ler a nossa vida, como uma grande página “profética”, que cabe a nós atualizar. Sem dúvida, Isaías sabia bem que os tristes tempos da escravidão terminariam, um dia, pela ação de Deus, e que Deus enviaria o Messias. Assim, nós também sabemos que os tempos tristes em que você e eu vivemos terminarão e que o Messias Jesus virá. Ademais, Ele continua a nos enviar “pequenos Messias” para anunciar a paz, a alegria e o tempo da misericórdia.