Formação

Frei Patrício: por que as vocações diminuem?

As vocações não são um trabalho, mas sim uma missão.

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Desde São Paulo VI, rezamos para que o Senhor olhe para a sua Igreja e que nunca lhe faltem os ministros, os consagrados, que dedicam totalmente a própria vida para o ministério sacerdotal e para a vida religiosa.

É um fato que falta sacerdotes. De forma que todos os que amam a Igreja estão preocupados e buscam descobrir as causas e encontrar saídas para essa crise, que parece aumentar e não diminuir.

Será que na Igreja latina a ordenação de “viri probati”, isto é, de homens casados, mas com uma vida santa, séria e de testemunho vai resolver o problema? Não creio. Nas igrejas orientais, por exemplo, na Igreja Copta Católica do Egito, onde é permitida a ordenação sacerdotal de pessoas casadas, não se tem resolvido a “escassez” vocacional e mesmo se, um dia, forem ordenadas mulheres, o problema provavelmente não será resolvido. Mas por que tudo isso?

Missão

As vocações não são um trabalho, mas sim uma missão. São uma vocação e não uma maneira de viver e ter uma vida de tranquilidade; não são resultado de uma simpatia pelo Evangelho e de um amor superficial por Jesus.

É Jesus quem chama “aquele que Ele quer” e não aqueles que querem ser chamados. As vocações são um dom de Deus e o fruto da oração da Igreja. São palavra de Jesus. “Orai ao Senhor da messe para que envie operários para sua messe”. Aqui está o grande desafio pelas vocações; é preciso, pois, rezar sem cansar para que o Senhor passe sempre no nosso meio e nos chame!

Escolher ser sacerdote, religioso ou consagrado ao Senhor sem ser chamado para isso é uma empresa impossível de ser levada até o fim. Então, o Papa Francisco, diante das saídas de tantos sacerdotes, religiosos, religiosas e consagrados, que abandonam o caminho começado, chama isto de “hemorragia”.

O que está acontecendo?

Somos obrigados a nos perguntar: “O que está acontecendo?” A minha resposta é muito simples: quando se perde a beleza, a necessidade cotidiana da oração, se deixa de compreender que a vida dos sacerdotes e consagrados e consagradas deve ser toda a serviço de Deus, na atividade de Jesus, e não deve ser preenchida com atividades paralelas que nos afastam do mistério de Deus.

Rezar apenas neste dia do Bom Pastor pelas vocações não resolve a escassez das vocações. Devemos pedir todos os dias, e estarmos sempre ao lado dos escolhidos com a nossa oração e ajudá-los a serem fiéis à própria vocação. Que Maria, a mãe das vocações, aquela que disse “sim” e jamais voltou atrás, nos ensine a ser fiéis à nossa vocação e a rezar pelas vocações dos nossos irmãos.

Cada vocação é uma missão

“Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque ‘esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação’ (1Ts 4,3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho.” (Gaudete et Exsultate, 19)

Cada um de nós é uma missão. Estar em missão é estar disponível para ir aonde o Espírito Santo chama e envia. Este número parece ser escolhido de propósito para a jornada mundial de orações pelas vocações.

É preciso saber que ninguém escolhe a missão que quer, mas que Deus lha confia por meio da mediação da Igreja. É necessário que se saiba também que muitas vezes deve-se estar disponível a ir aonde ninguém quer ir, uma vez que viver o Evangelho é deixar-se inundar pela força do “Espírito Santo; Ele que nos consagra e nos envia para anunciar os valores fundamentais do ser humano, que é a liberdade, a paz, a alegria.

O ser humano foi criado para ser livre e, diante de todas as escravidões, deve rebelar-se, seja da escravidão do pecado, seja da escravidão que o impede de ter a liberdade de escolher o seu trabalho, de ir e vir, enfim, de ser respeitado na sua dignidade. Logo, a Igreja vive sempre ao lado dos que não têm voz, dos que sofrem, e que buscam uma vida melhor. A libertação do pecado e do mal é o único caminho para a verdadeira liberdade humana.

E nós, o que devemos fazer?

É o dia de Pentecostes. Pedro e os outros discípulos começam a viver o momento mais difícil da própria vida sem Jesus. O que fazer? A força do Espírito Santo lhes tem dado força e coragem e eles já não têm mais medo de nada. Anunciam e denunciam que todos são responsáveis pela morte de Jesus. Diante das palavras, claras e diretas, o povo que escuta pergunta a Pedro: “ E nós, agora, o que devemos fazer?”

A resposta de Pedro é clara e forte: “Convertei-vos e fazei-vos batizar em nome de Jesus.” Somente assim é possível começar uma vida nova, ser perdoado e assumir Jesus como Salvador; deixar a velha lei e assumir a nova lei do amor e do perdão.

Pedro e os outros Apóstolos dão testemunho da própria fé. Eles assumem a própria vocação de anunciadores de Jesus. Nós devemos, todos os dias, nos espelhar em Cristo. Quem é chamado deve esquecer todas as vocações profanas e estar somente a serviço de Deus e do Evangelho.

O Salmo 23, do bom pastor, é o mais indicado para compreender a nossa vocação, pois o modelo de todos os pastores é Deus, pastor que enviará depois, como Pastor completo, que dá a vida elas Suas ovelhas, o pastor Jesus, que conhece a voz das suas ovelhas, as quais conhecem a Sua voz.

As chagas de Jesus nos curam

A primeira missão do cristão é fazer os outros felizes, e a segunda é ser feliz por pertencer a Jesus e seguir o Seu caminho.

Pedro não compreendeu imediatamente a sua vocação, quando foi chamado na beira-mar, e nem mesmo estando com Jesus. Mas, quando O traiu e o olhar de Jesus se encontrou com o seu olhar traidor, ele começou a compreender o doce amor do Mestre.

Mas, depois da vinda do Espírito Santo, Pedro teve uma clareza da sua vocação e da vocação de Jesus, que carregou sobre si os nossos pecados, nos curou com Suas chagas e nos deu a força da esperança que não morre com a sua Ressurreição.

Andávamos como ovelhas sem caminho: “Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas” e agora fomos salvos e, se somos felizes por termos sido salvos, devemos salvar também os outros.

Pastores ladrões e pastores que amam

Confesso que se todo o Evangelho me seduz e me encanta pela “fotografia” visível e narrada de Jesus, amo imensamente a figura do bom pastor. Pode ser porque na minha infância fui pastor e pude ver que é verdade o que diz o evangelista de que as ovelhas conhecem a voz do pastor e o pastor reconhece o balido, “a voz” das suas ovelhas.

É verdade que existem pastores ladrões que não amam as ovelhas, porque não são deles; trabalham quando e como podem. Se uma ovelha não está presente ou está doente, não se preocupa com ela, por exemplo. Mas o verdadeiro pastor tem um amor imenso pelas suas ovelhas e está pronto para defendê-las de todos os péssimos pastores e dos perigos.

É importante assumirmos na nossa vida que todos somos pastores responsáveis pelas pessoas que encontramos e também as que vivem conosco, que pertencem à nossa comunidade. De forma que precisamos estar também prontos para dar a nossa vida.  

Jesus é a porta para o novo redil. É preciso passar através Dele para termos a vida. Nestes dias das vocações, o povo, o rebanho exige que os seus pastores não peçam seu dinheiro, mas que lhe deem amor e peçam ao povo a santidade.


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