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Frei Patrício: quais são as lepras de hoje?

O que mais desejavam os leprosos e demais doentes de todos os tempos era a cura. Assim, Jesus veio para curar todas as doenças, como as corporais, mas, particularmente, para curar a doença invisível do pecado.

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Dizem as estatísticas que a lepra – hanseníase –, como enfermidade física, está quase erradicada no mundo inteiro, embora em muitos países esteja ainda presente, provocando medo, com sua força destruidora do corpo humano. 

Sabemos que, nos tempos bíblicos e também até não muito tempo atrás, as pessoas que tinham essa doença eram colocadas fora do convívio social, isoladas, por ser uma doença contagiosa. 

Como é belo pensar, neste momento, a partir da caridade, os gestos do padre Damião de Molokai, que cuidava com amor de uma colônia de leprosos. Ele próprio contagiado decide morar e morrer no meio dos doentes. Ele é um verdadeiro mártir da caridade e do amor. 

Como este, são grandes os frutos produzidos pelo Evangelho em todos os tempos da história: “Não há maior amor que dar a vida por aqueles que se ama”. Estas palavras de Jesus não deixam de gerar nos corações de tantos cristãos o desejo de dedicar a própria vida ao serviço dos últimos, dos que sofrem. 

E as lepras de hoje?

Não se pode permanecer indiferente ao sofrimento dos outros, mas, como Jesus vindo ao nosso meio se fez um de nós, como servo sofredor do Senhor assumiu a nossa fragilidade humana, sendo igual a nós em tudo, exceto no pecado, assim cada cristão, apesar do peso do seu pecado, deve tentar imitar o exemplo de Cristo.

Se hoje a lepra física foi quase totalmente superada, têm surgido novas “lepras” que não são menos contagiosas nem menos perigosas para a vida da pessoa humana e da convivência fraterna. A lepra da ódio, por exemplo, aparece nesses tempos e não quer desaparecer. Ela assume novas maneiras de se manifestar, seja através dos meios de comunicação social, difundindo nos corações humanos o individualismo, o racismo, eliminando também todos os que não concordam conosco. São meios maquiavélicos, em que o fim justifica os meios.

Há ainda a lepra do bullying. Este destrói a vida. Algumas pessoas, não superando a marginalização, chegam até mesmo ao suicídio. Tudo isso acontece ora de forma sutil, ora de forma escancaradamente violenta, atingindo os valores fundamentais da vida, escarnecendo do ser humano. Infelizmente, esta lepra vem se difundindo mais e mais, provocando o mal na vida da sociedade e das famílias. 

A lepra do racismo e da desigualdade social também acomete a humanidade, aumentando sempre mais a divisão entre pobres e ricos, tornando a vida dos pobres mais difícil. Pensemos em todos os migrantes e prófugos que se veem obrigados a fugir da própria terra para buscar uma vida melhor…

Há também a lepra dos extremismos religiosos e políticos, que são bombas que podem explodir de um momento ao outro. Esta lepra é fundamentada em uma falsa visão da religião. Todo extremismo gera a incapacidade do diálogo e de viver como irmãos e irmãs sobre a Terra.

Por último, gostaria de chamar atenção para a lepra do pecado, que faz parte do nosso DNA humano e que só pode ser vencida e modificada pela força do Evangelho, da misericórdia de Deus e do perdão.

Senhor, nosso Deus, liberta-nos de todas as lepras do corpo e do espírito! 

Felizes os Pobres

“O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida. Normalmente, o rico sente-se seguro com as suas riquezas e, quando estas estão em risco, pensa que se desmorona todo o sentido da sua vida na terra. O próprio Jesus no-lo disse na parábola do rico insensato, falando daquele homem seguro de si, que – como um insensato – não pensava que poderia morrer naquele mesmo dia (cf. Lc 12,16-21).” (GE 67)

O Papa Francisco teve uma feliz ideia quando escreveu Gaudete et Exsultate. Nela, ela apresenta como pedagogia de santidade, como modelo para ser santo, o caminho das bem-aventuranças. Sem dúvida, estas constituem a síntese mais bela do Evangelho. Creio, inclusive, que mesmo que se se perdesse boa parte do Evangelho, mas se se conservassem as bem-aventuranças, teríamos sempre à nossa disposição o essencial do anúncio de Jesus. 

Os ricos, em vez de colocarem sua segurança em Deus, colocam toda ela nas riquezas. Já os pobres, não tendo riquezas materiais e cada dia vendo-se mais pobres, sabem confiar na riqueza infinita da bondade de Deus, que pensa em todos. O próprio Jesus nos diz: “Olhai os lírios do campo e as aves do céu. Não semeiam, não fiam e o Pai cuida deles, tanto mais cuidará de nós”. Felizes os pobres! Mas, por que os pobres são felizes? Iremos ver nos números que seguem, na exortação apostólica.

O leproso deve ser isolado

É difícil compreender a vida de um leproso assim como a descreve o Livro do Levítico. Havia uma segregação completa e total. Quem tinha esta doença era marginalizado, além de ter de usar vestimentas diferentes que o identificassem e ter de tocar um sino ao passar, avisando que se tratava de alguém com hanseníase, para que todos fugissem e não fossem contaminados.

O Senhor, no entanto, nos permite compreender melhor as coisas que acontecem, às vezes por meio do vai e vem da história. Nós, por exemplo, passamos agora por uma dura experiência com o COVID-19, doença contagiosa que demanda uma série de precauções, como a máscara, reconhecendo, no entanto, que o Senhor não nos desampara.

Quanto aos acometidos pela lepra, ainda que os homens lhes tivessem medo, “Deus nunca tem medo do pecador, mas sempre corre atrás dele para amá-lo”. Como mesmo nos diz o Salmo 31, a misericórdia do Senhor nunca abandona, estando sempre ao nosso lado, com Seu amor e perdão. Quando nos confessamos, Deus nos perdoa! 

Caminhamos juntos

Amo muito o apóstolo Paulo pela clareza da sua mensagem, pela sua paixão por Cristo e pelo seu desejo de que todos sejam salvos. 

Quem encontra Jesus no seu caminho vence o egoísmo. Todo tipo de egoísmo é terrível, mas o pior de todos é, sem dúvida, o egoísmo espiritual. Este é vivido por aqueles que se preocupam unicamente com a sua própria salvação, perdendo de vista a salvação de toda a humanidade. 

É preciso saber, portanto, que todos caminhamos juntos e que juntos devemos nos ajudar para irmos ao paraíso. Tudo que fazemos deve ser feito, pois, com amor. 

Paulo nos recorda que devemos ser santos e que os outros, vendo o nosso comportamento, podem se converter. “Sejais meus imitadores como eu sou imitador de Cristo”.

Quem recebe o bem faz dele propaganda

O que mais desejavam os leprosos e demais doentes de todos os tempos era a cura. Assim, Jesus veio para curar todas as doenças, como as corporais, mas, particularmente, para curar a doença invisível do pecado. Esta é a terrível lepra, peste e coronavírus que está sempre escondido no nosso coração. É ele que envenena a nossa vida e a dos outros.

Devemos pedir a Deus uma grande graça: “Senhor, dai-me a graça de me cansar de ser pecador(a)”, pois somente quando nos sentirmos cansados de ser pecadores, começaremos o caminho da nossa conversão. 

Nós devemos fazer propaganda do bem que Cristo faz, para que todos O conheçam e O amem. O bem não deve permanecer escondido, mas deve ser luz que ilumina a todos.

Palavra que ilumina a semana

Anuncie com palavras o Evangelho. Fale com alguém das graças que você tem recebido da misericórdia de Deus.


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