Na última quinta-feira, dia 20, não celebramos uma memória do passado, mas sim a presença viva de Jesus. Antes de partir na Última Ceia, na Sua despedida, Ele teve uma criatividade única do amor. Uma criatividade que deve ter maturado lentamente na Sua consciência de Filho do Homem e de Filho de Deus, quando deve também ter pensado, com certa angústia, na pergunta – Eu vou ser crucificado, morto, e volto ao Pai. O que vou deixar aos meus discípulos como presença permanente e segura do meu amor?
É verdade que já tinha dado alguma dica do que queria fazer, mas não o tinham compreendido, aliás, o tinham interpretado mal: “Como pode nos dar a Sua carne como verdadeira comida, e o Seu sangue como verdadeira bebida?” Que é isto o que mais escutamos. Mas, na Última Ceia, Jesus viu que tinha chegado o momento, a hora oportuna de fazer isto, e celebrou a primeira Eucaristia viva, Ele ainda presente no meio dos Seus. Nunca teremos a capacidade de compreender este gesto de amor e de fé que encerra toda a nossa esperança e nos alimenta no caminho da vida.
Há uma lógica em tudo isto. Uma comunhão de vida. A vida tem muitas facetas e, por isso, falamos de vida intelectual, psíquica, humana, espiritual e, por aí, vai. Enfim, todas estas vidas necessitam ter uma existência equilibrada e de qualidade, alimentar-se bem. Qual é o alimento da vida intelectual? Vencer a ignorância, o analfabetismo. Assim como o da vida humana é ter uma boa alimentação, um clima sadio etc. E o alimento para ter uma vida espiritual de qualidade, qual é? Esta não é uma pergunta retórica ou inútil, mas fundamental. A nossa alma, o nosso espírito, precisa se alimentar para viver em comunhão com Deus. Faz isso através da leitura da Palavra, do exemplo dos bons servos, de biografas de santos, alimentando-se cotidianamente da oração. Porém não há dúvida de que o alimento mais precioso para ter uma vida espiritual de qualidade é a Eucaristia.
Devemos voltar toda a nossa atenção a este mistério, a esta presença viva de Jesus no meio de nós, e nos alimentar Dele, que é o que Ele mesmo nos diz – quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e a vida eterna é esta, para que conheçam a ti, Deus vivo e verdadeiro, e aquele que tu enviaste – vivemos desde já, através da Eucaristia, a vida em plenitude.
No nosso Brasil, esta festa é muito celebrada, através de manifestações eternas de procissões, de tapetes coloridos, de músicas. Tudo isto é, sem dúvida, muito bom e nos faz bem, mas não podemos e nem devemos ficar no exterior, é preciso entrar no mistério e viver este amor pleno e total do dom recíproco.
Jesus se doa a cada um de nós e devemos nos doar a Ele. Nesta doação que realiza o amor na sua plenitude e totalidade, que Maria, mãe da Eucaristia, que celebrou a primeira no mistério da Encarnação, nos ajude a ter Jesus não só no nosso pensamento, mas através da Eucaristia fazer Dele vida da nossa vida.
Oferecer a Deus o melhor que temos Sempre a pessoa de Melquisedec suscitou em mim um grande interesse, com a curiosidade de saber quem foi e por que tem esta importância na liturgia sacerdotal. Consultei o Google da vida, além de livros e enciclopédias, mas não cheguei lá.
A grande conclusão a que cheguei foi, na verdade, nenhuma. Todos dizem saber um pouco sobre ele, no entanto, o que sabemos é que era pagão e que foi visitar Abraão; que ofereceu pão e, acima de tudo, o que tinha. Porém, se refletirmos um pouco melhor sobre esta pessoa, descobriremos duas realidades importantes: Um dos pontos é de que era sacerdote e, por um desígnio de Deus, se torna, embora pagão, amigo de Abraão, oferecendo um sacrifício pacífico pelo bem de todos. E, então, podemos ver um prenúncio do que será a mesma Eucaristia: não mais um sacrifício cruento, mas, sim, de paz, de perdão e de amor.
Outro ponto é de que Melquisedec é sacerdote eternamente. Ele abre as portas não para um sacerdócio temporário, passageiro, mas para um sacerdócio para sempre, e sabemos que, para Jesus, o sacerdócio não se deve a uma casta, uma família, uma tribo, mas é um dom de Deus e eterno. Que o santo e pacífico sacerdote Melquisedec nos ajude nestes momentos em que nuvens obscuras estão sobre os sacerdotes, sabendo que a sua luz, mesmo na noite, brilha sempre.
Fazei isto em memória de mim
Paulo não fala muito da Eucaristia, mas diz o que mais importa: que o que ela tem de mais importante é seu conteúdo, mas até do que a palavra Eucaristia em si mesma, palavra que não é usada nem pelos evangelistas nem pelo Apóstolo Paulo. Sabemos que a Eucaristia quer dizer ação de graças, e Paulo, com poucas palavras, nos diz como aconteceu a primeira celebra Paulo não fala muito da Eucaristia, mas diz o que mais importa: que o que ela tem de mais importante é seu conteúdo, mas até do que a palavra Eucaristia em si mesma, palavra que não é usada nem pelos evangelistas nem pelo Apóstolo Paulo.
Sabemos que a Eucaristia quer dizer ação de graças, e Paulo, com poucas palavras, nos diz como aconteceu a primeira celebração eucarística: Jesus toma o pão e o dá, toma o vinho e o dá transformados na Sua carne e sangue, mandando os discípulos celebrarem a Sua memória. É isto que a Igreja desde então nunca deixou de fazer. Todas as vezes que nos reunimos para celebrar este mistério, é Jesus que nos reúne e temos a beleza da Igreja, da comunidade. Sem a Eucaristia não temos a Igreja e, o pior, não temos a presença viva de Jesus.
O Pão descido do céu
A minha tentação é convidar todos os leitores a tomar uma tarde de silêncio e ficar diante do Santíssimo Sacramento exposto. Olhar por uma boa hora Jesus no ostensório, na quietude, sem canto e sem palavras, e, depois, ler com atenção, com calma e com amor o Evangelho concernente a esse dia (Lc 9,11b-17), que trata da multiplicação dos pães. Fechando o Evangelho, permanecer ainda uma outra hora pedindo que Jesus fale ao coração sobre o Seu amor.
A Eucaristia não é algo sobre o que a ciência, a química, o estudo tenham muito a dizer. É mistério de amor que só se pode compreender na medida em que amamos. O Pão descido do céu não é para voltar ao céu, mas para nos fazer voltar, através do elevador do amor e da fé. Vale a pena todos os dias, faça chuva ou faça sol, termos encontro marcado com Jesus na Eucaristia.
Escola de oração
Somente em comunhão com Deus, alimentamos a nossa alma. Sejamos novos Cristos a repartir o pão, sendo como Ele: sacerdotes, reis e profetas. “Esta missão tem o seu sentido pleno em Cristo e só se compreende a partir Dele. No fundo, a santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspectos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor. A contemplação destes mistérios, como propunha Santo Inácio de Loyola, leva-nos a encarná-los nas nossas opções e atitudes. Porque ‘tudo, na vida de Jesus, é sinal do seu mistério’, ‘toda a vida de Cristo é revelação do Pai’, ‘toda a vida de Cristo é mistério de redenção’, ‘toda a vida de Cristo é mistério de recapitulação’, e ‘tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver Nele e Ele vivê-lo em nós’.” (Gaudete et Exsultate, 20).