Brasil

Igreja poderá ter nova santa nascida em Salvador (BA)

Cerimônia de encerramento do processo de beatificação a nível diocesano da Serva de Deus Vitória da Encarnação será realizada nesta quarta-feira pelo Cardeal Dom Sergio da Rocha.

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O processo de beatificação da Serva de Deus Vitória da Encarnação será concluído a nível diocesano nesta quarta-feira, 25 de setembro. A cerimônia solene será presidida pelo Cardeal Dom Sergio da Rocha às 10h, no Convento do Desterro, local onde viveu e morreu a religiosa. A partir de agora o processo da madre baiana segue para o Dicastério da Causa dos Santos, na Santa Sé, onde será a documentação produzida com testemunhos e relatos coletados.

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Desde o pontificado de Bento XVI, as cerimônias de beatificação poderão ser celebradas nas dioceses para “realçar em maior medida nas modalidades celebrativas a diferença substancial entre beatificação e canonização; tornar partícipes de modo mais visível as Igrejas particulares nos ritos da beatificação dos respectivos Servos de Deus” (Os novos procedimentos para os ritos de beatificação – Congregação para a causa dos santos).

Em 7 de julho de 2019, a Congregação para a Causa dos Santos emitiu o decreto “Nihil Obstat”, autorizando a abertura da causa de beatificação da Madre Vitória, que passou a ser chamada, a partir de então, de Serva de Deus Vitória da Encarnação. Em 19 de novembro do mesmo ano, o então Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, presidiu a cerimônia de abertura do Processo de Beatificação e Canonização da Madre Vitória da Encarnação, apresentando as Comissões que trabalharam no processo, bem como o postulador da Causa, Frei Jociel Gomes, OFMcap.

Madre Vitória da Encarnação

Vitória da Encarnação nasceu em Salvador, em 6 de março de 1661, sendo batizada no mesmo ano na antiga Sé da Bahia. Filha de Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe, ela teve um irmão e três irmãs.  Em 1677, quando foi fundado o Convento Santa Clara do Desterro, sendo o seu pai muito devoto, quis que sua filha entrasse para a vida religiosa. Porém, a menina, então com 16 anos de idade, havia se tornado avessa à religião, chegando a dizer ao seu pai que preferia que lhe cortassem à cabeça do que ser levada para o convento.

Passaram-se alguns anos e Vitória começou a ter frequentes sonhos com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. Neles, a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos via o Menino Jesus a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Tais sonhos se repetiram inúmeras vezes, porém, Vitória não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.

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Chamado à vida consagrada

Numa terrível noite do ano de 1686, quando Vitória estava com 25 anos de idade, teve um sonho horrendo, no qual se via nos porões sujos e cheios de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas, que caminhavam para a perdição, enquanto que na parte de cima da embarcação haviam muitos religiosos contentes, pois caminhavam para a salvação. Seu Anjo da Guarda então lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto que os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição.

Ao acordar deste sonho aterrador, pensou em sua vida e tomou a firme decisão de consagrar-se totalmente a Deus e passar a vida fazendo Sua santa vontade. Naquele mesmo ano, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo, Vitória foi acolhida no noviciado das clarissas do Convento do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu neste dia o nome religioso de Vitória da Encarnação. Conforme seu desejo, fez profissão solene em 21 de outubro de 1687. Mostrou-se grande em suas virtudes.

Desapegada de tudo o que é mundano, quis fazer-se a menor de todas e aquela que servia a todas. Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava a adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro. Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época; corria para fazer os trabalhos que ninguém queria, e, por querer ser a menor de todas, foi diversas vezes ridicularizada e agredida pelas próprias escravas a quem ela tanto quis se fazer igual. Cuidava daquelas que adoeciam, levando-as para sua própria cela e de lá só saiam quando completamente curadas. Viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro. Quando exercia o cargo de porteira, grande quantidade de pessoas dirigia-se à portaria para pedir-lhe algum auxílio. Atendeu a todos quantos podia, e, mesmo de dentro da clausura, recomendava aos parentes que cuidassem daqueles pobres e doentes de quem vinha a saber que estavam necessitados. Doou em vida tudo o que possuía aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando então a dormir no chão sobre uma esteira de palha.

Dons místicos

Dotada de dons místicos, se transfigurava quando fazia a via-sacra, todas as sextas-feiras do ano. Tinha tanto desejo de imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos, que castigava-se com cilícios e disciplinas duríssimas, chegando a converter os pecadores que passavam pela via próxima ao convento e que ouviam o barulho daquelas chibatadas. Fazia rigorosos jejuns e quando comia algo que lhe agradava o paladar, misturava cinzas à comida para estragar o sabor.

Entre as virtudes apontadas, em relatos, sobre a Madre Vitória da Encarnação, algumas se destacam. Uma delas era o dom que ela tinha de sonhar com as pessoas necessitadas e, em seguida, enviar ajuda. A Madre também era procurada quando as Irmãs do convento – enclausuradas – recorriam para encontrar objetos perdidos.

Tocha acesa diante do sacrário

Amou tanto as almas do purgatório que sufragava-as diariamente com orações. Tinha o dom da revelação e profecia. Era capaz de saber o local exato em que uma pessoa, tida por desaparecida, se encontrava, assim como de prever acontecimentos futuros. Tinha também a capacidade de encontrar objetos e animais desaparecidos. Passava a maior parte da noite em vigília diante do Santíssimo Sacramento e foi chamada, pelo seu biógrafo, o arcebispo da Bahia, Dom Sebastião Monteiro da Vide, de “tocha acesa diante do sacrário”.

Madre Vitória faleceu numa sexta-feira, às 15 horas,  em 19 de julho de 1715. No momento de sua morte as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro. Ao se espalhar a notícia de sua morte, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. Logo toda a cidade ficou a saber, pois diziam ter morrido a “santa da Bahia”. Muitos levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras relíquias. Inúmeros foram os milagres narrados pelos devotos logo após a sua morte. Sendo crescente o número desses supostos milagres, o então arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vitória. Em 1720, apenas cinco anos após a sua morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou, em Roma, a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Sóror Victória da Encarnação”.

Os restos mortais da Madre Vitória da Encarnação encontram-se na Igreja do Convento Santa Clara do Desterro, em Salvador, e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave do templo.

Com inf. Aquidiocese de Salvador

 


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