Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
A Semana Santa passou. Nela a Igreja nos leva maternalmentea recordar os grandes acontecimentos do final da vida terrena de Jesus.Recordamos a última ceia em que Jesus, num gesto comovente de humildade, lava os pésempoeirados dos apóstolos. Nela – nesta ceia – é que o Senhor cumpre a promessade nos dar o pão do céu – a Eucaristia – promessa que havia feito após amultiplicação dos pães, como nos conta o Evangelho de João (cap. 6º).Acompanhamos a vitória esplendorosa do Senhor que ressuscita – como haviapredito – e se deixa tocar pelos que o viam a fim de não haver dúvida de queera de fato Ele mesmo. Lembramo-nos do desafio de Tomé (Jo 20, 24 ss) queduvidou, exigiu tocar nas chagas e acreditou.
Agora parece não ser supervacâneo recordar as belas imagens,que São João usa no Evangelho e que são ricas de significado. A primeira é aimagem da água, de que fala Jesus a Nicodemos, a qual nos faz renascer. Ela ésinal de vida. À samaritana, na beira do poço de Jacó, o Senhor promete dar-lheuma água que jorra para a vida eterna.
Mais tarde, para curar o cego de nascença, Jesus manda quevá lavar-se na piscina de Siloé. E na última ceia, usa água, como narra SãoJoão, para lavar os pés dos discípulos. O mesmo João nos descreve o peitoaberto de Jesus, depois de morto, jorrando sangue e água. A imagem da água érica de sentido.
Outra imagem, de que faz uso o Evangelista, é a do vinho.Foi em Caná da Galiléia que os cântaros de água se converteram em vinhogeneroso. Assim a festa dos noivos não sofreu a carência da bebida. Mas o maisbelo desta imagem do vinho é que na última ceia, o Senhor o transforma no seusangue.
Em outra passagem, João lembra a parábola da videira, quandoJesus diz ser Ele a videira verdadeira, que produz a uva que nos dá o vinho.São imagens do linguajar do Mestre, que São João nos transmite.
A terceira imagem do quarto Evangelho é a do pão. Após ojejum de Jesus, o demônio, tentando-o, quis que Ele transformasse as pedras em pão. Jesus de fato é opão da vida, que pedimos em primeiro lugar, ao rezar o Pai Nosso. Nem podemosnesta reflexão olvidar que os Evangelistas registraram, com minúcias, o fatomiraculoso da multiplicação dos pães para saciar milhares de pessoas, quehaviam seguido Jesus para ouvir sua palavra. De fato, o próprio Jesus diz serEle o pão da vida (Jo 6, 35) que sacia a fome da humanidade.
São estas três imagens – a água, o vinho e o pão – que oquarto Evangelho traz com frequência por ser a maneira do ensino do Mestre.Para o conhecimento aprofundado de Jesus e de sua palavra aconselho a magníficaobra do Papa Bento XVI “Jesus de Nazaré”.