Como se sabe, em Cristo subsistem duas naturezas intelectuais íntegras e totalmente inconfundíveis: divina e humana. Também é conhecido que a toda natureza intelectual corresponde um intelecto/inteligência (por meio do qual se apreende a verdade) e uma vontade (pela qual ama o ‘bem’ apreendido pelo intelecto).
Neste sentido, em Cristo deve haver não apenas dois intelectos, mas há também duas vontades: uma que é própria da natureza divina e outra pertencente à natureza humana assumida pelo Filho de Deus.
Isto não é algo estranho se considerarmos que em Jesus existe a chamada união hipostática. Esta, evidentemente, supõe da parte do Verbo a assunção – em unidade de pessoa –, de uma humanidade que seja completa, com tudo o que essencialmente lhe convém.
Em meio a longos debates entre estudiosos, houve até mesmo os que defendiam que Jesus não seria um homem verdadeiro, mas aparente (maniqueus). Mas, o Sagrado magistério da Igreja, ao se deparar com este tema, declarou a existência em Jesus Cristo de uma dupla vontade e operação. Veja-se a instrução do III Concílio de Constantinopla: “Proclamamos nele [em Cristo], segundo o ensinamento dos Santos Padres, duas vontades ou quereres naturais e duas operações naturais, sem divisão, sem mudanças, sem separação ou confusão” (DH 556).
Partindo dessa premissa, e considerando que durante a agonia no Getsêmani, Jesus afirma “Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice!” (Lc 22, 42) a pergunta que se impõe é: Havendo duas vontades, pode-se cogitar a existência de contrariedade (ou alguma forma de colisão) entre elas?
A resposta que se impõe é clara: Não houve (nem poderia haver) oposição de vontades, pois a vontade humana esteve sempre perfeitamente sujeita integralmente à divina. Usando as próprias palavras do III Concílio de Constantinopla: “As duas vontades naturais não estão – longe disso! – em contraste entre si, como afirmam os ímpios hereges, mas a sua vontade humana segue sem oposição ou relutância, ou melhor, é submissa à sua vontade divina e onipotente. Era necessário, de fato, que a vontade da carne fosse guiada e submissa à vontade divina” (DH 556).
Teologicamente falando, fica fácil refutar a tese de que poderia ter existido alguma contrariedade entre duas vontades: primeiramente, a vontade de Jesus, racionalmente, sempre foi dócil à vontade divina; e, ainda porque eventual conflito entre o que é natural e o que é racional não revela, necessariamente, contrariedade interna à própria vontade. Antes disso, demonstra a total subordinação dos sentidos/afetos a um bem superior indicado pelo intelecto.
A força desta experiência, do coração indiviso de Jesus, é capaz de submeter afetos e sentidos à vontade revelando a mais pura expressão de liberdade. O contrário disto é escravidão.
Num ato de liberdade, São Francisco de Assis despojou-se de tudo para encontrar o Amado de sua alma. Na mesma via, encontramos Santa Teresa de Jesus, que trilhou um ‘caminho de perfeição’, no qual todos os sentimentos e afetos estão submetidos à vontade, e esta em harmonia com a vontade do Pai.
Vamos, em breve, aprofundar este tema. Por isso, fique atento para nos acompanhar na plataforma e em nossas redes sociais.
Sobre o Instituto Parresia
Criado pela Comunidade Católica Shalom, o Instituto Parresia tem a missão de formar católicos missionários. Organizado em três pilares – ensino, pesquisa e produção de conteúdo -, o instituto conta com colaboradores qualificados, incluindo missionários, nativos ou residentes, na Europa e América Hispânica. Mais de 10 mil pessoas já participaram dos cursos online promovidos pelo Parresia, entre eles Sagradas Escrituras; Família e Matrimônio; e Teologia do Corpo.
Siga o perfil no Instagram
Conheça a nossa Plataforma de Cursos Online no Site
Ouça os Podcasts no Spotify
Assista aulas gratuitamente no Youtube
Entre em nosso canal do Telegram
E-mail: institutoparresia@comshalom.org