Formação

João Batista, profeta da alegria espiritual

Hoje é 24 de junho e a Igreja celebra o nascimento de São João Batista. Mas afinal, o que a vida deste santo tem a nos ensinar?

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A alegria é uma marca daqueles que tiveram uma experiência com o Ressuscitado que passou pela cruz, pois é um dos frutos da ressurreição: “Jesus veio, pôs-se no meio deles e lhes disse: Shalom! Após essa palavra, Ele lhes mostrou suas mãos e seu lado. Os discípulos ficaram repletos de alegria ao verem o Senhor”.

Pela alegria, testemunhamos que o Senhor não apenas está vivo, mas está no meio de nós, cheio de poder e amor, e nos envia continuamente em missão. João Batista é precursor também ao testemunhar desde o início essa alegria espiritual, fruto do Deus que cumpre Suas promessas.

Depois de termos visto João no deserto, e de termos visto com a ajuda desse olhar de fé que nos faz enxergar além das aparências tudo o que ele lutou e sofreu, é chegada a hora de falarmos desse aspecto da sua missão: dar testemunho da alegria espiritual.

A alegria permeia toda a existência de São João Batista, por isso antes de focarmos no Jordão, onde ele cumpriu a maior parte do seu ministério, vamos dar uma vista geral sobre a alegria na vida desse profeta.

A chegada do Messias seria com certeza um acontecimento cercado de júbilos, segundo o Antigo Testamento, por isso é normal que o precursor esteja banhado desse clima espiritual. Desde o começo dos recitos que falam sobre João vemos a alegria presente.

Zacarias, quando seu filho nasceu e cheio do Espírito Santo, explode em louvores a Deus. No seu hino (Benedictus), diz que João é “expressão da ternura de Deus”, pois anuncia uma salvação que se faz presente. Quando Gabriel anuncia a Zacarias que sua esposa vai conceber, o anjo diz: “Tu te alegrarás e muitos se alegrarão pelo seu nascimento, pois ele será grande diante do Senhor” (69).

Já vimos como a visita de Nossa Senhora à sua prima fez João pular de alegria no ventre. Essa é a primeira alegria que João Batista vem testemunhar: alegria que experimentam aqueles que têm uma experiência do Espírito.

É por isso que João dirá mais tarde: “Quanto a mim, eis que batizo com água; mas no meio de vós está Aquele que vós não conheceis, e Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo!” (70).

João testemunha a alegria da experiência do Espírito, a alegria de permanecer nesta graça, de ter toda a sua vida guiada pelo Seu amor:

“A glória do homem é a perseverança no serviço de Deus”, dizia Santo Irineu. Perseverança que é graça. “Eis os frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência (…). Os que pertencem ao Cristo crucificaram a carne com suas paixões e desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também sob o Seu impulso” (71).

Vimos também que o próprio João, ao falar de si mesmo, se autodenomina “amigo do Esposo” e testemunha:

“Quanto ao amigo do Esposo, ele permanece ali, ele escuta a voz do Esposo, e ele se rejubila. Essa é a minha alegria, e ela é completa” (72). A alegria de uma intimidade profunda com o Senhor, de uma amizade privilegiada. Amigo de Deus! Nosso fundador também não hesitará em dizer: “A amizade com Deus é como uma fonte que faz jorrar em nós o amor. Amor que é divino. Amor que faz com que elejamos para nossa vida tudo aquilo que nos ajude a estarmos mais unidos ao Amado” (73).

E também: “A amizade com Deus é o âmago da nossa Vocação. Decidir-se pela amizade divina e crescer nesta amizade é o segredo da vida” (74).

João Batista tem essa semelhança conosco: ele cresceu no deserto, onde sua intimidade e amizade com Deus se forjaram:

“Ele foi viver no deserto até o dia em que ele deveria ser manifestado a Israel” (75). Ora, nós somos um povo eleito para atravessar a vereda que o Senhor abre no deserto deste mundo: “Deus quer ardorosamente abrir uma nova vereda pelo deserto e assim formar um povo, um povo eleito, formado por suas mãos para atravessá-la, percorrê-la, assumi-la em seu viver. Nós somos este povo. Deus nos chamou a esta magnífica vocação” (76).

Esse caminho novo, esse plano amoroso de Deus só pode realizar-se em nós, “completar-se em nossas vidas, se estas estiverem enraizadas na oração profunda” (77). Deserto, lugar onde tradicionalmente o povo foi testemunha de manifestações de Deus, lugar de batalha espiritual, lugar onde cresce a amizade com o Esposo. Como na vida de João Batista.

Assim, no deserto, vemos uma outra característica de João à qual somos chamados a cultivar: a radicalidade de seu amor por Deus, que também é fonte de alegria. Numa vida penitente, João colhia as forças para permanecer todo voltado para sua missão, sem distrações.

Alimentava-se de gafanhoto e mel silvestre, todo o seu ser vivia voltado para Deus, ele estava enraizado em Deus, que era tudo para ele. Sendo Deus seu tudo, sua alegria era perfeita, completa, plena e tão preciosa que ele considerava que qualquer esforço era pequeno para preservar essa alegria interior, como vimos no capítulo precedente.

Alegria de anunciar com todas as suas forças a Boa Notícia de que estava já no meio do povo Aquele que iria batizar no Espírito Santo. A alegria, portanto, de evangelizar!

O verdadeiro evangelizador não consegue calar-se, pois existe no seu ser um fogo devorador, uma alegria que está sempre jorrando e que precisa jorrar através de palavras, de um anúncio, custe o que custar.

Essa característica da vida de João nos lembra uma outra característica da Vocação Shalom:  “Em todas as nossas ações, o anúncio explícito de Jesus Cristo é indispensável para a fidelidade ao chamado que o Senhor nos faz.” (78).

São Paulo dizia: “Ai de mim se eu não evangelizar”. Podemos também dizer: “Feliz de mim se evangelizo!”. Feliz de levar a esposa ao Esposo, feliz de ser instrumento da paz, feliz de ser missionário, feliz de ser eleito, feliz de estar totalmente unido à vida de Jesus que se desenvolve em mim. Sim, feliz, feliz, feliz!

João também experimentou a alegria da paternidade espiritual. Ele tinha discípulos, como nos lembra o Evangelho. E ele os ensinava a rezar, pois os discípulos de Jesus lhe pediram que lhes ensinasse a rezar como João Batista havia ensinado a seus discípulos.

No caminho de discipulado, ele não os levava para si mesmo, não era essa sua alegria na paternidade, mas os preparava para acolher o Messias que estava chegando. André, por exemplo, era um dos discípulos de João (79).

Essa formação dos discípulos não era algo puramente intelectual, mas engajava toda a vida. Santa Teresinha nos lembra que “somente o sofrimento pode gerar almas para Jesus”. João consumiu sua vida, até o martírio, para fecundar almas para Jesus.

Ó profeta da alegria, ensina-nos a permanecer voltados para o nosso Esposo e, assim, poderemos testemunhar com nossas vidas que não há maior amor – e por isso maior alegria – do que dar a vida por aqueles que amamos.

Referências  Bibliográficas

69 Lc 1,14-15ª
70 Lc 3,16
71 Gl 5,22-25
72 Jo 3,29
73 AZEVEDO FILHO, Moysés Louro de. Escritos: Carta à Comunidade 2005, 58. Edições Shalom, 2012
74 Id, n. 55
75 Lc 1,80
76 AZEVEDO FILHO, Moysés Louro de. Escritos: Obra Nova, 01. Edições Shalom, 2012
77 Id, n. 07
78 Estatutos da Comunidade Católica Shalom, 07
79 Jo 1,40

Daniel Ramos | Missionário da Comunidade de Vida Shalom em Toulon (França)

Retirado do livro João Batista, profeta do Amor Esponsal

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