“Efetivamente, a fé é de algum modo exercitação do pensamento; a razão do homem não é anulada nem humilhada, quando presta assentimento aos conteúdos de fé; é que estes são alcançados por decisão livre e consciente”, é o que afirma São Tomás de Aquino, na obra “Summa theologie I”. Conhecer a história e a obra deste santo é ter acesso a um testemunho concreto e um estímulo para se vivenciar, de maneira mais profunda e coerente, o Ano da Fé.
Tomás de Aquino foi declarado Patrono das Escolas e Universidades Católicas em 1880, pelo Papa Leão XII, devido ao grande legado espiritual e cultural que deixou não só para a Igreja, mas para a humanidade. Com grande mérito, demonstrou a harmonia entre a fé e a razão e trouxe incomparável contribuição para a Teologia e a Filosofia. A Igreja o chama Doutor Angélico e Doutor Comum ou Universal, devido à riqueza de sua obra, e celebra sua memória no dia 28 de janeiro.
A influência aristotélica
Tomás nasceu entre os anos 1224 e 1225, em Roccasecca (Itália), nos arredores de Aquino, perto da célebre abadia de Montecassino. Foi nessa abadia que recebeu sua instrução inicial. Mais tarde transferiu-se para a capital do Reino da Sicília, Nápoles, onde Frederico II tinha fundado uma prestigiosa universidade. Ali nasceu a vocação dominicana de Tomás e a forte influência do pensamento do filósofo grego Aristóteles, de quem intuiu imediatamente o grande valor. Em 1245, Tomás foi enviado a Paris para estudar Teologia sob a guia de Santo Alberto Magno. Alberto levou Tomás para Colônia, onde entrou em contato com todas as obras de Aristóteles e dos seus comentadores árabes Avicena e Averroes, que as transmitiram ao mundo latino.
Naquele período, os escritos de Aristóteles sobre a natureza do conhecimento, as ciências naturais, a metafísica, a alma e a ética, ricos de informações e de intuições que pareciam válidas e convincentes, influenciavam profundamente a cultura do mundo latino. Muitos ficaram fascinados e acolheram com entusiasmo acrítico o que lhes era transmitido da filosofia aristotélica, acreditando que poderia renovar grandemente a cultura, abrir horizontes totalmente novos. Porém, outros temiam que o pensamento de Aristóteles, com a sua racionalidade radical e desenvolvido antes e sem a presença de Cristo, estivesse em oposição à fé cristã e, por isso, rejeitavam estudá-lo. Alguns rejeitavam Aristóteles também por causa da apresentação que os comentadores árabes fizeram dele. Desencadearam-se disputas infinitas nos mundos universitário e eclesiástico.
Tomás de Aquino encontrou novas traduções latinas dos textos originais de Aristóteles em grego e os leu e estudou profundamente, fazendo o mesmo com os escritos de seus intérpretes. Ele comentou uma boa parte das obras aristotélicas, fazendo a distinção entre o que era válido daquilo que era duvidoso, ou que deveria ser totalmente rejeitado. Demonstrou a consonância dos escritos de Aristóteles com os dados da Revelação cristã e utilizou, ampla e perspicazmente, o pensamento aristotélico na exposição dos escritos teológicos que ele mesmo compôs.
Fé e razão
Aquino desempenhou um trabalho de importância fundamental para a história da filosofia, da teologia e da cultura. Mostrou que entre fé cristã e razão subsiste uma harmonia natural. Naquele momento de desencontro entre duas culturas, em que parecia que a fé devia render-se perante a razão, ele demonstrou que fé e razão caminham juntas. Demonstrou ainda que quanto parecia ser a razão não compatível com a fé, não era razão; e aquilo que parecia ser fé, não era tal, enquanto se opunha à verdadeira racionalidade. Assim, Tomás criou uma nova síntese, que veio a formar a cultura dos séculos seguintes. E esta foi sua grande obra.
São Tomás nos faz compreender que a graça divina não anula, mas supõe e aperfeiçoa a natureza humana. Ele estabeleceu a doutrina da analogia. Com base em argumentos puramente filosóficos, Tomás de Aquino explicou também que, com a Revelação, Deus mesmo falou a nós e, portanto, nos autorizou a falar Dele. Tomás escreveu comentários sobre a Sagrada Escritura, sobre os escritos de Aristóteles, tratados e discursos sobre vários argumentos e obras sistemáticas inigualáveis, entre as quais se sobressai a Summa Theologia.
A interpretação de Aristóteles formulada por Tomás não era aceita por todos, mas até os seus adversários no campo acadêmico admitiam que sua doutrina era superior a outras pela sua utilidade e valor. Além do estudo e do ensino, Tomás dedicou-se à pregação pública. Todos esses dotes intelectuais estavam aliados a uma serenidade e domínio sobre si incomparáveis, pois, como fonte do saber, não recorria apenas aos livros, mas se prostrava em longo tempo de oração diante de Jesus Sacramentado. Aquino assegurou, depois, ter aprendido mais desta forma do que em todos os estudos que fizera.
Ele também fazia frequentes jejuns e penitências. Faleceu enquanto viajava para Lião, onde ia participar do Concílio Ecumênico proclamado pelo Papa Gregório X. Seu falecimento ocorreu na Abadia cisterciense de Fossanova, com sentimentos de grande piedade.
Josefa Alves
Missionária da Comunidade Católica Shalom