Formação

Meditando sobre o Natal

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“Ela deu à luz seu filho primogênito,envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugarpara eles na hospedaria. Havia naquela região uns pastores que passavam a noite noscampos, tomando conta do seu rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu ea glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muitomedo. O anjo então lhes disse: “Não tenhais medo! Eu vos trago uma BoaNova de uma alegria que será também de todo o povo: hoje, na cidade deDavi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vosservirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas edeitado em uma manjedoura. De repente, juntou-se ao Anjo uma multidãodo exército celeste cantando a Deus: “Glória a Deus nas alturas e pazna Terra aos seres humanos por Ele amados”(Lc 2,7-14).

Houve um teólogo antigo – Orígenes? –que entendeu que o pecado de Lúcifer e de seus acólitos – os demônios –consistiu na recusa em aceitar o plano do Pai que previa a Encarnaçãodo Filho. A questão seria esta: “jamais aceitaremos adorar um serhumano inferior em natureza a nós anjos”. Imagine o leitor um imperadorromano prostrado de joelhos diante do menino, enrolado em panos, nopresépio de Belém. Satanás, inflado de orgulho, rebelou-se contra odesígnio de Deus e arrastou consigo uma terça parte das estrelas docéu: “com a cauda, varria a terça parte das estrelas do céu,atirando-as sobre a terra”(Apoc 12,4).

As estrelas do céu são os anjos. Veja,bem leitor, aqui está a raiz de todo pecado: a soberba. Curioso eemblemático que os doutores e sacerdotes de Jerusalém tenham dito aosmagos, vindos de longe, onde deveria nascer o Salvador, mas eles mesmosnão tenham ido a Belém para adorá-lo. Herodes quis matá-lo antes queele crescesse por medo de perder o poder(Cf 2,3-23). Mas, felizmente háanjos bons, possuídos de santa e humilde inveja. Eles cantavam,envolvidos pela luz divina: “glória a Deus nas alturas e paz na terraaos homens por Ele amados”. Lutero, comentando o Cântico de Maria – oMagnificat -, afirmou que a hulmildade de Maria era tal que se Deus lhetirasse a graça de ser a mãe do Messias e a desse a outra mulher, elacantaria seu cântico com o mesmo júbilo, assim: “minha alma engrandeceo Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque Ele olhoupara a humildade de sua serva” e nela – na minha irmã – “realizoumaravilhas”. Os anjos naquela noite proclamaram o amor de Deus por nós,pobres mortais: “paz na terra aos homens por Ele amados”. Foi para elesuma infinita surpresa o mistério da Encarnação pelo qual o DeusInfinito se fez pequeno, abrigando-se sob a tenda de nossa humanidade,em tudo igual a nós, menos no pecado. Os anjos cantaram no céu, deolhos voltados para a terra, com tal vibração, que o céu desceu sobreos pastores envolvendo-os com sua luz.

A luz chegou antes que o canto: era aglória do Senhor que baixara sobre a terra. Logo chegou o canto: “umamultidão do exército celeste cantando a Deus: Glória a Deus nas alturase paz na Terra aos seres humanos por Ele amados”(Lc 2,7-14). Quantomaior o amor, maior a humildade, a capacidade de descer e de se fazerpróximo do outro, fazer nele morada e tornar-se para ele abrigo e fontede paz. Ao “sereis como deuses”,- insinuação do maligno – cheios depoder, acima do bem e do mal, Deus, em sua misericórdia, respondefazendo-se pequeno e pobre, “nascido sob a lei”, sujeito à humanacondição. Pelo pecado o ser humano encheu-se de si mesmo, pelo mistérioda encarnação o Filho “esvaziou-se de si mesmo, assumindo a condição deservo” e “humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte e morte deCruz”(Cf. Filip 2,6-8). “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo” e ofez “Senhor” (2,9-10). Qual a lição, a grande lição que devemos tirarde todas essas coisas? Em primeiro lugar, a certeza de que Deus nos amade verdade e se esconde sob os trapos de nossa humanidade.

Não é verdade que às vezes nos sentimoscomo trapos? Em segundo lugar, a alegria de saber que Deus ama o outrotanto quanto a mim, infinitamente. Em terceiro lugar, ter a coragem desair do próprio mundo para chegar até o mundo do outro, paracompreendê-lo e oferecer-lhe uma amizade sincera na igualdade que só oamor pode criar. O desejo de onipotência é o oposto do Deus Onipotente.A onipotência de Deus é força infinita de amor capaz de vencer todas asdistâncias. A soberba enclausura na mais absoluta soliodão e setransforma em ódio. É o inferno. Mas, no Natal o céu desceu àterra.Podemos ser cidadãos do céu. A alegria da Virgem Maria e de seuesposo José, a alegria dos pastores e dos magos vindos de longe, sejaambém sua alegria, brilho do céu no rosto de sua alma! E que seu clarãoilumine sua casa! E que a luz que brilhou sobre os pastores brilhesobre nossa cidade!


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