Era início da manhã. Muito cedo, quando ao entrar no elevador me deparei com o vizinho de cima. Ele já vinha com os olhos fixos na tela do celular quando ouviu o meu “bom dia”. Sem nem levantar a vista respondeu com um grunhido, talvez em um dialeto descodificado do meu vocabulário.
E, em silêncio digital, descemos todos os andares até que, de forma robotizada, o jovem adulto saiu do elevador, obviamente sem nem cumprimentar o porteiro do prédio. Pra que, né? Se existe o WhatsApp.
Bom, esse gesto dentre outros em rodas de amigos e familiares, me faz refletir e perceber que, além das pessoas já não saberem mais falar e se expressar pessoalmente, há uma dificuldade imensa e até mesmo uma certa falta de interesse em conversar naturalmente e se socializar. E os que tentam trazem a mesma prática e velocidade do mundo virtual para o real.
Com respostas prontas e monossilábicas, trocam de assunto no mesmo ritmo dos “ likes” no Instagram. Sem sequer prestar atenção ao diálogo, nas respostas e muito menos na pessoa ao vivo e em cores na sua frente. Nem o chefe escapa, quando o colaborador interage mais com a foto do prato de comida do self service, do que com a realidade. Um perfil de descaso.
Enfim, presos na rede, não se sentem confortáveis sem uma tela luminosa no meio. Como diz o Papa Francisco, estão expostos ao fenômeno dos «eremitas sociais», correndo o risco de se alhear totalmente da sociedade. Algo errado não está certo.
Mesmo com tantos aplicativos e meios que nos levam a uma gama de informações rápida e ampla, na qual conseguimos nos comunicar e resolver assuntos com pessoas do outro lado do mundo e a qualquer hora, o que não é ruim, existe um abismo em relação ao diálogo. Além dele ficar sozinho no fundo do poço da comunicação, boia sem conteúdo nas “lives” da vida.
Deixamos cada vez mais de lado a prática do diálogo cara a cara. Já nem sabemos mais olhar nos olhos do outro, sem falar na escassez de palavras, não sabendo definir exatamente as emoções. E o pior, é que, atualmente, como vício de linguagem, uma só palavra tem o poder de definir tudo, tanto para momentos “top” como de desolação. É fooorte!!!
Oração, empatia e não “ninguénear” as pessoas seriam ótimas práticas para tentar se ressocializar.
Oração? Sim! Nada melhor que um encontro com o amigo Jesus. Onde nos dirigimos a Ele, diretamente de forma íntima e verdadeira, sem o celular ligado é obvio, e no diálogo parar para escutá-Lo. Na oração, existe uma prática diária do diálogo, quando um fala o outro silencia para atentamente escutar.
Já a empatia aparece como um suporte para o diálogo. Se tento entender o outro ou busco sentir o que ele sente de forma concreta, imagine quantas pessoas podemos curtir, ajudar e conversar de forma mais real. Amor e interesse pelo próximo é se colocar no lugar do outro e passar a sair de si. O que sobra menos tempo para as redes sociais e ainda desenvolvo diálogos que podem acrescentar algo em nossa vida.
Essa expressão do Papa Francisco “ninguénear”, se trata de não desprezar o outro ou achar que esse ou aqueles não merecem a minha mínima atenção privando-os de um olhar, um “bom dia” em alto e bom som ou uma atenção especial. Melhor um amigo no peito do que mil no “face”.
Sair do ostracismo e solidão virtual cada vez mais real, não é uma tarefa fácil, porém tentar se abrir para uma conversa mais “raiz” para crescer no diálogo não vai deixar você ,com certeza, uma pessoa alheia e sim mais joinha.
E aí, tá afim de bater um papo comigo?