O evangelho de Lucas 1, 39-56contem o Magnificat de Maria. Cumprem-se as suas palavras: “Todas as geraçõesme chamarão bem-aventurada”, porque Deus, que eleva os humildes, elevou a suahumilde serva.
A assunção é privilégio de Maria pela sua particularíssimaunião com Jesus Cristo, união de corpo e de alma, iniciada com a Anunciação eaprofundada nos anos com participação sempre maior ao mistério de seu filho.
A vida de Maria foi normalíssima: rezava, trabalhava, ia àsinagoga; mas toda ação, toda oração era por ela cumprida em união perfeita comJesus. No calvário, esta união atingiu a culminância no amor, na compaixão, nosofrimento do coração.
Por isso, Deus deu à Maria participação plena naressurreição de Jesus. Outros foram ressuscitados, mas a assunção em alma ecorpo é privilégio exclusivo de Maria: somente o seu corpo foi preservado dacorrupção, como o de Jesus. Na Missa, rezamos: “Tu, o Deus, não quiseste quesofresse a corrupção do sepulcro aquela que gerou o Senhor da vida”.
Contemplamos este mistério, que nos dá muita luz sobre avontade de Deus que quer salvar o homem, alma e corpo. Também Jesus ressuscitouem alma e corpo, mas ele é Deus. Sem a assunção de Maria não teríamosconfirmação de nosso glorioso destino.
Os filósofos gregos tinham intuído que a alma do homemestaria feliz depois da morte, mas desprezavam o corpo (Platão o considerava ocárcere da alma) e não podiam, com a razão somente, atingir e pensar que Deusquisesse que também o corpo do homem, depois da morte, fosse unido à alma nabem-aventurança celeste: isso é revelação.
O mistério da Assunção confirma a unidade do ser do homem enos recorda que devemos servir e glorificar a Deus com todo o nosso ser, alma ecorpo. Servi-lo somente com o corpo seria como escravos, servi-lo somente comnossa alma estaria em contradição com a natureza humana. “Glória de Deus, dizsanto Irineu, é o homem vivente”. Se tivermos vivido assim, no feliz serviço deDeus, também a nossa carne no dia da ressurreição será semelhante àquela danossa mãe puríssima. “A pureza que dá ao corpo a dignidade do espírito e quemereceu a Maria de trazer em si Cristo Jesus, será a que a nós merecerárealizar a recomendação de São Paulo: ”Glorificai portanto a Deus no vossocorpo” e de glorificá-lo para sempre no céu (Paulo VI).
“A Mãe de Jesus, tal como está nos céus já glorificada decorpo e alma, é a imagem e o começo da Igreja como deverá ser consumada notempo futuro. Assim também brilha aqui na terra como sinal da esperança segurae do conforto para o povo de Deus em peregrinação, até que chegue o dia do Senhor”(Concílio Vaticano II, Lúmen Gentium 68).
Em todas as outras festas nós contemplamos Maria como sinaldo que a Igreja deve ser; na festa de hoje, a contemplamos como sinal do que aIgreja será. Maria é o mais claro exemplo e a demonstração da verdade dapalavra da Escritura: “Se participamos dos seus sofrimentos, participaremostambém da sua glória” (Romanos 8,17).
Ninguém sofreu “com Cristo” mais que Maria e por isso,ninguém é mais glorificado com Cristo que Maria.
Há uma glória de Maria que podemos ver com nossos olhos jáaqui na terra. Qual criatura humana foi mais amada e invocada, na alegria, nador e no pranto, qual nome aflora mais vezes do que o seu nos lábios dascriaturas humanas? E não é isso glória? A qual criatura, depois de Cristo, têm oshomens elevado mais orações e hinos, nas catedrais? Qual vulto, mais do que oseu, procuraram reproduzir na arte? “Todas as gerações me chamarãobem-aventurada”, disse Maria de si, ou melhor, disse dela o Espírito Santo, evinte séculos são passados a demonstrar que foi verdadeira profecia.
A glória de Deus é Deus mesmo, enquanto o seu ser é luz,beleza e esplendor e, sobretudo amor. Gloria é o esplendor pleno de poder queemana, como eflúvio, do ser de Deus. A glória de Maria consiste na participaçãoda glória de Deus, em ser envolvida por ela, e ser habitada nela.