Certa vez eu conversava com um aluno sobre a vida, os filósofos, os líderes religiosos e a atuação das diversas religiões e crenças espalhadas pelo mundo ao longo dos milênios. Ele me falava que não acreditava em nenhum deus em específico, nem tinha certeza que os milagres da narrativa cristã eram reais; na verdade, me dizia que se fossem, não mudaria muita coisa na vida dele. Caso os milagres fossem verdadeiros, seriam apenas mais um dado no mundo que não mudaria, por certo, todos os problemas que o rodeiam.
Talvez, ao escutar isso, o leitor, assim como eu, tenha dado um gole em seco e se espantado com o aparente nível de indiferença religiosa presente na sociedade. Entretanto, perceba que eu não estava conversando com um inimigo, e aquela conversa não se tratava de um duelo de argumentos para destilar conhecimentos e frases feitas para alguém sentir o gosto da vitória e de calar o outro por falta de argumentos. Não. Tratava-se de uma conversa honesta, onde os dois interlocutores estavam abertos a acolher o que o outro iria dizer.
Para minha surpresa, no meio da aparente indiferença, meu aluno me disse que dentre todas as religiões do mundo, Cristo resumia perfeitamente a junção de todos os aspectos bons que essas crenças traziam em si. Alguns desses aspectos eram: a vivência da moral e dos bons costumes, o desapego aos bens materiais, a vivência pacífica consigo mesmo, com os outros e com a criação; o entendimento positivo da sexualidade, entre outros pontos que felizmente estávamos de acordo.
Enquanto conversávamos, não foi do meu interesse convencê-lo a converter-se à Igreja Católica, provando por A + B que aqui sim era o seu lugar. Com paciência, lembrei das palavras de São João Paulo II:
“[…] As «sementes de verdade», presentes e operantes nas diversas tradições religiosas, são um reflexo do único Verbo de Deus, «que a todo o homem ilumina» (cf. Jo 1, 9) e que Se fez carne em Cristo Jesus (cf. Jo 1, 14). Elas são ao mesmo tempo «efeito do Espírito da verdade, operante para além dos confins visíveis do Corpo Místico», e que «sopra onde quer» (Jo 3, 8) (cf. Redemptor hominis, 6 e 12)![1]”.
Foi neste eco da voz de São João Paulo II que continuamos a conversar, e quando menos esperava, me deparei com dois homens, um abertamente católico e outro abertamente gnóstico, falando com o coração inflamado de louvor sobre a bondade de Deus manifestada no coração da humanidade.
Essa história não terminará com a cena mais esperada de quem evangeliza: um momento de oração, um convite para algum evento e a conversão de um gnóstico para a Igreja. Ela termina na região cinzenta dos fatos, no processo paciente de apresentação da pessoa de Cristo que se estende em um relacionamento de amizade e que submete a história daquela pessoa à divina providência que levará os homens ao único Verbo de Deus.
Ao final, ganhei um amigo. Ganhei um terreno fecundo para lançar as Sementes da Verdade.
[1] http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/audiences/1998/documents/hf_jp-ii_aud_09091998.pdf