Quando me pediram para dar testemunho sobre o que foi o Congresso de Jovens Shalom (CJS), fiquei pensando em muitas coisas que poderia falar do agir de Deus, mas percebi que não tinha como eu falar de como me senti, sem antes falar do testemunho da minha vida e de como eu estava. Afinal, aconteceram muitas coisas e o aprendizado foi grande e muito forte.
vamos lá…
A vida de Lorena e serviço à Igreja
Meu nome é Lorena, mas meus amigos me chamam carinhosamente de Poly. Sempre fui uma menina de muitos amigos, rodeada de uma galera, e desde pequena sempre tentei me esforçar ao máximo para conseguir realizar os meus sonhos. Vim de uma família simples, mas muito de Deus. Com pessoas boas e que me amam apesar de tantas dificuldades de relacionamento e feridas. Tive em minha adolescência muitas experiências dolorosas que foram me machucando pouco a pouco principalmente com as baladas, bebidas ao extremo, “amigos” e situações que o mundo nos oferece momentaneamente, mas que não preenchem o nosso vazio por completo, ao contrário, só nos distância do amor, da verdade, da nossa essência e vão nos ferindo e traumatizando de pouquinho em pouquinho.
Comecei a trabalhar cedo e tinha muita vontade de ser independente, ter as minhas coisas, ter uma história diferente da dos meus pais, crescer e me realizar em várias áreas da minha vida. Tive minha experiência com Deus muito cedo e, por mais que passei por essas situações conhecidas como ” jovem em cima do muro”, sempre fui motivada a estar na presença de Deus. O plano de salvação que Deus tinha para a minha vida começou cedo e eu dei trabalho para Jesus, mas ele não desistiu e não desiste de mim. Ele me deu tudo o que eu queria e me ajudou nas minhas escolhas.
Durante a minha caminhada com Deus, Ele me confiou o ministério de música, capacitou na oração, pregação, palavra, ciência e libertação, confiou a mim a coordenação de um grupo de jovens do ministério de Evangelização, ao qual me dediquei muito e que me causou extrema alegria e aprendizado, apesar de ser jovem e com pouca experiência. Até então, vivia uma vida ativa e acelerada, por que eram muitas coisas a me dedicar como, família, Igreja, trabalho, faculdade, amigos, muitas coisas ao mesmo tempo, mas, mesmo assim, com o sustento de Deus.
O falecimento que marcou sua história
Até que tudo mudou completamente em julho de 2014, quando aconteceu a maior dor da minha vida e também a minha maior prova de fé, o assassinato do meu pai. Meu pai era um senhor maravilhoso, muito humilde, de pouco estudo, mas era um bom pai e nunca nos deixou faltar nada. Meio “bicho do mato” em razão de sua criação simples e sofrida, mas ao mesmo tempo uma pessoa alegre e honesta. Meu maior exemplo de caráter tinha ido embora sem merecer, parecia que um pedaço de toda a minha esperança cristã tinha ido embora.
Questionei a Deus por dias… Não entendia! Não aceitava… Era difícil. Tive o apoio dos meus amigos durante esse processo, recebi a visita de muitos, mensagens de apoio; todos nós ficamos tristes, para todos foi muito difícil. Mas, a primeira semana se passou… Todos voltaram para seus afazeres e eu me sentia completamente sozinha e perdida. Foi quando tudo se silenciou e a minha ficha caiu, poucos foram as pessoas que continuaram me ajudando no meu processo de perda.
Passei pela negação, pois não queria acreditar que aquilo estava acontecendo justamente comigo, passei pela raiva, raiva de Deus, de mim, por não ter dado mais amor enquanto podia; passei pela tristeza profunda de não querer mais ter sonhos na vida e servir. Meu coração estava tão atordoado por vários sentimentos que eu dizia para Deus que ele não era justo e que tudo o que eu já tinha vivido na caminhada não tinha adiantado nada.
Com o tempo fui ficando cada vez mais desgastada com tudo e, após essa perda, outras aconteceram no mesmo ano, o que piorou o meu estado físico e emocional. Veio a insônia, perda de peso, sentimentos de inferioridade, sentimento de abandono e várias coisas que me deixaram abatida. Sempre me vi independe, forte, pronta para lidar com situações difíceis e de repente me deparo com uma garota fragilizada, fraca, vazia e entregue.
A desolação e perda de sentido
Mesmo estando inserida e sabendo do amor que Deus tinha por mim, vi-me sem forças, perdida, por simplesmente não permitir que Deus cuidasse de mim e por não saber viver o meu deserto. Eu cuidava de muitos jovens, muitas situações…E eis a questão. Como que uma pessoa com a minha história de vida se deixa ser cuidada? Sempre independente, tomando as rédeas, resolvendo os problemas de tudo e de todos. Difícil deixar ser cuidada, difícil parar para ser amada, para descansar nos braços de Deus. Vieram muitas dificuldades, porém como eu disse lá atrás … Deus tinha e tem um plano de Salvação muito grande para minha vida. Entrei no ministério de música do grupo de oração da RCC, minha antiga comunidade, e este me ajudou a seguir, junto com o ministério de evangelização de jovens. Porém, mesmo assim ainda havia algo que precisava ser curado em mim, era como se eu estivesse ali mas não como antes, era como se faltasse ardor na oração e sentido para minha vida. Me esquivava de Jesus, mesmo servindo-o.
Eu estava ali presente, fazendo o bem, cuidando dos outros, mas não tinha dado a abertura para Deus cuidar de mim. Foi então que de repente Deus mudou tudo de novo, ele mexeu em todas as áreas da minha vida de uma vez, tudo o que um dia eu achava que tinha de sólido se desfez. Na casa, que é a minha vida, ele não consertou telhados, encanação e detalhes não. Deus chegou e quebrou paredes, jogou tudo no chão para reconstruir de novo. Logo acabou meu tempo de coordenação no ministério em que eu atuava , fui morar em outra cidade e comecei a enxergar a construção dessa nova casa, essa nova pessoa que Deus estava moldando em mim. Jesus me alcançando pela sua misericórdia!
A graça de Deus
Fiz um retiro chamado Liberdade Interior, na Comunidade Católica Shalom, e neste fui curada de muitas coisas e foi onde me reconciliei totalmente com Deus, abri de verdade meu coração para entender os processos pelos quais passei e, assim, percebi o quanto Deus me amou e tentou cuidar de mim durante todo esse tempo. Deus me capacitou com uma força que sozinha eu jamais iria conseguir. Se não fosse por sua misericórdia, não sei por onde eu estaria, como minha fé estaria.
Estar no CJS neste final de semana para mim, foi uma experiência que revolucionou a minha vida e todas as minhas vontades. De tudo o que eu já tinha vivido como Igreja durante vários anos da minha vida, nada foi tão concreto como este retiro.
Se antes eu achava que eu era uma pessoa de Deus, agora me sinto toda de Deus. Percebo o quanto o carisma está no meu coração, o quanto o caminho da paz tem me ajudado a ser melhor e me ajudado com a vida de oração. É como se antes tudo o que vivi tivesse me apresentado quem era Deus, e agora neste encontro Deus verdadeiramente me carimbou como sua filha, concretizou no meu coração o desejo de alcançar de verdade e sem medo a sua vontade. Me fez entender que eu vim para deixar uma marca, e que essa marca é a do amor, a marca de Cristo, cujo nome é misericórdia.
Santa Terezinha do Menino Jesus disse que “Quem ama não sabe calcular” . Por isso um coração inflamado de amor tudo realiza e a tudo se dispõe. Nós nascemos de uma oferta de vida e por muitas vezes pelas consequências de nossos sofrimentos e nossas escolhas, nos tornamos enrijecidos pelo pecado, paralisados pelo medo e não deixamos Deus nos sustentar através da sua misericórdia.
“Não há santo sem passado e não há um pecador sem futuro” – Papa Francisco
Hoje começa uma nova história da minha vida e todas as coisas que Deus permitiu eu viver me serviram para lembrar a todo momento da sua misericórdia. Em meio às tantas possibilidades, Deus quis me manter por perto e quis me honrar por todo sofrimento. Por amor a mim ele quis cuidar do meu coração, quis me mostrar que de tudo o que eu pude construir na vida, nada chega a ser mais concreto e feliz do que a vontade dEle para mim.
Fui “Misericordiada” por Deus.
Agora é preciso ir e “misericórdiar”.
Lorena, participante do Congresso de Jovens Shalom de 2016.