A vida é o magnífico dom que brota abundantemente das mãos do Criador. Diante da vida humana nos sentimos maravilhados. “Que maravilha sou eu, Senhor!” .
Hoje, 8 de outubro, celebramos o Dia do Nascituro, instituído pela CNBB em 2005, quando em sua 43ª Assembléia Geral instituiu também a “Semana Nacional da Vida’. Tal decisão brotou das reflexões contidas na “Declaração sobre exigências éticas em defesa da vida”. Teçamos, brevemente, algumas considerações que sustentam esta postura da Igreja e de diversos organismos que comungam com a visão eclesial sobre a vida humana.
O sopro criador de que trata o livro do Gênesis insuflou no homem a vitalidade e deu-lhe as primeiras luzes de consciência. A Criação do homem e da mulher evoca um profundo e solene respeito para com o mistério da vida.
Por isso, a vida tem a sua indiscutível sacralidade. Pertence a Deus Criador. De suas mãos benevolentes foi dada e para o seu seio de amor retornará.
A sacralidade da vida humana nos impele à defesa de sua inviolabilidade.
Professamos a fé e a certeza de que, desde a concepção, a vida já é completa. O que ocorre, a partir daí, é o processo de crescimento e de desenvolvimento que se inicia no ventre materno e conclui-se, na terra, com a morte biológica. O ser humano é vivente desde a formação intra-uterina. A ciência afirma que a partir do encontro entre o óvulo e o espermatozóide o ser já é formado por inteiro, seja com uma célula apenas, ou com mais de quatro trilhões de células quando alcança a vida adulta. O ser humano traz, desde então, insofismavelmente, o seu patrimônio genético. Portanto, é o ser total, é a pessoa inteira que é concebida na união vital entre homem e mulher, um dos símbolos do mistério mais fundamental do imenso amor de Deus que tudo une, tudo vivifica, tudo santifica.
Celebrar o Dia do Nascituro não é apenas movimentar uma campanha contrária ao aborto. Trata-se, sobretudo, de um amplo movimento em favor da dignidade de todo ser humano, em todas as suas fases de vida. É uma manifestação de amor e de cuidado para o a vida humana. A Igreja anuncia, celebra e testemunha o Evangelho da Vida. Afinal, Jesus veio ao mundo para nos dar a vida em abundância e para nos salvar (Jo 10,10). Mesmo sofrendo alguma crítica, como fiel depositária da missão do próprio Cristo, continuará a ser uma voz profética em defesa da inviolabilidade da vida humana, desde a concepção até o ocaso. Tudo o que atenta contra a dignidade da vida humana merecerá uma grande atenção, já que, a exemplo de Jesus, Mestre e Senhor da Igreja, a ela cabe o cuidado com os meios que garantam a vida abundante e plena para todos.
A Vida pertence ao seu Criador. Não compete ao homem colocar nela algum limite. Assim, todas as pessoas que professam a fé nos princípios teológicos, filosóficos e biológicos que sustentam o caráter sagrado da vida humana, devem se sentir permanentemente convocadas para o grande movimento em defesa da vida. Pois ela não pode ser banalizada. Deve, sim, ser cuidada, zelada como o maior dos dons, como o mais precioso dos presentes com que Deus nos agraciou.
O trabalho pela afirmação da dignidade da vida humana vai além desse tempo especial no calendário do mês de outubro. Deve ser algo constante. É preciso envidar esforços, eclesiais e sociais, em vista da vida e de sua qualidade para todos. Por isso a pontual defesa da sacralidade da vida do nascituro deve se estender à ampla movimentação por uma vida digna, pelo respeito à ecologia, pelo atendimento às necessidades públicas no campo da saúde e outras urgências, pelo cuidado para com os mais pobres. Lemos na Carta Encíclica Evangelium Vitae (nº 28): “Também para nós, ressoa claro e forte o convite de Moisés: “Vê, ofereço-te hoje, de um lado, a vida e o bem; do outro, a morte e o mal. (…) Coloco diante de ti a vida e a morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua posteridade” (Dt 30, 15.19).
*Dom Washington Cruz é arcebispo Metropolitano de Goiânia
Fonte:CNBB